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Pedro Isamu Mizutani

Presidente da Cosan - Açúcar e Álcool

Op-AA-26

Reconhecimento global para o etanol

Em 1936, tínhamos uma única usina na cidade de Piracicaba que moía em torno de quatro milhões de toneladas. Hoje a Cosan é composta de 23 usinas, e neste ano devemos moer em torno de 60 milhões de toneladas de cana. A Cosan tem uma história de pionerismo. Foi a primeira usina a trazer uma parceira internacional, a inglesa Tate & Lyle, participando do terminal do Porto de Santos.

Logo em seguida, foi estabelecida uma parceria com os grupos Tereos e Sucden. Fomos pioneiros também no lançamento de bônus e ações nas bolsas de valores de São Paulo e Nova York, e dos bônus perpétuos. Fomos pioneiros na integração de toda a cadeia, desde a produção até a entrega dos nossos produtos ao consumidor final, com a aquisição da Esso.

E, recentemente, com o acordo vinculante com a Shell, formamos uma das maiores empresas do País, com o valor de mercado em torno de R$ 20 bilhões e uma estimativa de faturamento em torno de R$ 50 bilhões/ano. O grupo é formado por cinco pilares empresariais.

A Radar, que tem como responsabilidade a administração de propriedades agrícolas; a Rumo, que administra o sistema multimodal de transporte, armazenagem e embarque; a Cosan Combustíveis e Lubrificantes, que administra os ativos da Esso; a Cosan Açúcar e Álcool, que administra as usinas e destilarias e, por último, a Cosan Alimentos, que é responsável pela comercialização dos produtos Da Barra e União.

Temos por costume considerar nossas empresas organizadas como indústrias, mas o grande valor do negócio sucroalcooleiro está na agricultura: 75% do nosso orçamento é dirigido para a área agrícola. O açúcar, como dizia o nosso Werther Annicchino, é feito no campo. A indústria é uma mera ferramenta de transformação do açúcar e do etanol em produto final.

A tendência da agricultura está mudando muito. Temos que pensar em agricultura sustentável, tecnologia de precisão e diversificação de profissionais. Hoje nos utilizamos de programas associados a imagens de satélite, sistemas de informação inteligente, controle de tráfego, dentre muitos outros. Como administrar 800 mil hectares de área cultivada sem utilizar ferramentas de última geração?

Trata-se de um imenso mar de cana. Pelas imagens de satélites, conseguimos georreferenciar cada talhão de cada fazenda, alimentar os bancos de dados e detalhar informações, acompanhar o desenvolvimento, detectar falhas no canavial ou problemas de várias naturezas numa determinada e específica região da lavoura e tomar atitudes a tempo de corrigilas.

Podemos estimar até a quantidade de cana que vai ser produzida no talhão. É assim, através dessa agricultura de precisão, através dessa tecnologia, que administramos nossa lavoura nos dias de hoje. A agricultura avança, a cada dia, nesse sentido. Temos também o sistema de desenvolvimento de informações inteligentes.

Antigamente, a agricultura só tinha que ter um agrônomo. Era plantar a cana, vê-la desenvolver-se e colhê-la. Hoje não é só isso. Temos engenheiros de produção, engenheiros mecânicos, engenheiros químicos na agricultura também, pois dificilmente se consegue fazer um sistema de colheita de cana sem otimizar as funções.

Utilizamos os engenheiros e os processos de programação linear para fazer a reforma de lavoura de cana, plantio e colheita mecanizada. A Cosan saiu na frente. Hoje muitas empresas estão também nesse mesmo caminho. Atualmente agricultura não é só agronomia.

É todo um sistema de automação administrado pelo Centro de Operação Agrícola, em que todos os tratores, todas as colheitadeiras, todos os ônibus são monitorados através de um sistema de GPS, através de sinais de celulares, e as  informações transmitidas são recebidas por uma central, permitindo ações como cálculos avançados de pagamento, administração da segurança, controle de manutenção da frota.

Hoje agricultura é tecnologia pura. No que se refere à sustentabilidade, nós a entendemos  como o equilíbrio entre os interesses no meio ambiente, nas área sociais e econômicas. Antigamente, dava-se apenas importância para as questões econômicas.

Hoje temos que manter um real equilíbrio entre os interesses econômicos, ambientais e sociais. É importante que se observe que não adianta privilegiar apenas as questões sociais ou as  ambientais. Se você não obtiver lucros na companhia, não haverá como sobreviver.

Sustentabilidade é um tema muito debatido na Cosan. Todo o setor  sucroenergético considera essa questão como prioritária. Ainda sobre sustentabilidade, a nosso ver, temos que dedicar atenção a temas como a redução dos estoques de petróleo e a elevação dos custos de sua extração; o aquecimento global; o mito da competitividade alimento versus energia; a escassez da água potável; a busca por alternativas energéticas de emissão de baixo carbono e exigências, cada vez maiores, de critérios sustentáveis.

Até 2030, as emissões brasileiras de CO2 do setor de transporte devem crescer 64%. Observa-se que, sem a utilização dos biocombustíveis, elas cresceriam 149% e que, se pudermos incrementar o uso do etanol acima da atual tendência, poderíamos retê-las  na casa dos 17%. Com relação à competição entre alimentos versus  energia, o crescimento da produção do setor sucroenergético fundamenta-se não na expansão do uso da terra, mas no contínuo ganho de produtividade.

A produção de açúcar aumentou em mais de 50% apenas na última década. A cana-de-açúcar vem aumentando sua produtividade na média de 1,3% ao ano. Com relação à água, esta é uma questão muito séria para o mundo, principalmente nos países desenvolvidos. A China tem 20% da população mundial e produz apenas 3% da água potável, enquanto o Brasil tem 3% da população e tem 20% de toda a água potável do mundo.

Temos instalados circuitos fechados na indústria para a reutilização da água. Antigamente usávamos 5 m3 por tonelada de cana processada. Hoje usamos 2 m3 e vamos chegar a zero. Acredito que entre 5 a 10 anos não vamos utilizar nenhuma água do rio, somente a água que vem da lavoura dentro da própria cana. A Cosan e muitas empresas do setor têm emitido relatórios de sustentabilidade, calculando o footprint de carbono, procurando reduzir e mitigar a emissão de carbono em cada etapa da nossa produção.

Temos vendido álcool para a Sekab, Mitsubishi e Braskem – para fabricação de resina para produção do plástico verde; firmamos um memorando com a Amyris para produzir diesel de cana; investimos diretamente na Fundação Estudar; incentivamos o uso de etanol no transporte coletivo em ônibus-teste em São Paulo; temos participado ativamente do projeto Protocolo Ambiental e do programa de requalificação dos trabalhadores.

Na safra 2009/10, 54% de nossa colheita foi mecanizada. Os principais desafios que temos no setor são adotar os mecanismos que reconheçam o etanol não apenas de forma econômica; reduzir as barreiras internacionais tarifárias e técnicas aplicadas ao açúcar e ao etanol; transformar e consolidar o etanol como uma commodity global; evidenciar e disseminar a importância da agricultura; realizar investimentos maciços e contínuos em pesquisa a fim de desenvolver novas tecnologias para utilização do etanol e derivados da cana, procurando expandir o uso dos atuais e desenvolver novos produtos.

Nós acreditamos que teremos, certamente, num futuro próximo, um reconhecimento global para o etanol. O consumidor, daqui a 20 anos, vai fazer distinção entre o combustível fóssil e o renovável, vai reconhecer e diferenciar as empresas que têm sustentabilidade das que não têm. O consumidor, daqui a vinte anos, está nascendo agora, não seremos nós. Serão nossos filhos e netos. Nosso desafio é acelerar esse processo e chegarmos juntos lá.