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Carlos Eduardo de Araujo

Conultor de Planejamento e Custos da PRX

Op-AA-20

Por onde anda a governança corporativa?

A governança corporativa ganhou maior relevância a partir do surgimento da crise de confiança (2002), gerada pelas fraudes encontradas nos balanços da Enron e Wordcom. Seus conselhos de administração foram questionados sobre suas responsabilidades. Em função da crise atual, novamente, a governança corporativa está sendo discutida.

Ela diz respeito aos sistemas de controle e monitoramento estabelecidos pelos acionistas controladores de uma empresa, de tal modo que os administradores tomem suas decisões sobre a alocação dos recursos, de acordo com o interesse dos acionistas. Há pouco, um diretor executivo foi acusado de má gestão, devido a operações cambiais no mercado futuro, que levou a empresa a uma perda de milhões de dólares.

Por outro lado, foi substituído um presidente de um banco público, porque se recusou a reduzir a taxa de juros e seus spreads bancários. Já o novo presidente comprometeu-se, através de um contrato de gestão, a aumentar o market share; ampliar a carteira de crédito e a agressividade com relação à concorrência.

Para atingir estes objetivos, será necessário reduzir a taxa de juros, reduzir spread, tomar mais risco em relação à queda da qualidade do crédito e, possivelmente, haverá um aumento na inadimplência. Isto significa redução na rentabilidade do banco e, consequentemente, uma queda nos dividendos dos acionistas. Talvez, possa nascer o nosso subprime tupiniquim.

Os fatos descritos ocorreram em duas grandes empresas, que se orgulham de seguir a governança corporativa. Por um lado, as empresas utilizam-se deste instrumento de transparência junto ao mercado para se apresentarem entre as maiores e melhores, por outro lado seus conselheiros não assumem as responsabilidades sobre os atos e fatos dos executivos.

As transformações ocorridas na última década no setor sucroalcooleiro, no qual o governo definia o preço e a quantidade do açúcar e do álcool a ser produzido na safra, geraram profundas mudanças e têm exigido uma grande alteração cultural. Agora, o preço é ditado pelo mercado, exigindo maiores eficiência e eficácia operacionais. Além disto, tem ocorrido uma grande transformação societária nas usinas, em função do elevado número de fusões e aquisições.

Estes grupos empresariais ou fundos de pensão necessitam de uma maior qualidade das informações e devem seguir normas rígidas quanto à gestão dos negócios. Com o capital estrangeiro investindo no setor e uma crise de crédito mundial, sem precedentes, é imprescindível buscar um novo modelo de gestão para o agronegócio, dividindo, efetivamente, propriedade e gestão e caminhando para uma ativa profissionalização, na qual a governança corporativa e seus participantes, tais como o conselho de acionistas, conselho de administração, diretores, auditores externos e funcionários deverão se comprometer com os resultados, otimizando os valores aplicados na empresa.

Neste novo cenário, cabe aos acionistas majoritários definir um modelo de governança corporativa e, dentro deste, determinar um modelo de gestão que deverá ser seguido à risca, conforme um comandante de um Boing 777 faz em seu procedimento de vôo. A governança corporativa nada mais é que um modelo de gestão que busca atender ao processo de gestão organizacional, tornando-se essencial para qualquer empresa, principalmente no setor sucroalcooleiro, que é um mercado de commodities e com margens extremamente baixas e/ou negativas na conjuntura atual.

A interação do modelo de gestão e da cultura organizacional é fundamental para o nível de eficácia obtido nas atividades desenvolvidas na empresa, pois é o principal orientador da forma como as coisas devem acontecer. O modelo de gestão ideal, a ser apresentado, permite determinar, em linhas macros, a forma de gestão que a empresa vai ser administrada, em função das características do negócio.

O modelo que pode ser adotado é compreender a empresa através de um enfoque sistêmico, que transforma insumos em produtos com valor agregado. Este modelo é de essencial importância à integração das áreas agrícolas, industriais, comerciais e sua administração. Um fator relevante para a compreensão deste processo de gestão é o conhecimento da cultura organizacional, que devem assegurar que os objetivos serão alcançados e os riscos minimizados, tendo em vista sua eficácia e eficiência.

O modelo de gestão inclui o processo de tomada de decisão, fundamentado no Planejamento, Execução e Controle, para a maximização dos resultados operacionais, financeiros e econômicos. Ao conselho de administração, cabe definir e acompanhar suas estratégias, sua operacionalização e os riscos a serem tomados e um efetivo acompanhamento de como a empresa está caminhando e subsidiar os tomadores de decisão para que atinjam os objetivos definidos.

É de fundamental importância que os executivos tomadores de decisões tenham em suas cabeças o modelo de gestão e seus principais pontos, como:

• Garantir que os tomadores de decisão da empresa tenham uma percepção clara do modelo de gestão, suas responsabilidades na tomada de decisão e os impactos das decisões tomadas no resultado da empresa;
• Informar os responsáveis operacionais sobre o processo de gestão e seus fins, e
• Formar os futuros controladores de gestão, a fim de que participem na implementação do modelo de gestão e os gerentes operacionais saibam utilizá-los da melhor forma possível.

O momento é raro e pode ser utilizado para o desenvolvimento das boas práticas de gestão, dentro das normas regulatórias da CVM, entre outros órgãos reguladores; e, acima de tudo, uma maior proteção aos investidores. Desta maneira, a Gestão Corporativa deverá ser um efetivo instrumento de gestão, garantindo a transparência e a credibilidade que o mercado precisa, na busca de seu crescimento contínuo.