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Newton Macedo

Diretor da Araujo & Macedo Consultoria

Op-AA-05

Colheita de cana queimada versus crua e populações de insetos e pragas

A mudança mais marcante nestes últimos anos no sistema de produção da cana-de-açúcar, com implicações importantes na mesofauna de um canavial tem sido a implantação da colheita de cana crua. A mesofauna no agroecossistema cana-de-açúcar compreende arachnídeos, colêmbolas, miriápodes, oligochetas, crustáceos, moluscos e diversas ordens de insetos.

Apenas uns poucos destes últimos podem constituir pragas de importância econômica para a cultura. Os poucos estudos comparativos, já realizados, entre mesofauna de um canavial submetido aos dois sistemas de colheita, queimada e crua, são praticamente restritos aos insetos. A presente abordagem restringe-se aos insetos (entomofauna) e é introduzida por duas questões básicas, advindas da mudança do sistema de colheita de cana:

 

  • O que muda na entomofauna do canavial com a colheita sem queima? A população de insetos, especialmente predadores e parasitóides, é substancialmente aumentada e torna-se diversificada. A queima do canavial, fator limitante das populações de insetos, tende a diminuir a diversidade, aumentando a de indivíduos de espécies comuns e diminuindo as mais raras. A vantagem da diversidade está na sobrevivência da comunidade, sem sobressaltos (surtos intenso de pragas), dando estabilidade à comunidade.
  • Como se comportam os insetos tidos como pragas no sistema convencional, com a mudança no sistema de colheita? Embora seja recente a adoção, em grande escala, do sistema de colheita de cana crua, nítidas mudanças já foram observadas no comportamento de alguns insetos e, certamente novidades ainda estão por acontecer. Considerando as pragas de importância econômica, na região centro-sul, nas áreas em que se queima a cana para a colheita, tem-se:

1. insetos de hábitos subterrâneos, como cupins, Migdolus e Sphenophorus: não há citação de que a não queima do palhiço influencia a dinâmica de sua populações e nos métodos de controle;
2. formigas cortadeiras (Atta bisphe-rica; A.capiguara e A.laevigata): A termonebulização é perigosa nas áreas sem queima, com riscos de incêndio;outros métodos tornam-se difíceis, com menor eficiência e maiores custos;
3. lagarta elasmo (Elasmopalpus lignosellus), inseto que ataca as brotações de soqueiras colhidas de julho a setembro, importante praga nas regiões de período seco prolongado no inverno: está comprovada uma redução substancial desta praga, nas áreas colhidas sem queima, como conseqüência dos hábitos de oviposição do inseto; nas referidas áreas ficam dispensadas medidas de controle adicional sobre este inseto;
4. broca (Diatraea saccharalis): há indicação de redução, como conseqüência da maior ação de predadores e parasitóides no ambiente sem queima; o controle deste inseto é feito biologicamente com o parasitóide Cotesia flavipes e com eventuais aplicações de inseticidas fisiológicos (hexaflumuron, novaluron e teflubenzuron);
5. cigarrinha da raiz (Mahanarva fimbriolata): há um aumento substancial da população desse inseto, tornando-se, em algumas áreas, uma praga extremamente daninha, devido às mudanças nas condições edáficas; por isso, é o inseto que merece mais atenção, quando a cana é colhida crua; no seu controle, uma série de medidas podem ser preconizadas como: método físico; método cultural (emprego de variedades resistentes); método biológico (microbianos), e o método químico.

Como métodos físicos, pode-se fazer o afastamento mecânico da palha da linha de cana ou retirada da palha da área. Estas medidas propiciam uma menor infestação, quando comparada à situação normal de palha, resultando em menor dano à lavoura, mas não evita totalmente a ocorrência da praga. O emprego de variedades resistentes é inviável porque, embora tenham sido observadas variações de infestações e de danos, conforme as variedades, na prática, todas as variedades cultivadas comercialmente sofrem ataques e estão sujeitas a perdas expressivas, quando a pressão de população na área é elevada.

O máximo a fazer é reduzir a participação de variedades mais susceptíveis. O controle biológico mais empregado é baseado em aplicações do fungo Metarhizium anisopliae. O controle químico, por meio da aplicação de produtos de alta ação sistêmica, como Aldicarb, Carbofuran, bastante utilizado inicialmente, mas que cederam espaço ao Thiamethoxam e Imidacloprid, tem se mostrado a alternativa mais eficiente, em termos de controle e, quanto ao aspecto econômico, é indispensável agregar ao conhecimento dos produtos o número e época das aplicações.

As pesquisas recentes indicam que os melhores resultados em controle e em produtividade têm sido obtidos com uma única aplicação do produto, quando esta é feita no intervalo entre a 1ª e 2ª geração do inseto, assim que atingir o nível de controle. Para se atingir este momento certo é indispensável um bom monitoramento da população da praga.

As populações médias de insetos, por metro linear da lavoura, são o parâmetro que vão definir quando se atingiu o nível de controle. Nos últimos 4 anos, observou-se que em áreas de canas colhidas na palha não têm sido, tão severamente atacadas como era de se prever, mesmo sob condições favoráveis ao desenvolvimento da praga, dando indicações de que está se estabelecendo, naturalmente, um controle do inseto nas áreas colhidas crua, em anos consecutivos, mesmo em Unidades que têm optado pelo controle químico exclusivo.

A melhor estratégia de controle da cigarrinha é o método associado inseticida e fungo, embasado em levantamentos sistemáticos das áreas sujeitas. Iniciando o controle, naquelas áreas colhidas no 2° semestre, quando a infestação atingir entre 3 ninfas/metro, aplicando o químico em ½ dose (alguns produtos), enquanto não houver boas condição de multiplicação do fungo, quais sejam: temporada chuvosa, com muita umidade no solo e um certo fechamento do canavial. Havendo necessidade de novas aplicações na mesma área, e as citadas condições forem favoráveis, pode-se optar pelo fungo.

A questão econômica, custo/benefício, tanto na cana crua, como na queimada, deve ser analisada para cada situação levando em consideração: nível de população; variedade; idade da planta; época da colheita e condições climáticas, para se obter o melhor proveito dos métodos disponíveis. A cana-de-açúcar, um supervegetal pela sua capacidade de conversão energética, é um agroecossistema de alta sustentabilidade. Esta característica, valorizada nos dias atuais e certamente muito mais no futuro, torna-se fortalecida com a adoção da colheita sem queima do palhiço, por ter aumentado a capacidade de produção por gerações e gerações, respeitando preceitos sócio-ambientais.