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Vitório José Bredariol

Crystalsev

Op-AA-02

A primeira usina do país a cogerar 12 meses por ano

Energia elétrica suficiente para abastecer continuamente durante os doze meses do ano uma comunidade de meio milhão de pessoas. Essa é a capacidade de cogeração da termoelétrica inaugurada há um ano e que se encontra em efetiva operação na Companhia Energética Santa Elisa, Sertãozinho. A termoelétrica da Santa Elisa utiliza unicamente combustível renovável de origem vegetal, a biomassa da cana-de-açúcar, e opera com um dos maiores geradores de vapor de alta pressão e temperatura do mundo.

O projeto tecnológico e os de viabilidades econômica, financeira, estratégica e operacional, desde os estudos direcionais até a implantação completa do projeto, foram desenvolvidos pela equipe interna da Santa Elisa, assessorada em algumas fases por parcerias que envolveram empresas brasileiras de elevado nível técnico, que, utilizando tecnologia de ponta totalmente nacional, viabilizaram o desenvolvimento, troca e implantação de um conhecimento de grande valor tecnológico.

Do total de 62 MW de potência elétrica instalada, menos de um quarto é consumida pela própria planta durante o período de safra, no processamento de 25.000 toneladas de cana/dia, 41.000 sacas de açucares de 50Kg e 1.500.000 litros de alcoóis, com consumo de vapor efetivo para o processo menor de 385 quilos de vapor, por tonelada de cana processada. O excedente de eletricidade gerado, na ordem de 130.000 MWh/ano, é vendido à concessionária CPFL.

Embora existam sistemas similares implementados em outras unidades do setor sucroalcooleiro, na prática, ainda não alcançaram os resultados previstos, principalmente com relação aos custos envolvidos, aos prazos de implantação e ao montante de energia efetivamente entregue, previsto nos projetos, ameaçando assim o retorno econômico esperado para o investimento realizado.

Há 10 anos, com a liberação dos mercados de geração e comercialização de eletricidade; o setor sucroalcooleiro, que até então produzia eletricidade exclusivamente para atender suas necessidades do processo industrial, iniciou, de forma tímida, algumas experiências para gerar e comercializar o suposto potencial excedente produzido. Em 1994, a Santa Elisa, como pioneira, assinou com a CPFL o primeiro contrato piloto para fornecimento de 20.000 MWh/ano de eletricidade produzida a partir do bagaço de cana.

Nos anos seguintes os investimentos continuaram a ser feitos na busca da melhoria de cada etapa do processo e, no ano 2000 a Santa Elisa certificou-se pela ISO 9002 para o processo de cogeração de energia elétrica e em 2003, recebeu o Selo de Certificação da ANEEL por utilização e racionalidade pelo uso, produção e exportação de eletricidade.

No final do ano 2000, antecipando-se à crise de energia que assolou o Brasil em meados de 2001, a Santa Elisa apresentou ao BNDES um projeto piloto de expansão da cogeração previsto para mais duas fases - 220.000 Mwh ano. Na crise de energia foi criado o aval da oportunidade para a viabilização do projeto, com reais benefícios para os produtores, consumidores, concessionárias e agentes financiadores.

A definição das características dos projetos para as fases de expansões também exigiu ousadia, visto que o setor sucroalcooleiro estava habituado a trabalhar com geradores de vapor de baixa pressão e temperatura, com altíssimo consumo para a transformação da cana em açúcares, alcoóis e eletricidade.

Como a relação operacional dispunha de um pequeno potencial piloto de geração de excedente, optou-se pela redução do vapor necessário ao processo, pelo repotencionamento das turbinas a vapor do preparo e extração para multiestágios, e pela adoção de especificações para a elevada capacidade de produção, pressão e temperatura de operação dos geradores de vapor com significativo aumento de eficiência.

Estas ações resultaram em fornecimento anual de excedente de eletricidade sem a utilização de combustível extra, não considerando, inclusive, a palha da cana, tornando a usina totalmente independente e auto-suficiente em eletricidade em relação ao sistema elétrico nacional tanto durante a operação na safra, como na entressafra.

Assim se colocou na condição de fornecer energia a consumidores finais continuamente através de contratos de longo prazo no mercado livre. Criou também benefícios diretos à capacidade instalada sem investimentos adicionais em novos equipamentos através do aumento de oferta de produção de alcoóis especiais (extra neutro, neutro, anidro peneira molecular), refinaria para açúcares líquidos (sacarose e invertido), vinhaça concentrada, mel em pó, e ainda a disponibilização para venda, anualmente, de algo em torno de 50 mil toneladas de combustível de biomassa, o bagaço de cana.

Com este projeto de expansão de fornecimento de eletricidade, a Santa Elisa tornou-se a primeira usina a cumprir integralmente, já no primeiro ano de contrato com a concessionária, a eficácia contratual de 100 %., exportando energia elétrica firme contínua e ininterruptamente por meses consecutivos, armazenando combustível durante o período de safra (maio a novembro) para uso na entressafra (dezembro a abril).

A quebra de paradigmas afastou o fantasma da impossibilidade e inexeqüibilidade da operação durante as entressafras, quebrando o tabu da sazonalidade que sempre marcou este setor, cumprindo a meta com baixíssimos índices de falhas e interrupções no fornecimento contratado com a concessionária. O novo sempre assusta.

O homem, por instinto de preservação, prefere o conforto daquilo que é conhecido ao stress que representa o embate com uma novidade e assim repete inconscientemente o comportamento observado durante toda sua historia. Entretanto, se este homem soubesse que quebrar paradigmas lhe faz experimentar um inesquecível sabor de vitória, ousaria mais e nunca pararia diante das barreiras do tipo “isto nunca foi feito assim antes.”

Paralelamente a este desenvolvimento, novamente à frente do tempo, a Santa Elisa, a Vale do Rosário e a Moema, todas pertencentes ao Grupo Crystalsev montaram um ante projeto na área de créditos ambientais gerados com tecnologias limpas e renováveis - os chamados Créditos de Carbono, visando os países que pretendem cobrir suas reduções de emissões de CO2 na atmosfera, a exemplo do governo sueco, que celebrou um acordo de compra e venda de créditos de carbono, “produto” hoje avaliado no mercado a Us$ 5,00 a tonelada.

Certamente a evolução não estacionará neste nível tecnológico no setor canavieiro. Empurradas pela relação custo-benefício, novas opções serão adotadas em breve. Opções tecnológicas já disponíveis e dominadas no mercado, a exemplo da recompressão mecânica do vapor, RMV, e eletrificação dos acionamentos pesados conduzindo o processo de transformação da cana de açúcar a menos de 250 toneladas de vapor por toneladas de cana processadas. O futuro sempre superará o passado. Ele está apenas à espera dos pioneiros.