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Robson Cintra de Freitas

Diretor de Negócios de Etanol Celulósico do CTC

Op-AA-41

Etanol celulósico já é uma realidade

O etanol celulósico, também conhecido como etanol de segunda geração ou simplesmente E2G, tem sido fonte de interesse, pesquisa e muitos investimentos, principalmente na última década, em todo o mundo. E claro, no Brasil, o país da cana-de-açúcar, a melhor fonte de biomassa para produção de etanol celulósico, não é diferente.

Através do bagaço já presente nas usinas e do recolhimento sustentável da palha, até recentemente queimada ou deixada no campo, é possível aumentar a produção dos atuais 7.000 litros/hectare para 10.000 litros/ha, sem ampliar a área plantada na usina, mantendo ainda a produção de açúcar e de energia elétrica. Produzir etanol celulósico a partir de biomassa não é novidade, e já existe a tecnologia para tal há muito tempo.

O desafio atual é fazê-lo de maneira competitiva, com outras fontes energéticas, como, no caso brasileiro, com o etanol de primeira geração, produzido comercialmente, há várias décadas, nas usinas do parque sucroenergético nacional. Ainda existem alguns obstáculos a serem vencidos para que a tecnologia do etanol de segunda geração se torne comercialmente viável.

Dentre os mais relevantes, estão a redução do capital investido na implementação da tecnologia do E2G e a redução do custo das enzimas, que são responsáveis por, aproximadamente, 40% do custo operacional. Resolvida a questão do custo de produção, não tenho dúvidas de que o etanol celulósico decolará, pois ele tem muitas vantagens quando comparado ao de primeira geração:

1. é mais sustentável, pois faz um melhor aproveitamento da matéria-prima e dos seus subprodutos, além de consumir menos combustíveis fósseis no processo;
2. gera retorno financeiro mais rapidamente ao investidor, visto que, em 2 anos, é possível implantar uma planta de E2G operando a capacidade plena, enquanto uma nova usina de primeira geração leva de 6 a 7 anos para atingir sua maturidade de geração de caixa, principalmente devido ao tempo gasto para a formação do novo canavial;
3. menor necessidade de investimento inicial, permitindo a expansão da produção com apenas uma fração do capital necessário para implementar uma nova usina de primeira geração;
4. permite o uso da palha da cana, que, por razões ambientais, não pode mais ser queimada e terá que ser recolhida do campo.
Contudo o apetite do investidor no setor sucroalcoleiro tem sido reduzido desde a crise de 2008. Por falta de investimento, os canaviais envelheceram e se tornaram menos produtivos; alguns anos de seca contribuíram ainda mais para piorar a situação. No cenário atual, temos uma situação macroeconômica mundial desfavorável, que atinge diretamente o País e o setor.

As políticas de controle inflacionário artificialmente mantêm o preço da gasolina baixo e descolado do seu valor no mercado internacional. Com isso, o preço do etanol permanece baixo na bomba, não remunerando novos investimentos em capacidade produtiva. Na contramão, a frota de veículos no País tem crescido ano após ano, e as projeções indicam que essa ascensão deve continuar no futuro.

O Brasil não tem capacidade de refino para atender à demanda nacional de combustíveis: não temos portos nem armazenagem suficientes para importação dos mesmos e, mesmo que tivéssemos, seria péssimo para a balança comercial brasileira. Estudos recentes mostram que o etanol é a solução para atender à demanda nacional de combustíveis e, sem a expansão do parque produtivo de etanol nacional, corremos risco de desabastecimento antes de 2020.

Com a missão de produzir o E2G competitivo com o etanol de primeira geração, o CTC - Centro de Tecnologia Canavieira vem desenvolvendo a tecnologia desde 2007 e, até a safra de 2016/2017, pretende disponibilizá-la para o mercado. Em junho de 2014, o CTC iniciou o comissionamento de sua Planta de Demonstração, que, como o próprio nome indica, pretende demonstrar a tecnologia.

A planta, instalada na Usina São Manoel, no interior de São Paulo, tem como objetivo obter dados reais de processo e engenharia em escala semicomercial, que permitirão projetar uma planta comercial com menor custo de investimento e mais ajustada à realidade do setor sucroalcoleiro nacional. Diferentemente de outras tecnologias que têm sido anunciadas pelo mundo afora, a tecnologia de segunda geração do CTC foi concebida e desenvolvida especificamente para a biomassa da cana-de-açúcar e  permite a total integração com as usinas de primeira geração existentes no País, visando à otimização dos custos de instalação e de operação.

Com a sinergia existente entre as duas usinas, de primeira e de segunda geração, acredito que teremos um etanol celulósico mais barato que o etanol atual. O etanol celulósico é uma realidade sem volta e não só fará parte da matriz energética nacional, como será importante alavanca para a indústria nacional de etanol, garantindo a segurança energética brasileira, a redução dos gases de efeito estufa e a geração de milhares de empregos para o País.