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Paulo Roberto Gallo

Diretor Presidente da Authomathika

Op-AA-02

Medidas importantes foram tomadas, mas não o suficiente

Antes mesmo de ser oficialmente consolidado por meio de contratos efetivamente assinados, o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica, Proinfa, já proporcionou o primeiro ganho à sociedade brasileira, demonstrando cabalmente que, quando existe um cenário favorável, com taxas de financiamento mais civilizadas do que as que são habitualmente praticadas no Brasil, a iniciativa privada corresponde às necessidades e tem coragem suficiente para realizar investimentos em projetos de infra-estrutura.

A questão energética no Brasil vem sendo debatida com maior grau de intensidade desde a última grande crise do setor, que levou-nos ao temor do “apagão”, decorrente do quase colapso do sistema de geração de energia elétrica do país devido, de um lado, à crônica falta de investimentos no setor, e de outro, à péssima distribuição de chuvas da época, colocando em cheque nossa capacidade de geração de energia.

Embora, desde então, os céus tenham sido mais amigáveis, a questão energética continua sendo uma bomba relógio, cujo ponto de detonação ocasionalmente é atrasado em função, ora da melhoria de chuvas, hora da desaceleração da economia. Porém, uma previsão é inegável: em algum momento a médio prazo, em sendo mantidas as atuais condições de nossa matriz energética, vamos enfrentar novamente uma crise no abastecimento de energia, com conseqüências ainda não percebidas por muitos.

Atualmente, a capacidade instalada de geração de energia elétrica no Brasil é da ordem de pouco mais de 88 GW de potência. Existem projetos outorgados pelo Governo Federal, em fase de construção ou de projeto, que poderão elevar essa capacidade para algo em torno de 95,5 GW, o que implica em uma ampliação da ordem de 8% nos próximos cinco anos. Ainda há planos para a ampliação de mais 29 GW cujas projetos ou obras sequer foram iniciados.

Entretanto, à medida que recuperarmos a economia, haverá um aumento proporcional no consumo de energia e, os 8% de crescimento firmes para os próximos cinco anos, poderão ser ainda insuficientes. Além do “gargalo” previsto para a geração de energia, existem ainda dois aspectos a serem levados em consideração: a sua transmissão e a distribuição.

Não basta gerar energia em quantidade suficiente; é necessário levar esta energia aos centros consumidores (transmissão) e, a partir das subestações localizadas próximas aos centros consumidores, entregar esta mesma energia aos consumidores finais (distribuição). Nesse último segmento, ainda que entregue à iniciativa privada, pouco tem sido investido nos últimos anos.

Na transmissão, a situação é ainda pior, com investimentos praticamente nulos na construção de novas linhas. O Proinfa, por definição, irá privilegiar a questão da geração da energia alternativas. Ao final de sua implantação, irá permitir a inclusão de 3.3 GW no sistema elétrico brasileiro, o que representará algo em torno de 3,75% de aumento sobre a capacidade atual. Pode parecer pouco, mas o projeto tem uma particularidade que o torna interessante.

Trata-se do fato de “pulverizar” a geração de energia, permitindo um melhor aproveitamento do sistema de distribuição hoje existente. Assim, aumentamos a oferta de energia sem transportá-la pelas linhas existentes, gerando um resultado sinérgico que poderá nos permitir ganhar fôlego até que investimentos mais consistentes venham a ser viabilizados.

A melhor distribuição da geração terá um impacto direto sobre a geração hoje disponível, em que praticamente 70% da capacidade instalada encontram-se localizadas em apenas quatro estados da Federação: São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Goiás. Outro aspecto de grande importância do Proinfa reside na capacidade de geração de empregos decorrente da implantação dos projetos.

O Brasil já tem competência para fornecer os equipamentos e obras estruturais necessárias à implantação dos projetos, com baixíssima dependência de tecnologia externa, permitindo que os recursos financeiros permaneçam aqui dentro, gerando empregos e crescimento em toda economia. Aos empreendedores que irão concretizar o projeto, um alerta: dado ao cronograma apertado das obras, é bom que os contratos comecem a ser fechados tão logo seus projetos sejam aprovados.

Na classe de geração a partir de biomassa, por exemplo, podem vir a faltar fornecedores em quantidade suficiente para a entrega de tantos equipamentos em tão pouco tempo. A todos nós, empreendedores, fornecedores e parceiros, está colocado um grande desafio, por parte do Governo Federal. Se o vencermos de forma convincente, este poderá ser apenas o primeiro de uma série de programas que possam, efetivamente, re-inserir o País na rota do de desenvolvimento que todos nós queremos, e de que tanto necessitamos.