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Paulo Arruda

Diretor Científico da Alellyx

Op-AA-17

Transgenia: solução para produtividade

A produção de alimentos e energia, derivada das plantas, vem sendo praticada pelo homem, há milênios. O calor proporcionado pela queima de restos vegetais e a utilização do fogo para o cozimento dos alimentos trouxeram confortos, aos quais o homem adaptou-se rapidamente. Essas inovações foram produzidas de forma intuitiva, baseadas na curiosidade humana de observação dos fenômenos naturais.

O conhecimento dos fenômenos naturais tem progredido de forma contínua, e, como conseqüência, a sociedade desfruta, cada vez mais, de inovações desenvolvidas para tornar a vida mais confortável. Dentre as inovações que impactaram significativamente a humanidade estão aquelas derivadas do conhecimento da natureza genética dos seres vivos.

Com a descoberta de Mendel, no princípio do século passado, dos mecanismos da herança genética, a sociedade tem desfrutado dos benefícios das inovações, com o aumento da produtividade das culturas, voltadas para a produção de alimentos. Dentre essas inovações, estão as técnicas desenvolvidas para o melhoramento genético, que possibilitaram a combinação de genes da mesma espécie ou de espécies diferentes, através do cruzamento sexual.

Assim, o homem passou a contar com variedades mais produtivas, que tiveram incorporados no seu genoma caracteres genéticos, que conferem resistência a pragas e doenças e tolerância a condições ambientais adversas. Provavelmente, sem o melhoramento genético das espécies cultivadas, a humanidade não seria a mesma que conhecemos hoje.

Certamente, não haveria tanta disponibilidade de alimentos e a humanidade teria experimentado situações de extrema dificuldade para sua sobrevivência. Mas, graças à curiosidade humana, o conhecimento e as inovações progridem de forma exponencial, em todas as áreas. Na genética, passamos a conhecer em maiores detalhes, a natureza molecular dos genes e a organização do genoma completo dos organismos.

Esse conhecimento possibilitou o desenvolvimento de tecnologias mais refinadas, para obter variedades mais produtivas. Surgiu então a biotecnologia vegetal, que, a exemplo de suas irmãs na área farmacêutica e industrial, desenvolve técnicas e métodos para introduzir genes de qualquer organismo nas plantas, e assim obter variedades mais produtivas e resistentes aos estresses bióticos e abióticos.

Essas inovações propiciaram o desenvolvimento das variedades transgênicas, incorporando características que dificilmente seriam obtidas através do processo de cruzamento sexual. Mais ainda, caracteres genéticos superiores puderam ser introduzidos em variedades que já são boas, tornando-as ainda melhores.

Mas, o crescimento populacional e as demandas da sociedade por uma vida mais confortável trouxeram desafios enormes, pois aquele conforto trazido pela descoberta do fogo e da produção de alimentos, agora traduzido nos novos conceitos de produção de alimentos e energia, passou a ser exercitado em escala global, por bilhões de seres humanos.

Essa situação criou o aquecimento global, que traz consigo o desafio não só de produzir cada vez mais alimentos, mas também de produzir energia de forma sustentável, a partir de fontes renováveis. Como equacionar essas demandas?   Através de crescimento populacional, produção de alimentos, produção de energia, preservação do meio ambiente e diminuição dos efeitos do aquecimento global?

Talvez hajam muitas alternativas para essa questão, mas a que se evidencia de imediato e chama a atenção do mundo é a conversão de biomassa vegetal em combustíveis e outras formas de energia, que venham a substituir, com vantagens inequívocas, o uso de combustíveis fósseis. Aqui, a primeira a ser chamada é a genética vegetal.

Qualquer tecnologia industrial existente ou a ser desenvolvida para geração de combustíveis a partir da biomassa vegetal passa por um significativo aumento da eficiência fotossintética, que se traduz em aumento de produtividade das espécies cultivadas, para a geração de energia, as chamadas energy crops. Nós da Alellyx, acreditamos que a biotecnologia vegetal, sobretudo a transgenia, terá papel decisivo nesse esforço.

Com foco no posicionamento da cana, como a mais importante energy crop, para as próximas décadas, nossa empresa, especializada em genômica, trabalha em transformação genética por agrobactéria, aspectos relacionados à regulamentação e propriedade intelectual e, sobretudo, processos para o desenvolvimento comercial de cana transgênica.

A cana, um autopoliplóide, é uma espécie com um dos mais complexos genomas que se tem conhecimento. Produto de cruzamentos interespecíficos, as variedades modernas de cana possuem uma mistura de cromossomos oriundos, majoritariamente, de Saccharum officinarum e Saccharum spontaneum.

Essa mistura genômica, ao mesmo tempo em que cria enorme variabilidade genética, cria dificuldades para o melhoramento, pois torna a obtenção de clones elite, com muitas características agronômicas reunidas em uma mesma planta, em eventos raros. A dificuldade em se utilizar técnicas avançadas de melhoramento, desenvolvidas para espécies diplóides, torna a transgenia uma ferramenta especialmente útil para o desenvolvimento de variedades de cana fotossinteticamente mais eficientes, focadas no desenvolvimento para uma maior produtividade de sacarose e resistente à seca.

Possuímos um programa de testes de genes e de tecnologia de expressão gênica em cana com mais de uma centena de construções já testadas. Dessas, um grupo de genes estão em fase de experimentação de campo. Além disso, através de parcerias com outras empresas de biotecnologia, estamos desenvolvendo produtos de alto valor, um dos quais a cana RR/Bt, com previsão de lançamento em futuro próximo.