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Sebastião Henrique Rodrigues Gomes

Consultor em gestão estratégica

Op-AA-40

Dois negócios vitais: alimento e energia

Quando me perguntam por que eu acredito tanto no setor sucroenergético brasileiro, respondo prontamente: Porque produz alimento e energia renovável, itens extremamente necessários para a humanidade, logo, não tem como dar errado.

Quando me perguntam por que esse setor está sempre reclamando da situação, aí eu recorro à minha "bagagem"  de 42 anos como diretor de grandes usinas para afirmar que os empresários do setor precisam “acordar” e passar por uma realidade inevitável: a de promover uma mudança de atitude e assumir que o negócio é viável, mas requer um bom planejamento e ser conduzido por uma gestão de qualidade, transparência e confiabilidade – fatores que o mercado realmente valoriza e de que carece.

O modelo das décadas anteriores foi conduzido com acertos e erros, e conseguiu sobreviver e amadurecer, mas, agora, é preciso se reinventar e ter nova  identidade, e não ficar esperando que as políticas públicas sejam a “tábua da salvação”, até porque como é que se pode acreditar num governo que, na campanha eleitoral, prometeu reduzir a carga tributária, mas a sobe a cada ano; prometeu acabar com a corrupção, mas os escândalos são  cada vez mais assustadores; prometeu promover o crescimento do País, e só andou para trás; prometeu combater a inflação, e estamos numa onda que não sabemos aonde vai dar; prometeu proteger as empresas estatais da privatização, e está quebrando todas; prometeu maior segurança, e o que vemos é uma verdadeira guerrilha sem impunidade, porque ele próprio desmoralizou os poderes deste País; prometeu investir em saúde e educação, e, na prática, vemos um retrocesso sem igual.

Então, não dá para ficar esperando. É bem verdade que esse setor depende de algumas variáveis incontroláveis, mas plantar cana numa distância menor de 50 quilômetros do local de processamento é uma variável controlável; conseguir maiores índices de produtividade e eficiência nos canaviais e na indústria é um trabalho que muitos já fazem, com bons resultados; e já passa da hora de se fomentar a multiplicação desses pontos positivos, como estes exemplos, todavia, é preciso que se faça uma seleção dos empreendimentos, e os que não apresentarem viabilidade, que sejam descontinuados.

É um desafio e tanto, por que o setor é individualizado e a situação requer um modelo corporativo, afinal, por que o Brasil, sendo o maior produtor de açúcar, não consegue equilibrar o balanço entre oferta e demanda? Por que, ao longo do tempo, o setor foi se pulverizando, ao invés de se organizar melhor nos aspectos técnicos e mercadológicos?

Por que o setor não se lança na comercialização do etanol mais globalizado, fazendo com que os combustíveis E85 e E25 sejam padronizados nas Américas e em outras regiões, interagindo com outros combustíveis disponibilizados para motores que, por questões técnicas, funcionem exclusivamente com a gasolina, o diesel, o GNV, etc.

Essa iniciativa deve partir do setor e requer como atitude se organizar e mudar de “coadjuvante” para “concorrente”, quando o jogo passa a ser pesado. Pode-se dizer que se precisa alterar as legislações; mas não é só: é preciso mudar tudo o que cerca esse segmento para que os resultados melhorem. Continuar como está vai levar todos para um precipício não desejável.

O papel da Unica, que, até então, trabalhou com maestria pelo setor, também tem que ser reinventado, tapinha nas costas não funciona mais e não traz benefício à coletividade. Lembram-se do comentário do governo de que a crise financeira internacional se tratava de uma “marolinha”? Pois bem, há muitas empresas boiando até hoje. Essas terminologias foram e estão sendo utilizadas para  isentar-se de culpa, quando, na verdade, são subterfúgios para encobrir problemas bem mais sérios que prejudicam nosso País.

As indústrias estão sofrendo muito e deixaram de ser competitivas. É hora de o setor sucroenergético acreditar em si próprio e ter coragem para transformar as usinas em biorrefinarias, modernizar-se; arregaçar as mangas para consolidar produtos de maior valor agregado, como o etanol celulósico, e de outros derivados.

É preciso ser mais agressivo no marketing ambiental: atualmente há fatos concretos de alteração no clima, principalmente pela queima de combustível fóssil, e o setor está inerte, quando deveria capitalizar muito mais,  conscientizando o mundo do benefício de usar energia renovável. Isso é sair da zona de conforto. É mister fazê-lo.

Não defendo o isolamento do governo, pelo contrário, ele deverá sempre ser o grande parceiro, mas não o mandatário. Há muito cinismo nesse tipo de relação, e ele, regra geral, não faz a parte dele. Um regime democrático é bom quando há disciplina na sua condução, e podemos exigir isso dos nossos políticos e governantes, afinal, somos nós que pagamos os seus salários, e, como tal, esse recurso deveria apresentar retorno positivo.

O grande inimigo do setor nos parece ser ele próprio, que posterga atitudes, permanecendo passivo; quando, nos tempos de empolgação, acabou dando passos maiores que as pernas. Entretanto o sucesso não está somente no ato de vencer sempre, mas, sim, na arte de reerguer-se e de ainda ter forças para persistir na busca da vitória.