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Cássio Manin Paggiaro

Diretor Agrícola da Clealco Açúcar e Álcool

Op-AA-44

Foco em produtividade e custos

Um somatório de fatores vem contribuindo, nos últimos anos, para a paralisação do crescimento do setor sucroenergético. Contribuem para essa paralisação: o estoque mundial de açúcar, que segura o preço da commodity; a inexistência de uma política energética clara no Brasil, que comprime os preços do etanol para perto dos custos de produção; o acesso ao crédito, dificultado tanto por parte do governo brasileiro quanto pelas instituições privadas de financiamento da produção; a variação cambial, que afetou muito mais negativamente a dívida das empresas do que contribuiu positivamente nas receitas; as mudanças de manejo agrícola advindas da obrigatoriedade da paralisação da queima da cana como método despalhador, do crescimento rápido da mecanização da colheita e do plantio da cana; a inexistência imediata de mão de obra qualificada para as operações mecanizadas; a condição climática desfavorável ao crescimento da cana-de-açúcar nas últimas duas safras; o aparecimento de outras pragas e doenças na cana-de-açúcar; e também a opinião pública.

Nesse cenário, temos que continuar o processo produtivo da cadeia da cana-de-açúcar, o preparo do solo, o plantio, a colheita e o transporte da matéria-prima para a indústria, a produção do açúcar, do etanol e da energia elétrica, assim como a sua comercialização, preferencialmente gerando resultado para o acionista e a sociedade. A parte agrícola de uma empresa sucroenergética, por representar, aproximadamente, 70% do orçamento, tem na produtividade dos canaviais, medida em toneladas de cana por hectare (t/ha), uma relação direta com os custos de produção.

A produtividade agrícola é diretamente proporcional aos fatores de produção (clima, solo, planta), e, dessa forma, temos potenciais produtivos diferentes para cada região, em cada ano. Práticas agrícolas recentes estão sendo discutidas e implementadas, buscando ganhos de produtividade agrícola e operacional, desde a fase de preparo do solo até a entrega da cana na balança da usina.

Podemos citar: a maior conscientização com a qualidade do preparo de solo, quer seja pelo preparo profundo, preparo reduzido ou preparo convencional, entregando uma área mais condizente para o plantio mecanizado; o ganho da qualidade no plantio mecanizado e a utilização de plantadoras mecânicas automatizadas; o nivelamento do solo pós-plantio, dando condições para uma melhor colheita mecanizada, com maior rendimento operacional e com menores perdas de cana no campo; a certeza da necessidade do controle de tráfego na colheita da cana e a introdução dos mapas de plantio sendo usados na operação de colheita, através de tecnologias e equipamentos que usam os satélites, buscando rendimento operacional das máquinas e longevidade das soqueiras; a escolha de espaçamentos diferenciados, como o alternado de 1,50 m x 0,90 m entre linhas de cana, trazendo ganhos operacionais e de custo na colheita mecanizada, além de possíveis ganhos na produtividade agrícola; o desenvolvimento e a escolha de variedades de cana mais adequadas para cada situação, com foco em produção de açúcar por área (ATR/ha); a recomendação adequada no uso de insumos em nutrição da planta, controle de plantas daninhas, controle de pragas e doenças da cana e para a antecipação da maturação da cana; a utilização racional dos subprodutos da produção do açúcar e do etanol, torta de filtro e vinhaça, agregando matéria orgânica e nutrientes ao solo, proporcionando maior capacidade produtiva nos mesmos; por fim, o uso da irrigação da cana, cobrindo parcial ou totalmente o déficit hídrico da planta que se mostra viável em muitas situações.

Práticas agrícolas isoladas dificilmente dão resultado satisfatório, sendo fundamental promover a integração de várias práticas, o manejo agrícola, para melhor atingimento do resultado. O bom manejo agrícola está diretamente ligado ao conhecimento, sendo ele intrínseco às pessoas. Pessoas e equipes capacitadas e motivadas fazem a diferença na entrega das metas acordadas.

Partindo da máxima de que ninguém motiva ninguém, há necessidade de se promoverem condições para que as pessoas se motivem, criando um ambiente virtuoso. Em época de baixos preços, o controle do custo se faz ainda mais necessário, adequando gasto à receita. Neste momento, mesmo sabendo que nem todo gasto é custo, é importante focar nos gastos imediatos, analisando a real necessidade de realizá-los.

A escolha apenas das práticas agrícolas essenciais para o bom desenvolvimento da cultura, muitas vezes focando apenas a manutenção da produção, feitas com o máximo de qualidade, no melhor momento, e equipes extremamente enxutas proporcionarão possibilidades de ganhos futuros, quando da retomada dos preços. Não adianta termos visão de que à frente teremos oportunidades de preços melhores, se não estivermos “vivos” para usufruir deles. Necessitamos ter eficácia e eficiência, fazer a “coisa” certa e fazer certo a “coisa”. O setor sucroenergético sabe o que tem que ser feito para o retorno da produtividade no campo, porém a escolha das técnicas agrícolas e de gestão, e sua implementação adequada, será o diferencial competitivo.