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Wagner Gonçalves Rossi

Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Op-AA-29

Momento decisivo

Os mercados dos produtos derivados da cana-de-açúcar apresentam grandes perspectivas. Sem exageros, é possível dizer que a cana é a matéria-prima do futuro. Não bastasse a importância do açúcar na alimentação mundial e do etanol no abastecimento de combustíveis, além das perspectivas no mercado internacional, ainda há a contribuição da energia elétrica gerada a partir do bagaço.

Isso sem esquecer as pesquisas e descobertas na alcoolquímica e na obtenção de outros derivados do melaço. O problema é que, infelizmente, está faltando cana. Os estudos indicam que o País tem capacidade de moagem já instalada para 130 milhões de toneladas adicionais. É preciso retomar os investimentos para cumprir o objetivo de construir 15 unidades por ano com moagem aproximada de 4 milhões de toneladas cada uma. Isso para que seja atendido, em nível razoável, o crescimento do mercado de etanol.

Esse é um mercado sustentável que traz benefícios à sociedade brasileira. O setor carrega responsabilidades que o colocam em destaque na estratégia governamental de desenvolvimento e de aspectos de segurança e soberania nacional. Daí é preciso considerar que muito do seu desenvolvimento depende de ações conjuntas a serem desenvolvidas pelo governo e pela iniciativa privada.

E o mercado, que vislumbra esse enorme potencial, deve ser a chave da retomada do crescimento do setor. É somente com a confiança do mercado livre, dentro de parâmetros conhecidos, que será possível gerar o ambiente necessário aos investidores de longo prazo.

Para isso acontecer, incertezas têm de ser eliminadas. As inseguranças jurídicas também devem ser mitigadas. Tais decisões vão permitir maior rentabilidade do etanol. E elas têm de ser tomadas tanto pelo governo quanto pela iniciativa privada. É preciso enxergar o setor sucroenergético como um todo, para acertar as estratégias. E os mercados de açúcar e de energia gerada pelo bagaço devem ser cuidadosamente considerados.

A lucratividade das empresas, que em termos ideais devem estar profissionalizadas, preferencialmente com capital aberto às captações de recursos no mercado, precisam considerar os ciclos de preços dos diversos produtos derivados da cana. E tais ciclos nem sempre coincidem e, adequadamente considerados, podem representar a diferença entre investir ou não no setor.

A energia do bagaço tem impacto positivo e gera lucro. O açúcar, que está hoje com preços apreciados, contribui para que se suportem as tarifas do etanol que ainda não atraem investimentos. E,  posteriormente, tais preços podem entrar numa fase de baixa, quando o uso do ATR na produção do etanol ajustar o mercado mais rapidamente.

O governo vê o etanol como prioritário e merecedor de medidas diferenciadas. Mas, no caso do açúcar, entende que o mercado deve ajustá-lo segundo suas conveniências. É por isso que o governo dá prioridade ao etanol nas políticas públicas, sem, no entanto, tomar qualquer medida em prejuízo do açúcar, alimento de primeira necessidade no mundo.

A busca de maior eficiência e produtividade, em termos agrícolas e industriais, cabe ao próprio setor. Governo e mercado devem buscar junto à indústria automobilística maior eficiência dos motores flex. Ao governo cabem medidas relativas à diminuição de incertezas, assim como novos parâmetros para definição de recursos para investimentos e questões tributárias.

Todas as questões a cargo do governo serão agora mais facilmente discutidas, embora ainda sejam delicadas. A presidenta Dilma Rousseff tem coordenado pessoalmente as reuniões entre os ministros envolvidos. Ela já definiu algumas estratégias, atribuindo à ANP maiores responsabilidades e instruindo o Ministério da Fazenda a buscar meios de proporcionar maiores investimentos na produção de cana-de-açúcar para etanol e na construção de novas unidades produtoras, além de aprofundar os estudos nas questões tributárias.

O setor ganhou um status diferenciado, tendo enaltecida sua importância estratégica. Dentre as principais decisões mitigadoras de incertezas, está o percentual de mistura de etanol na gasolina, que deve ser definido de forma permanente e estável, considerando a disponibilidade e o mercado futuro a ser abastecido.

E apontando claramente a estratégia de abastecimento desse mercado, considerando inclusive a possibilidade de importação, que muito contribuiria para a internacionalização do produto assim como para a atração de investimentos.

Isso porque a produção de etanol de cana é muito mais eficiente que o etanol advindo de outras matérias-primas. Eventuais importações não são problemas no mercado globalizado. Ao contrário, agem como balizador de lucratividade e indicação importante para os investidores.

Da mesma forma, a incerteza quanto aos critérios da propriedade da terra, um tema complexo e que não deve inibir os investimentos de que a agricultura brasileira precisa e merece para cumprir adequadamente seu papel no abastecimento mundial. O momento é decisivo para a retomada dos investimentos. O País tem confiança em que conseguirá construir um ambiente favorável à concretização das perspectivas vislumbradas.