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Carlos Daniel Berro Filho

Diretor Agrícola da Biosev

Op-AA-60

Evolução do modelo de produção da cana-de-açúcar
O sistema sucroenergético tem passado, nos últimos anos, por muitas mudanças e atualizações no modo de produção agrícola, e de maneira rápida. Não muito tempo atrás, utilizávamos sistemas operacionais estritamente relacionados ao uso da mão de obra manual, enquanto, hoje, temos a mecanização em todas as etapas do processo.

O plantio, que sempre foi realizado com corte de muda e de forma manual, deu lugar às plantadoras; a colheita, que antes era de cana queimada, que assim permitia a colheita manual, deu lugar à colheita mecânica de cana crua. Somada às mudanças de sistemas operacionais, a produção de cana-de-açúcar adentrou no cerrado, em terras de menor fertilidade, exigindo, assim, práticas agronômicas mais intensivas e adoção de variedades com maior adaptabilidade a essa condição.
 
Nessa virada de modelo de produção, alguns componentes se mostraram favoráveis ao incremento de produtividade e acompanharam a evolução da agricultura. Dessa forma, segue um breve resumo do que temos de moderno na área agrícola atualmente: Preparo de solo: nos dias atuais, tem-se buscado preparos de solo com o mínimo de interferência possível. Via de regra, devemos garantir que o solo não esteja compactado e que esteja quimicamente corrigido, com o mínimo de interferência (entenda quantidade de operações) possível, preservando, assim, sua matéria orgânica e condição original de agregação, reduzindo erosões e, também, o custo de preparo. Importante destacar, neste ponto, a contribuição importante conseguida com o aumento de rotação de culturas, seja utilizando soja, amendoim, crotalária ou demais, com incrementos substanciais, tanto do aspecto técnico quanto do aspecto econômico.
 
Plantio: o plantio de cana vem sendo amplamente discutido em praticamente todos os fóruns técnicos do setor. Se, por um lado, o plantio manual trazia uma operação passível de falhas e todos os seus problemas relacionados, por outro, os sistemas mecanizados com sua proposta tecnológica, de plantio de toletes, não conseguiu garantir a mesma produtividade agrícola.

A operação mecanizada ainda possui dois problemas básicos: os danos causados aos toletes e às gemas, visuais ou não, pelo sistema de colheita com colhedoras e transbordamentos seguidos de esteiras nas plantadoras, seja pelo seu sistema pouco preciso de dosagem na quantidade de mudas no sulco.
 
Como solução, desenvolvemos os programas de produção de MPB (Mudas Pré-Brotadas), que consistem em sistema de plantio via meiosi com o uso de MPBs intercaladas com soja, amendoim ou crotalária, e sua desdobra, de forma manual. Desde então, conseguimos taxas de multiplicação ultrapassando 1x10, e hoje tem-se mostrado o sistema de melhor resultado técnico e econômico.
 
Tratos culturais: passando pelos tratos culturais, o que se observa é que, com o advento das novas variedades a cana-de-açúcar, passou-se a produzir mais e, dessa forma, exigir mais nutricionalmente. Devido a seu novo perfil de perfilhamento, o canavial, hoje, tem melhor fechamento, a brotação do plantio e da soqueira é melhor e, dessa forma, o controle de plantas daninhas, ainda importante, foi facilitado.
 
O controle de pragas continua tendo uma importância significativa, mas as soluções existentes para controle são efetivas e, assim, garantem bons resultados. O que temos hoje de mais moderno no assunto de tratos culturais invariavelmente passará por uso dos resíduos do processo produtivo, ou seja, a aplicação de torta de filtro, fuligem e vinhaça ao máximo possível nas áreas de cana, nutrindo o canavial por meio de fontes com matéria-orgânica, reduzindo custos na aquisição de fertilizantes e corretivos e balanceando, assim, a produção. 
 
Os micronutrientes e a adubação foliar ganharam força, pois o canavial tem genética para responder aos ganhos por esses proporcionados, e, mais recentemente, os ganhos relacionados ao uso de fungicidas e bioestimulantes têm ganhado destaque. Impossível não dar lugar de destaque para aquela que hoje seja talvez a maior inovação para o aumento de produtividade e redução de custos nos tratos culturais: o uso da vinhaça aplicada localizada na linha de cana-de-açúcar na forma de adubo, concentrada ou não, reduzindo custos com fertilizantes e trazendo inúmeros benefícios que se traduzem em aumento de produtividade agrícola.
 
Colheita: a operação de colheita desde sua concepção da forma mecanizada teve inúmeras inovações que conferiram maior eficiência, ano após ano. Em um primeiro momento, é importante destacar que o inimigo número um dos sistemas de colheita mecanizados, o pisoteio, hoje é um problema facilmente solucionável com as tecnologias existentes, usando equipamentos com “bitolas” ajustadas e embarcados de sistemas de GPS. Assim, a colheita mecânica não pisa mais sobre as soqueiras e deixa de afetar a produtividade nos próximos cortes.
 
Associado a estes, atualmente a colheita conta com computadores de bordo e uma clara sistemática de checklist e procedimentos operacionais padrão que convergem para uma colheita de baixo custo, alto rendimento e muito baixo impacto na produtividade agrícola do canavial. Importante aqui destacar a grande contribuição dos programas de melhoramento de variedades, que conseguiram trazer um perfil varietal adaptado a essa condição de colheita mecânica, tendo no perfilhamento sua maior virtude, seguido pela busca de materiais eretos, ou seja, de mais fácil colheita e limpeza, não levando impurezas para a indústria.
 
Por fim, de mais moderno, estamos vivendo a entrada da internet no campo, transformando gradativamente a operação agrícola do setor sucroenergético automatizada e controlada por sistemas centralizados que mensuram e retornam para as frentes de trabalho o status atual em tempo real, de forma a obter o máximo rendimento de cada operação.
 
Os avanços no desenvolvimento de novas variedades trouxeram a cana-de-açúcar novamente com fitotecnia apropriada para esses novos modelos mecanizados de produção industrial, garantindo alta produtividade e longevidade. A adoção de sistemas de preparo reduzido, com meiosi rotacionada com leguminosas e linhas mãe e viveiros através de MPBs, tem garantido que a produtividade da cana planta seja elevada e o custo de formação, reduzido.
 
O uso dos resíduos, aumento da matéria orgânica e entrada dos micronutrientes, fungicidas e bioestimulantes, somados às práticas existentes, têm elevado a produtividade agrícola da lavoura. A colheita embarcada com sistemas GPS e com computadores de bordo e automação, somada a programas de reciclagem e formação de operadores, tem garantido que o custo logístico dessa operação reduza significativamente, e seu impacto na produtividade agrícola do canavial seja mínima, assim como as impurezas.