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Tadeu Luiz Colucci de Andrade

Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento do CTC

Op-AA-28

A reconquista da liderança

Temos, nesta edição da Revista Opiniões, especialistas de diferentes áreas   mostrando os desafios vencidos e a vencer no setor hoje chamado de sucroenergético. Entre os principais desafios a vencer, estão: expansão da área cultivada, materiais genéticos mais adequados às novas áreas de plantio, novos produtos que poderão ser obtidos a partir da cana, exploração mais sustentável ambiental, social e economicamente, logística do corte, carregamento e transporte, formação de profissionais especializados, etc.

Cada um deles exigirá novos processos tecnológicos, e alguns estão nos colocando na fronteira do conhecimento já adquirido no longo período de exploração comercial dessa cultura.

A expansão da cultura para a chamada fronteira agrícola ocorreu com a utilização de variedades desenvolvidas para as antigas áreas produtoras. Isso significa que não necessariamente as produções serão obtidas nos níveis atuais, pois esse material genético não é específico aos novos ambientes de produção.

O suprimento de materiais adequados só ocorrerá no futuro como frutos de seleções regionalizadas que só agora estão ocorrendo. Nas áreas tradicionais, a adoção de tecnologias já desenvolvidas e não aplicadas  poderá, de imediato, alavancar a produtividade. Isso mostra, por incrível que pareça, que, se o setor produtivo ainda não usa adequadamente o potencial tecnológico disponível, dá para imaginar os desafios que terá com a revolução tecnológica que está a caminho.

Ainda nesse cenário, temos a produção de etanol utilizando como matéria-prima a biomassa da cana. No início do desenvolvimento dessa tecnologia, considerávamos apenas o uso do bagaço, pois este já estava na indústria como subproduto da produção de açúcar e etanol de primeira geração. Com o advento da colheita de cana crua, uma nova matéria-prima nos foi disponibilizada, a palha. Se o bagaço já estava na indústria, a palha tornou-se um elemento estranho quanto ao seu aproveitamento.

Não tínhamos máquinas adequadas para sua coleta e transporte. Seu processamento industrial era uma incógnita e, hoje, ainda, é um grande desafio. Os questionamentos ambientais colocaram as práticas agrícolas que, até então, haviam feito o sucesso dessa cultura, sob intensas críticas. As práticas trabalhistas deixaram de atender às demandas atuais. Novas pragas e doenças continuam a desafiar nossos cientistas, em busca de alternativas eficientes e sustentáveis.

O corte, carregamento e transporte, tanto da cana como da palha, desafiam pesquisadores a buscar sua otimização e desenvolver novos equipamentos. Para a cana, já temos definidos a distância máxima economicamente viável para seu uso, equipamentos de corte e carregamento com boa oferta no mercado.

Para a palha, ainda estamos no início dos estudos, que deverão definir os parâmetros econômicos de sua utilização. Ainda quanto à palha, teremos que definir o quanto será tecnicamente correto retirarmos da área colhida e como iremos solucionar a grande quantidade de terra que levamos para a indústria.

O transporte ainda é refém do modal rodoviário, e essa prática é, cada vez mais, questionada em nossas rodovias, principalmente quando próximo aos centros urbanos. E a busca de novos modais está estagnada no âmbito da pesquisa.

Quanto à disponibilidade de técnicos especializados em processos agrícolas e industriais, já houve a crise na última onda de crescimento da cultura, e, agora, se considerarmos a necessidade futura de suprimento que o mercado terá que atender, fica claro que nova onda expansionista chegará e não será suportada por oferta adequada de profissionais. No processamento industrial, o consumo de água, a emissão de gases e o destino dos subprodutos passaram a ser questionados e estão em pleno processo de melhorias.

As soluções para esses desafios, sem dúvida, serão encontradas, mas nos colocam em uma situação-problema: se aplicarmos todo o esforço na busca de soluções totalmente inovadoras, como a produção de etanol de segunda geração, corremos o risco de, após a hidrólise da biomassa, direcionarmos o processo de fermentação para a mesma tecnologia que produz o etanol de primeira geração, e essa tecnologia tem sido ignorada quanto à atualização pela pesquisa.

Outro risco que corremos é a fragmentação da pesquisa nas diferentes áreas, tanto da pesquisa básica quanto da aplicada. Estas, se não passarem por uma coordenação eficaz e transparente, poderão consumir enormes recursos e produzir processos agrícolas e industriais que não sejam aplicáveis na exploração da cana-de-açúcar, e, pior de tudo, poderemos nos tornar concorrentes de nós mesmos na busca de soluções.

Portanto cabe a todos os envolvidos com o setor sucroenergético uma ação efetivamente coordenada, para conseguirmos a liderança na exploração do potencial energético dessa cultura. A perda da liderança mundial na produção de etanol é apenas o primeiro sinal do quanto essa coordenação é vital.