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Miguel Angelo Mutton e Marcia Justino Rosini Mutton

Professores do Departamento de Produção Vegetal e Tecnologia da Unesp

Op-AA-24

Maturadores

A maturação da cana-de-açúcar pode ser caracterizada sob diferentes pontos de vista: botânico, fisiológico ou agroindustrial. Botanicamente, a cana-de-açúcar está madura no momento em que ela é capaz de produzir outra planta, que, pela reprodução sexuada, ocorre após a formação de sementes ou, considerando a reprodução assexuada (vegetativa), quando as gemas já estão em condições de brotar. 

Fisiologicamente, a maturação pode ser definida como processo contínuo que envolve a síntese dos açúcares nas folhas, a translocação e a estocagem desses fotossintatos no colmo, até atingir o máximo potencial de armazenamento. O maior acúmulo de sacarose ocorre quando a planta encontra condições de estresse, como deficiência hídrica e temperaturas mais baixas, que restringem seu crescimento, porém ela continua a armazenar fotossintatos, aumentando a concentração no colmo.

Na região Sudeste do Brasil, o processo tem ocorrência natural a partir de abril/maio, com máximo em setembro/outubro. Sob a ótica agroindustrial, a planta pode ser considerada madura a partir do momento em que a cultura apresenta maior produtividade de açúcares, possibilitando maior rendimento industrial e resultado econômico satisfatório.

Durante o desenvolvimento da cultura, a planta manifesta as suas características genéticas em função das condições ambientais a que está submetida (temperatura, radiação solar, precipitação, umidade e fertilidade do solo), propiciando períodos de crescimento e de amadurecimento conforme a combinação desses fatores.

Na presença de precipitação, temperatura e radiação solar ótimas, observa-se crescimento vegetativo com a  consequente  formação de folhas, colmos e raízes. Na ausência de condições mais favoráveis, a planta restringe seu crescimento, modifica seu metabolismo básico, canalizando os fotossintatos produzidos para os tecidos de armazenamento, intensificando o amadurecimento.

Quando se planeja iniciar a safra em março/abril e terminar em novembro/dezembro, meses que apresentam condições mais favoráveis ao crescimento da cana-de-açúcar, verifica-se, normalmente, mesmo com variedades mais precoces ou tardias, baixos níveis de açúcares nos caldos. Dentro desse enfoque, para maximizar a produtividade de açúcares por área e, principalmente, o rendimento industrial, nessas épocas, faz-se necessário associar às variedades a aplicação de maturadores químicos, possibilitando antecipar (no início da safra) ou manter a maturação (no final de safra).

Esses produtos atuam geralmente restringindo temporariamente o crescimento da planta, sem afetar o processo fotossintético, e influenciam a atividade de enzimas envolvidas direta ou indiretamente com o acúmulo de sacarose nos colmos, antecipando a maturação. Dentre os maturadores utilizados, destacam-se: o trinexapaque-etílico, o sulfometuron-metílico, o glifosato, o etefom, além de outros produtos químicos.

Deve-se destacar ainda a possibilidade do emprego de produtos que apresentem em sua composição nutrientes como o potássio, o boro e compostos orgânicos. O aumento do teor de sacarose, em função da aplicação de maturadores, pode variar em função do produto empregado, da época de aplicação e colheita, da situação do canavial, do clima, do solo e das variedades, entre outros fatores.

Os resultados experimentais, consolidados em áreas comerciais, mostram que o emprego adequado dos maturadores promovem antecipação da maturação do canavial, com acréscimos entre 0,5 a 1,0% na pol da cana, principalmente no período de 4 a 7 semanas após sua aplicação. De um modo geral, a cana-de-açúcar que recebeu tratamento com maturador em março apresenta melhores resultados que a tratada em abril.

Os incrementos de pol obtidos proporcionam acréscimos da ordem de 3,7 a 7,5 quilos de açúcar ou 2,8 a 5,6 litros de álcool por tonelada de colmos processados. Assim, considerando-se uma produtividade média de 85 t/ha, têm-se acréscimos por área de 320 a 640kg de açúcar  ou de 240 a 480 litros de álcool. Deve-se considerar, ainda, a possibilidade de emprego do maturador em início de safra na cana bisada.

Essa matéria-prima apresenta brotões, brotações laterais e enraizamento aéreo que prejudicam a qualidade e o rendimento industrial, devendo ser colhida logo no início da safra.  A intensidade de brotões, geralmente, é alta nesses canaviais, e eles encontram-se imaturos nesse período; a utilização do maturador visa uniformizar a maturação dos colmos, possibilitando obter uma matéria-prima com melhor rendimento industrial.

As aplicações de final de safra ocorrem, geralmente, a partir de setembro/outubro, com o reinício do período de chuvas. Nesse caso, o efeito pretendido é o de se reduzir a velocidade da queda dos teores de pol da cana, através da restrição do crescimento da planta, mantendo a maturação por um maior período de tempo. Possibilita assim o processamento de uma matéria-prima de melhor qualidade e, portanto, de maior rendimento agroindustrial.

Os resultados observados nessa época são menores que os de início de safra, porém também significativos. Assim, constata-se que o emprego apropriado dos maturadores químicos é uma ferramenta importante no gerenciamento do processo de colheita, objetivando maximizar o aproveitamento da matéria-prima e do seu processamento industrial, proporcionando melhores retornos econômicos, que contribuem para a sustentabilidade do setor sucroalcooleiro.