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Antoninho Marmo Trevisan

Presidente da Trevisan Consultoria e Diretor da Trevisan Escola de Negócios

Op-AA-13

Sustentabilidade econômica do setor sucroalcooleiro

O desenvolvimento econômico brasileiro, desde o seu descobrimento, pode ser caracterizado pela exploração, em ciclos sobrepostos, de recursos naturais relativamente abundantes. Assim, inicialmente, exploramos o pau-brasil, depois o açúcar, o ouro, o café e a borracha. Em cada um destes ciclos a economia, primeiro crescia de forma acelerada, para depois entrar em colapso, deixando seqüelas socioeconômicas de difícil equacionamento.

Uma avaliação dos erros e acertos de mais de quatro séculos de exploração destes recursos poderia, com certeza, ser resumida em uma expressão que, se não inovadora é, ao menos, cândida: “É a sustentabilidade, estúpido!” Senão, vejamos. O açúcar foi introduzido na Europa no início do século X e anos mais tarde foi considerado uma especiaria. Portugal, no início do século XV, já dominava a produção de açúcar. Em 1516, foram implantados os primeiros núcleos açucareiros no Brasil.

O beneficiamento do açúcar no país fez com que os portugueses tornassem-se os grandes supridores do produto no mercado internacional. A boa adaptação às terras do Brasil, apesar da dispersão geográfica e das diferenças regionais, dificultadas pela grande extensão territorial, foi a força motriz para o desenvolvimento da cultura da cana-de-açúcar.

No entanto, choques internos e externos fizeram com que, a partir da segunda metade do século XVII, a produção canavieira fosse reduzida: desorganização do mercado, forte concorrência antilhana - subproduto direto das invasões holandesas ao Brasil - queda do preço no mercado europeu, retração das exportações e aumento do custo com a mão-de-obra escrava, o que acabou por reduzir a rentabilidade dos engenhos.

Apesar das vantagens competitivas existentes no país, não se conseguiu assegurar a sustentabilidade econômica de um dos setores mais dinâmicos da economia. A reorganização do setor aconteceu apenas no início da década de 1930, por intermédio de uma intensa ação do Estado. Especificamente, com a criação do Instituto do Açúcar e do Álcool, IAA, em 1933, o Governo Federal assumiu diversas atividades: produção e comercialização, formação de preços, exportação e importação.

Mais recentemente, em 1975, foi instituído o Proálcool que, como resposta aos choques do petróleo do início daquela década, buscava o atendimento das necessidades do mercado interno e externo: substituição de insumos foi o mote do Programa. Uma avaliação destas quase sete décadas de intervenção do Estado - claro que com forte participação de agentes privados - mostra avanços significativos, apesar dos percalços.

Surge, no entanto, uma pergunta: “Será possível, no ambiente econômico, político e social do mundo globalizado onde - ao contrário do que muitos pensam - nem tudo é jabuticaba, assegurar a sustentabilidade de um setor que, cada vez mais, tem externalidades positivas em toda a matriz econômica?” A resposta depende da capacidade do Estado e dos agentes privados estabelecerem uma visão de futuro - um objetivo a ser alcançado - e trabalharem para assegurar a sua realização.

A experiência passada mostra que esta não é uma tarefa trivial e imediata. Ao contrário, é balizada por elementos que, em muitos casos, estão fora do controle do seu formulador. No entanto, deixar de lado a sua elaboração e operacionalização será um erro fatal. A formulação desta visão deve, necessariamente, partir do conceito de sustentabilidade econômica, entendida como a promoção do desenvolvimento econômico com a preservação do meio ambiente e do bem-estar das gerações futuras.

Entre outras, ao menos quatro dimensões são fundamentais e devem ser consideradas sob o risco de, mais uma vez, perdermos a oportunidade de alavancarmos o desenvolvimento do país. Primeiro, que, neste início de século, a dinâmica econômica do setor sucroalcooleiro ainda é determinada pelas trajetórias, altamente correlacionadas, de produção e consumo de açúcar e álcool.

No entanto, num futuro próximo, espera-se que o papel deste setor, como supridor energético, acabe por balizar, com maior intensidade, essa dinâmica. Segundo, a produção e a comercialização da cana, do açúcar e do etanol não são controladas pelos governos, local ou estrangeiros: os preços são definidos no mercado, cada vez mais globalizado, e não existem barreiras tarifárias no Brasil, para as exportações e as importações. Mais ainda, com o aumento da demanda internacional, espera-se a entrada de novos produtores, a expansão da oferta e a adoção de tecnologias mais produtivas.

Terceiro, apesar das atuais vantagens econômicas, o volume de investimentos necessários para a sua preservação é gigantesco e está relacionado à disponibilidade de terras - sem comprometimento de outras culturas agrícolas, à oferta de infra-estrutura de armazenamento e transporte e à construção de novas usinas para o processamento da cana.

No entanto, como em outros setores, estamos vivenciando gargalos relevantes na infra-estrutura, decorrentes da ausência de visão estratégica, planejamento, regulação e fiscalização. Quarto, a sustentabilidade sistêmica depende diretamente da sustentabilidade de cada uma das empresas da cadeia produtiva. Este é um grande desafio, como nos mostra a história: assegurar que as empresas sejam capazes de gerar resultados para os seus stakeholders, de forma sustentável.

Nesse caso, a resposta depende da capacidade delas adotarem as melhoras práticas de gestão, na condução de seus negócios, de divulgarem seus resultados de forma transparente e com base em princípios contábeis geralmente aceitos, de entenderem e respeitarem as demandas de seus stakeholders e de ofertarem produtos de qualidade, a preços competitivos.