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Arnaldo José Raizer

Gerente de Pesquisa Tecnológica do CTC

Op-AA-32

Novas variedades, caminho promissor

Triplicar a produção de etanol por área no Brasil é o que nós, do CTC, estamos prevendo para 20 anos, em função de uma série de atividades de pesquisa, compreendendo tanto a parte agronômica como a parte industrial, que acenam para o futuro que está chegando. Para começar, em um ou dois anos, vamos lançar variedades de cana-de-açúcar específicas para cultivo na região central do País, dentro do programa de regionalização.

Trata-se do primeiro programa de melhoramento regional que irá liberar cultivares adaptadas ao cerrado brasileiro. Já estamos fazendo a validação final de alguns clones. Começamos pelo estado de Goiás e região Centro-Oeste, porque era uma nova e desafiadora situação para a cana, mas já estamos com nossos olhos voltados também para outras regiões. A tendência, de cinco a seis anos, é que estaremos com a recomendação de variedades CTC específicas para cada área do País.

Há uma década, o Centro de Tecnologia Canavieira está trabalhando no processo de regionalização de variedades. A grande diferença em relação ao que se fazia antes é que se trabalhava de forma intensiva em São Paulo, com material encaminhado para outros estados apenas após a liberação comercial.

Na nova fase, opera-se na própria região já a partir da semente, com avaliação específica de milhares de progênies. Os clones em desenvolvimento passam ali todos os anos agrícolas, em avaliações e ensaios especialmente delineados, submetidos às condições climáticas e de solo locais. Assim, o processo de regionalização obteve um ganho expressivo.

Ao invés de variedades desenvolvidas para São Paulo, não adequadas às suas condições, o cerrado passará a contar com material sob suas condições peculiares, como alta temperatura, solos de menor potencial produtivo, baixa umidade e estiagem durante cinco a seis meses. Essa região não mais precisará recorrer a plantas que, sob seu regime ambiental, florescem intensamente e por isso produzem menos.

Em breve, vamos disponibilizar novas variedades para outras regiões, com a certeza de que, com o trabalho regionalizado, ao invés de 1,5% de ganho de produtividade por ano, como acontece hoje, vamos logo crescer a taxas de 2,5%, podendo, depois, chegar a incrementos anuais de 4,0 até 5,0%.

Dentro de uma programação ampla, que visa duplicar em 20 anos a produtividade de cana no Brasil, já estaremos agregando a biotecnologia para se chegar aos novos patamares de produção, inclusive com a transgenia.

Diante da falta de variedades regionais, temos, hoje, a realidade de produtividade menor, em função da seca, da ordem de 20% no Nordeste e no Centro-Oeste. Mas a tendência é termos, dentro de 10 anos, regiões mais uniformizadas no sistema produtivo de cana, para atendermos à crescente demanda por etanol, açúcar e energia. O CTC tem esse foco no futuro, atender à demanda do Brasil e do exterior com plantas adaptadas regionalmente.

Para isso, estruturou estrategicamente sua equipe, sua rede experimental e seu modo de atuação, de acordo com as necessidades de seus clientes.

O processo de regionalização que o CTC desenvolve se direciona também para o plantio mecanizado, com a previsão de, em cinco anos, estarmos atingindo praticamente 100% dessa prática, o que também impacta o estudo de novas variedades.

Para a colheita mecanizada, já temos portfólio pronto, porque já é uma tecnologia de 25 anos nos canaviais, e nós avaliamos isso, também de forma pioneira, há 20 anos, no programa de melhoramento. O tipo de cana será muito mais adaptado à mecanização, material mais adequado, mais ereto, com boa densidade, que não apresente perdas durante a colheita, que brote bem e tenha uniformidade e qualidade tecnológica muito boa.

A regionalização segue diversas linhas de pesquisa, desde o planejamento e uso do nosso germoplasma até a recomendação de manejo das variedades CTC. Classificamos o País em macro regiões, por classe de solo e de clima, que, na realidade, representam diferentes áreas de potencial agrícola, usadas para a análise do comportamento varietal.

Temos, hoje, a tecnologia dos ambientes edafoclimáticos e experimentação para atender a tudo isso. O programa de melhoramento genético é estabelecido, inclusive, de forma a atender algumas demandas da biotecnologia, como o fornecimento de plataforma para a pesquisa com genes e com plantas a serem transformadas geneticamente.

Isso significa ampliar os limites das nossas variedades. É possível trabalhar em biotecnologia com materiais novos que estão chegando à fase final do programa, para termos, por exemplo, biomassa com maior conversão de energia ou valor agregado em produtos da cana, seja através dos açúcares, do bagaço ou de outras moléculas da planta.

A ideia, no curto prazo, é incorporar biotecnologia para melhorar os ganhos em todos os aspectos.  Às vezes, se esbarra em alguns limites de melhoria de produtividade, mas já existem trabalhos de biotecnologia para agregar genes que vão conferir ganhos na produção de açúcar, na tolerância à seca e na resistência às pragas, que são fatores limitantes em diversas regiões canavieiras.

Trabalhamos com todas as ferramentas, em todas as áreas, para o aumento da produtividade, para que tornemos possível antever o salto da média nacional, hoje de 85 toneladas por hectare, para 150 a 160 toneladas, em até 20 anos, independente da região. Com material específico, cada região teria sua situação também específica para contribuir nesse processo.

Outra parte importante do programa é o trabalho com melhoramento, já focando a cana energia, para atender à demanda da indústria no futuro. Ou seja, uma cana que tenha mais palha, mais biomassa e mais carbono e celulose, a ser transferido ao etanol de segunda geração e como oferta de energia renovável.

Nosso trabalho forte em genética e em biotecnologia, para buscar plantas mais eficientes em todas as regiões de cultivo, tem amparo no germoplasma do CTC, que é o mais completo do mundo. Um poderoso banco de dados, com informações do desempenho regional de cada genótipo, direciona as estratégias de exploração dessa diversidade genética.

O uso de ferramentas, como marcadores moleculares e outras técnicas, além da transgenia, busca o aumento da produtividade e a redução do custo dos processos de melhoramento genético. É como estaquear melhorias, uma em cima da outra, para se chegar ao triplo da produção de etanol em duas décadas.

É o escopo geral do nosso trabalho, colocar à disposição do produtor, mais rapidamente, a possibilidade de mudar a genética antiga. Hoje, temos centenas de variedades de cana, mas, na maior parte das regiões produtoras, existe, a rigor, não mais do que meia dúzia de opções, recomendadas para grandes áreas, o que agrava o aspecto da vulnerabilidade às pragas e às doenças, gerando perdas por deficiência de manejo.

Variedades utilizadas há mais de 10 anos, ou até 20 anos, vão sair do mercado. Elas estão aquém do potencial dos híbridos modernos, não foram desenvolvidas para tolerar a seca e apresentam suscetibilidade às doenças, além de serem menos adequadas para a mecanização.

Nosso objetivo de colocar opções varietais direcionadas para cada região inclui, também, a preocupação com ciclos de gerações e liberação de material genético mais avançado, pois um portfólio varietal diversificado otimiza o manejo, o que  maximiza os resultados durante a safra.

Em suma, estamos incessantemente em busca de variedades rentáveis, que se prestem a tudo: produzir etanol, açúcar, energia e novos produtos. Visamos atender demandas futuras, principalmente com regionalização, adaptação a problemas climáticos e de solo, preenchendo lacunas onde vai haver expansão da cultura e necessidade de novas tecnologias de produção e manejo.

A história do programa de melhoramento do CTC começou em 1969 e foi até 2000, com a visão muito focada em São Paulo, e, a partir daí, nos últimos 12 anos, acompanhamos a expansão da cultura para outras regiões. Com o CTC pós-Copersucar, partindo para novas variedades de cana-de-açúcar, estamos, certamente, no meio de um caminho muito promissor.