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Luciano Cunha de Souza

Secretaria de Inovação do MDIC

Op-AA-30

As respostas virão, como sempre, do interesse do mercado

O desafio do planejamento energético é uma questão complexa. Temos que garantir que haja energia para as pessoas e também que haja alimentos. Óbvio que energia e alimentos têm importâncias diferentes, mas estão em patamares muito próximos. Ambos são necessidades de nosso povo. Essas questões nunca poderão ser conflitantes.

Qual é o papel do empresário nesse cenário? Sendo simplista: o empresário tem a missão de produzir algo e de obter lucro. Por outro lado, o papel do governo é equilibrar as demandas de todos os envolvidos. O empresário, tendo lucro, se sentirá motivado a investir, a gerar empregos; o empregado, a comprar, garantindo, assim, a manutenção de todo o circuito.

Esse assunto é muito conhecido. Por que devemos investir em biocombustíveis? Das muitas razões, destaco três: as alterações climáticas, a insegurança energética e as dificuldades crescentes na produção do petróleo.

O Brasil iniciou o Proálcool por causa da insegurança energética e da dificuldade de produção de petróleo, o que gerou, ao longo dos anos, o cenário atual dos biocombustíveis. Hoje, já caminhamos para um novo patamar e trabalhamos com a opção dos biocombustíveis de segunda geração. De fato, incomodamos muita gente. Na Europa, começaram a propagar que a alta produção de biocombustíveis iria provocar a falta de alimentos.

E isso é uma grande verdade, mas para a realidade deles. Se eles fossem produzir o biocombustível requerido por sua necessidade, criariam um imenso problema social, em função da sua escassez de terra, de água e de mão de obra. No caso do Brasil, os biocombustíveis são os responsáveis por um grande benefício social, econômico e ambiental para o País.  

A EPE - Empresa de Pesquisa Energética estimou que temos 140 bilhões de toneladas de bagaço de cana-de-açúcar nas usinas brasileiras, dos quais apenas 8% são utilizados para a produção de energia elétrica, significando que temos disponíveis quase 130 bilhões de toneladas de bagaço, que não precisa ser comprado ou transportado, pois essa matéria-prima homogênea, pronta, preparada e disponível, numa granulometria fina e seca, já está dentro da indústria. 

A Unica projetou  a expectativa de consumo de etanol nos EUA, considerando o etanol de milho, de celulose e o etanol avançado. Considerando que o etanol de cana já conseguiu ser classificado como etanol avançado, temos definido e aberto um mercado gigantesco para atender, supondo que vamos voltar a crescer largamente.

Queremos ficar somente no etanol avançado, ou temos que aproveitar esse outro mercado? Na Europa, a legislação ainda não está bem clara, pois cada país está regulamentando as suas exigências ambientais, e a situação é ainda um pouco complexa. Mas ela migra cada vez mais para exigir o etanol celulósico. A demanda existe, está formada, está prevista nos mecanismos regulatórios deles.

Com relação à tecnologia, um estudo do CGEE - Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, tomando por base uma usina de ponta, mostrou que a expectativa de ganhos de eficiência industrial nos atuais processos de produção de etanol é muito pequena, porque já trabalhamos no ápice da tecnologia. Apesar disso, possuímos uma grande quantidade de usinas que ainda possuem equipamentos com tecnologia mais antiga e que têm muito a ganhar ainda com o etanol de primeira geração com a melhoria de seus processos.

Na área agrícola, temos um  maior potencial de ganho de produtividade do que na área industrial, com a implantação de novas variedades, melhoramentos genéticos, defensivos, manejos, um grande número de ações que permitirão ganhos maiores do que a tecnologia industrial de ponta.

Isso é uma imensa motivação para o etanol de segunda geração, pois, sem aumentar um hectare sequer, poderemos produzir um volume gigantesco de etanol. Dentro da pirâmide de remuneração do etanol, colocam-se na ordem do maior para o menor valor de venda os álcoois destinados a cosméticos e farmacêuticos; depois, os para alimentação; depois, os para bioplásticos e polímeros; depois, os químicos a granel e combustíveis; e, no final da escala, os destinados a energia e aquecimento.  

A teoria para se produzir biocombustíveis avançados existe há décadas; os desafios são, na verdade, o desenvolvimento de projetos que permitam melhor economicidade. É por isso que os projetos mais avançados têm sido os focados em produtos de maior valor agregado. Assim, a opção que nos cabe é escolher em qual segmento investir. Precisamos pensar um pouco mais à frente. Por exemplo, como vamos conviver com o carro elétrico? Independentemente de nos prepararmos ou não, ele virá.

Estamos investindo em pesquisa em praticamente tudo o que é relacionado à agroenergia, tanto no que se refere ao etanol quanto ao diesel. Historicamente, fizemos isso de forma pulverizada.

Atualmente, estamos com focos muitos mais definidos, como é o caso da Dedini, do CTC, da Novozymes, do CTBE, da Petrobras, da Fapesp-Bioen, a maioria deles centrados em hidrólise enzimática, porque isso é o que mais combina com  nossas usinas. O bagaço, que já está na usina, passará por um processo de hidrólise e voltará para a fermentação ou algo parecido.

O setor de agroenergia é um dos que mais recebem investimento de P&D no Brasil. Quando vamos ter biocombustíveis avançados? Essa é uma resposta que o mercado vai dar. Por enquanto é melhor produzir outros produtos de maior valor agragado.

Em um determinado momento, a gasolina poderá atingir um valor que viabilize a produção do etanol de segunda geração. Essa será, certamente, uma decisão de mercado com olhos na viabilidade econômica e no retorno dos investimentos a serem realizados.