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Carlos Roberto Silvestrin

Vice-presidente da Associação Paulista de Cogeração de Energia - COGEN

Op-AA-12

A bioeletricidade agregando valor à indústria da cana

Os profissionais da indústria da cana-de-açúcar, que sempre estiveram ocupados com os fatores de produção, de quantos sacos de açúcar e quantos litros de etanol serão produzidos por tonelada de cana (tc) processada, têm, agora, a bioeletricidade como um novo fator estratégico de agregação de valor aos negócios da cana-de-açúcar.

Assim, as informações de gestão da indústria da cana, além de sacos de açúcar/tc e de m3 de etanol/tc, têm que considerar e trabalhar também com kWh/tc. A bioeletricidade é produzida nas centrais de cogeração, que aproveitam as diferentes fontes de biomassa da cana-de-açúcar e das demais fontes que compõem a matriz de agroenergia, conforme ilustrada no quadro abaixo, que evidencia a sinergia entre as atividades de agricultura e energia.

A agroenergia vem crescendo intensamente nos últimos anos, com a ênfase que tem sido dada ao etanol e ao biodiesel, que proporcionam importantes benefícios para o meio ambiente.

A indústria da cogeração de energia no Brasil está representada, atualmente, por 266 centrais, que utilizam biomassa e possuem uma capacidade instalada de 3.681 MW. Dessas centrais, 242 utilizam biomassa da cana (2.845 MW), 8 centrais operam na indústria de papel e celulose, operando com licor negro, totalizando 696 MW.

Temos ainda 13 unidades operando com cavaco de madeira (130 MW) e 3 centrais utilizando casca de arroz (10 MW). Informações adicionais podem ser encontradas na página do DataCogen, www.datacogemcom.br. A cogeração de energia com bagaço de cana (bioeletricidade), vem crescendo em larga escala, nos últimos anos. Na safra de 2006/07, tivemos a produção de 425 milhões de toneladas de cana.

No horizonte de cincoanos, a produção de cana aumentará em 300 milhões de toneladas, atingindo 728 milhões de toneladas.  Nesse período, serão colocadas em operação 86 novas unidades de produção nos estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná, cujos investimentos somam US$17 bilhões, em instalações industriais e de produção da bioeletricidade.
 

As perspectivas de produção de bioeletricidade, a partir da cana-de-açúcar, indicam uma grande oportunidade de expansão da oferta de energia elétrica, através dessa forma de geração distribuída, num horizonte de cinco anos, período esse em que persistem as incertezas de implantação dos grandes projetos de geração centralizada, a partir das fontes hidrelétricas da região amazônica.
 

A coluna “capacidade instalada” representa o potencial que podemos atingir, caso toda a produção de cana seja processada em unidades industriais que utilizam caldeiras de alta pressão (65 bar), e a coluna “bioeletricidade exportação acumulado” representa a capacidade de potência instalada que poderá ser comercializada, agregando usinas retrofit (implementam novas tecnologias em usinas existentes, visando maior eficiência) e usinas novas.  A regulamentação da oferta competitiva da bioeletricidade nos leilões de energia nova possibilita assegurar que a indústria da cana-de-açúcar terá, na cogeração, um importante fator de agregação de valor, conforme poderá ser observado no quadro abaixo. 

A coluna “energia já comercializada” considera a energia de biomassa contratada no Proinfa, os contratos negociados no mercado livre e a energia comercializada nos Leilões de 2005 e 2006, que totalizam 1.710 MW de capacidade de potência instalada.  Os empreendimentos que estão cadastrados na EPE, Empresa de Pesquisas Energéticas, para serem ofertados nos Leilões de Energia Nova (A-3 e A-5) e de Fontes Alternativas, que serão realizados em 2007, representam 2.183 MW de potência instalada.


Os novos empreendimentos e retrofit poderão ser inscritos para os Leilões de Energia Nova, a serem realizados em 2008 e/ou anos seguintes, e indicam a possibilidade de ofertar mais 3.922 MW de potência instalada.  A bioeletricidade era vista, no passado, como uma fonte alternativa pouco valorizada. Atualmente, é uma importante fonte de geração distribuída renovável, uma “energia mainstream”, sustentável e complementar do sistema elétrico interligado (SIN), com possibilidade de atingir uma participação de até 15% da matriz elétrica brasileira, em 2020.
 
Os problemas decorrentes do avanço do aquecimento global, que vem se agravando intensamente nos últimos anos, poderão ser amenizados com a implementação de nova cogeração de bioeletricidade, em substituição das tradicionais termoelétricas, que utilizam óleo combustível, como fonte de energia primária. Outros fatores benéficos da bioeletricidade são: a contribuição com créditos de carbono, que fomenta o desenvolvimento de novos projetos de usinas de bioeletricidade; e a imagem que essa energia traz para a sociedade, de “energia limpa”, que amenizará os graves problemas de poluição do planeta.