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José Ricardo de Bastos Martins

Sócio da Peixoto & Cury Advogados

Op-AA-20

Investimentos e o setor sucroalcooleiro

Operações de fusão e aquisição sempre movimentaram diversos setores da economia mundial, mas ganharam importância nos últimos tempos. Em momentos de instabilidade e sufoco financeiros, essas operações têm sido uma interessante alternativa. Trata-se de uma ferramenta que pode alavancar a empresa, somando experiências e melhorando estratégias, reduzindo custos, além de ampliar o market share no setor em que ela atua ou colocá-la em outros segmentos do mercado.

No entanto, ao observar as empresas sucroalcooleiras de grande importância para a economia brasileira, nota-se que ainda são poucas as operações concretizadas nesse segmento. Para avaliar as possibilidades de se realizar uma operação de fusão ou aquisição, é necessário entender o perfil e a realidade das empresas envolvidas. Apesar de serem capazes de gerar muita riqueza, boa parte das empresas do setor sucroalcooleiro carregam alguns problemas internos, tanto jurídicos quanto de gestão.

Esse cenário afugenta interessados ou reduz seu valor, para compensar passivos e/ou investimentos, que terão que ser realizados posteriormente. Para compreender essa realidade, é necessário fazer uma análise do perfil dessas empresas. Elas são bastante antigas e é indispensável atrelar o seu histórico ao que são atualmente e, também, considerar as características herdadas ao longo do tempo.

Uma dessas características é que muitos negócios começaram em fazendas sob administração familiar, e assim permanecem até os dias de hoje. A questão é que nem sempre os herdeiros são as pessoas mais qualificadas ou não foram devidamente treinados para realizar uma gestão eficiente. Enquanto uma parte do setor persegue esse objetivo, conduzidos por grandes executivos e uma gestão profissional, há uma parcela que não enxerga a necessidade desse conhecimento para o sucesso do empreendimento.

Além disso, pela longa existência de boa parte das empresas nesse setor, elas passaram por uma infinidade de circunstâncias, entre elas, momentos de grande crescimento e outros de grande declínio. Os empresários do setor tiveram um momento bastante positivo com os incentivos dados pelo Governo com o Proálcool - Programa Nacional do Álcool, especialmente na década de 1980, com a explosão das compras de automóveis a álcool. Mas, ao longo dos anos, por diversos fatores - tanto internos quanto externos - o apoio do Governo desapareceu e a indústria passou por sérias dificuldades.

Nesse momento, muitas empresas tiveram que lutar para sobreviver. Algumas foram massacradas. E certos gestores precisaram fazer escolhas que, no curto prazo, não pareciam tão graves, mas que, com o passar do tempo, revelaram-se muito complicadas. Débitos fiscais e outras dívidas, indisponibilidade de bens em consequência de disputas judiciais, passivos em bancos e outros tantos problemas, acumulados ao longo de anos, são obstáculos na hora em que se iniciam processos de análise para fusões, aquisições ou mesmo ampliação de investimentos.

Nesse ponto, o setor sucroalcooleiro pode estar perdendo oportunidades interessantes para crescer e se desenvolver, já que, para um grande número de potenciais investidores e parceiros, toda essa problemática acumulada pelas empresas, ao longo de todos esses anos, reduz significativamente a atratividade do negócio.

Com o enorme potencial do Brasil, como receptor de recursos e como exportador de álcool, o segmento sucroalcooleiro poderia ser uma vedete ainda mais atraente, caso estivesse num estágio mais avançado de profissionalização da gestão e de saneamento dos passivos adquiridos. O Brasil é visto com bons olhos pelos investidores estrangeiros. Respeita as normas nas relações econômicas mundiais e apresenta-se sólido neste momento delicado, além de ser uma democracia estável e ter diversificado seus mercados.

O setor energético nacional, no qual se destaca o agronegócio, tem recebido volumosos investimentos públicos, para crescer e tornar-se referência mundial. E, atualmente, por ser considerado uma fonte de energia limpa, diferentemente do petróleo, o álcool amplia sua competitividade nos mercados interno e externo.

O que falta, agora, é a consciência dos empresários do setor, para aceitar o desafio de reestruturar seus negócios, tornando-os atraentes para os investidores, especialmente os fundos de investimentos internacionais, que têm aportado no país com grande apetite. Existem formas de se isolar e/ou sanear os “defeitos” que uma empresa possa ter antes de um processo de fusão ou aquisição e devem ser analisadas com o necessário cuidado, evitando-se, assim, o desperdício de oportunidades, que poderão, efetivamente, mudar a cara do setor.