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Miguel Rubens Tranin

Presidente da Alcopar

Op-AA-57

Mudanças inquietantes nos impõem desafios
Diante da realidade atual do setor sucroenergético, que passa por inúmeros desafios, o momento de dificuldades e incertezas deve ser aproveitado naturalmente como um importante aprendizado, do qual extrairemos as lições e as experiências para chegarmos a um ambiente mais estável. 
 
A constância do aprender e do reaprender faz parte do nosso dia a dia; reciclar conhecimentos e buscar soluções e inovações sustentáveis, também. De toda forma, é inquietante a mudança que se observa pelo mundo, com a onda verde, buscando-se, de energias alternativas, algo que, com certeza, nos levará a uma transformação muito significativa nos próximos anos.  A nosso ver, será uma mudança adequada a cada região do planeta e das peculiaridades de cada país.
 
Híbrido flex: No Brasil, que possui uma indústria automobilística de base, há de se pensar nos impactos sociais e econômicos que serão provocados por esses novos tempos. Mas aqui, em especial, se vislumbra uma grande oportunidade, por se contar com um combustível renovável e um parque industrial estruturado. Referimo-nos ao veículo híbrido flex, que consome etanol com baixíssima emissão. 
 
Experiências têm demonstrado que esse veículo a etanol emite cerca de um terço a menos de gramas de gás carbônico equivalente/quilômetro do que um veículo elétrico europeu (considerando a fonte de energia elétrica na UE). Nosso híbrido flex revela-se ainda mais econômico, sendo que a indústria nacional detentora dessa tecnologia poderá, assim, não apenas ter prosseguimento, como também incrementar a sua atividade.

Especialistas projetam um grande potencial para essa opção tecnológica até, pelo menos, 2040, quando, segundo eles, a tecnologia/fator custo-benefício dos veículos elétricos com fonte na energia solar vai passar a dominar o mercado, principalmente pela sua eficiência.         
                                    
No entanto, quando falamos em energia elétrica no Brasil, a certeza é de que será necessário investir muito em geração e em transmissão, uma vez que continuamos ainda no limite do risco de apagões, em especial se houver um ciclo de crescimento do País. 
Considerando que apenas vinte anos nos separam dessa realidade, não temos ainda uma resposta quando nos perguntamos: qual o horizonte de investimentos nesse prazo?
 
Renovabio: Por outro lado, contamos, no Brasil, com um programa que é fruto de uma grande união nacional pelos biocombustíveis, setores sucroenergéticos e de biodiesel, que se soma ao trabalho do Ministério das Minas e Energia, Empresa de Pesquisa Energética e Agência Nacional de Petróleo e Gás. Trata-se do RenovaBio, que, se receber incentivos e a esperada continuidade na sua implantação, poderá reduzir ou eliminar a dependência governamental, por meio da comercialização dos CBios . 
 
Etanol de milho: Nesse cenário, o etanol de cana-de-açúcar enfrenta também o desafio trazido pelo etanol de milho, que, se antes era uma realidade apenas nos EUA, agora já se transformou em um concorrente no mercado brasileiro, onde passou também a ser produzido em escala. 
 
Estima-se que, nos próximos dois anos, o volume de produção no Brasil já atinja 4 bilhões de litros, potencializado pelo aproveitamento de subprodutos resultantes da fermentação. É o caso do óleo de milho e do DDGS (Distillers Dried Grain with Solubles – grãos de destilaria secos com solúveis) e também do WDG (Wet Destillers Grain – grãos de destilaria úmidos), destinados à nutrição animal (aves, suínos e bovinos). 
 
A demanda por esses produtos tem crescido a cada dia, com valores de mercado já superiores ao preço do milho em grão. Outro atrativo é o seu modelo industrial de microdestilarias, adequadas a menores áreas e com integração à pecuária, lembrando que um dos diferenciais do DDGS é possuir três vezes mais proteína e pesar um terço do peso do milho.     
                                    
Açucar: Não podemos deixar de mencionar, nesse panorama de mudanças, a demonização que se faz do açúcar, por parte de alguns segmentos, sendo o produto propagado como o vilão pela obesidade, com recomendação de redução de consumo inclusive por parte da OMS (Organização Mundial de Saúde).  
 
É preciso ter a consciência de que a causa real da obesidade em alguns países – notadamente os Estados Unidos – reside na alimentação desregrada, com excesso de calorias, e não apenas em um determinado alimento. De toda maneira, isso vai requerer um grande empenho e investimento em conscientização para que possamos atenuar a sistemática propaganda negativa sobre o açúcar. Acrescente-se a isso o fato de que o aumento da produção mundial de açúcar, notadamente nos países onde há concessão de subsídios, tem pressionado sobremaneira os preços das commodities. 
 
Lavouras: No campo, perdemos muito em relação à produtividade das lavouras com a proibição da queima e a mecanização da colheita, ocasionando compactação, o que se soma ao uso de variedades não adequadas e ao surgimento de pragas e doenças que reduzem drasticamente o tempo de renovação dos canaviais, fatores esses que vêm afetando seriamente as margens do setor. 
 
Uma das providências mais urgentes, portanto, é a recuperação da produtividade, uma necessidade praticamente comum em todos os estados produtores, principalmente no Paraná, onde a queda nos últimos anos tem sido grande. O cuidado pela qualidade de variedades melhoradas, adequadas à mecanização, bem como mudas saudáveis, está no radar dos investimentos nessa área.   
 
Muito a desenvolver: Por fim, vale frisar que é preciso pensar em produtos alternativos, com maior valor agregado, atrelado ao crescimento mundial da demanda por produtos renováveis e recicláveis. Os desafios estão aí, o setor tem muito a se desenvolver nessa área na qual, sem dúvida, caminharemos para construir tempos mais promissores.