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Raimundo Nonato Silton

Diretor da Gasil

Op-AA-35

Energia: existem opções mais inteligentes

Sabemos do grande potencial do setor sucroalcooleiro e também das grandes dificuldades para se manter viável ao logo dos anos. Comecei a trabalhar no setor como engenheiro em 1981, quando o Proálcool estava dando os primeiros passos para se estabelecer. Nossas plantas aumentaram de tamanho, muitas se modernizaram em informações e automações, porém, o processo em si, muito pouco mudou, e mantém a mesma concepção de produção:

1. A cana chega do campo, passa pelo processo de extração e o caldo rico em açúcar é desidratado através da evaporação e cozedores para retirada da água e concentração do açúcar. No caso do etanol, o caldo é tratado e enviado para a fermentação e, posteriormente, para a destilação. Em ambas as etapas, os problemas encontrados são os mesmos. No açúcar, é mais sensível quanto à qualidade da matéria-prima. No etanol, o vinhoto continua dando muito trabalho. Não há como esconder sua enorme quantidade.

2. A geração do vapor através da incineração do bagaço é a mesma em 100% das usinas, o bagaço gera vapor e este, energia para as termoelétricas e para os processos do açúcar e do etanol.

Observando o setor há 32 anos, destaco dentre os maiores problemas, a questão da sazonalidade. As plantas industriais trabalham cerca de 50% do ano, e aí começam os problemas, como por exemplo:

• Grande variação de preços: características predominantes de produto sazonais. Permitem que produtores de outros países se aproveitem da nossa ausência, tendo  como resultados as grandes variações de preços e os altos custos de estocagem, logística e, principalmente, o financeiro – o vilão do negócio.

• Impossibilidade de negociação diretamente com o consumidor final: somos praticamente obrigados a vender a produção de um importante produto do setor, a energia elétrica, como produto sazonal, para um único comprador, por um preço ridículo, utilizando a justificativa de que há  sobra energia no mercado, e os reservatórios das hidroelétricas estão com 60% a 90%. Esse produto só é valorizado quando os reservatórios estão abaixo de 10% e são obrigados a ligar as termoelétricas de combustível fóssil.

Sobre a produção de energia, conforme citei no item 2, nossas caldeiras de biomassa, além de incinerar o bagaço e a palha, (forma ineficiente de transformá-los em energia), trabalham com excesso de ar, acima de 40%, chegando, na grande maioria das usinas, a 60%.  Esse excesso de ar carrega consigo 78% de nitrogênio, que ajuda a apagar o fogo nas caldeiras, baixando o rendimento e gerando, no máximo, 0,5 MW/tonelada de cana.

Existe outra forma bem mais eficiente de transformar o bagaço e a palha em energia, através de um processo que os liquefaz e os transforma – bem como qualquer outra biomassa – em óleo, através do processo de pirólise. Da mesma forma em que os metais saem do estado sólido para o estado líquido através da elevação da temperatura, o bagaço e a palha podem passar do estado sólido para o estado líquido na ausência de oxigênio (para que não haja combustão), através da elevação da temperatura.

Nesse novo processo – que, de fato, é tão antigo quanto o processo de produção de açúcar –, uma tonelada de cana irá produzir até 1,5 MW. Ou seja, até três vezes mais que o processo de incineração atualmente utilizado. Outra vantagem é o armazenamento desse novo combustível (bagaço e palha de cana na forma líquida) em tanques, permitindo perenizar a geração de energia elétrica nas nossas termoelétricas de biomassa, ou comercializá-lo como combustível líquido, competindo diretamente com o combustível fóssil.

Com a possibilidade de tornar perene a geração de energia elétrica em nossas termoelétricas, nosso produto deixará de ser qualificado como sazonal. A legislação vigente já permite comercializar a energia diretamente ao consumidor final, com preços bem mais interessantes quando se tem a segurança de fornecimento o ano inteiro. O melhor é que as instalações industriais desse novo modelo energético já estão quase prontas, temos a matéria-prima (bagaço e palha), os geradores de energia e o sistema de distribuição acoplado.

Considerando a mesma capacidade, o custo de um gerador de vapor a óleo é cerca de 1/3 de um gerador de vapor que usa biomassa. Não haverá excesso de ar em uma caldeira a óleo que irá queimar nosso bagaço liquefeito. Isso dá um ganho enorme ao rendimento térmico do sistema (o ar atmosférico tem 78% de nitrogênio e apenas 20,8% de oxigênio necessário à combustão ao nível do mar). O excesso de nitrogênio na caldeira só faz ajudar a apagar o fogo.

Utilizando caldeiras para queimar o óleo originado do bagaço e da palha, poderemos aumentar a eficiência e, consequentemente, a produção de energia, aumentando o percentual de oxigênio nos queimadores, através de equipamentos concentradores de oxigênio do ar atmosférico por peneira molecular. Observa-se também que para cada 1% de oxigênio a mais nessa nova caldeira se ganha redução de até 3% de combustível.