Me chame no WhatsApp Agora!

Dario Costa Gaeta

Diretor-presidente da Zanini

Op-AA-43

A solução está ao nosso alcance

O tema mais importante dos últimos meses e seguramente dos próximos é a energia. Em todos os países onde se valoriza a indústria, três são os fatores imprescindíveis para garantir o seu crescimento: matéria-prima, mão de obra e energia. A falta ou escassez de um ou mais desses recursos pode desacelerar o processo de industrialização, causar dependência de importação energética ou mesmo, em casos persistentes, acabar com a indústria de um país.

Felizmente, o Brasil é privilegiado em todos os três fatores. Temos uma das maiores populações do planeta, fornecendo mão de obra abundante (mas não necessariamente qualificada). Nossas dimensões continentais oferece todo tipo de matéria-prima para ser transformada em abundância, e sua geografia e clima apresentam as melhores condições para gerar energia: eólica, hidráulica, térmica de biomassa, entre várias outras. Mas nem tudo são flores em terras tupiniquins. Para que todas as engrenagens funcionem corretamente e da maneira mais eficiente possível, uma política energética correta é a diferença entre o sucesso e o fracasso.

A história brasileira mostra que, no longo prazo, temos acertado sempre nossas apostas quanto à política energética. A nossa política está muito longe de poder ser comparada com a norte-americana. Lá, o interesse da nação sobrepõe-se a quaisquer outros interesses. Os objetivos traçados são respeitados por presidente após presidente, que tem consciência de que toda infraestrutura não se faz em um só mandato. Às vezes, em três ou quatro.

Enquanto isso, no curto prazo, estamos vivendo a tempestade quase perfeita. Quem imaginou que no país desenhado com artérias fluviais, cavernas com água pura do Guarani e chuvas abundantes no verão chegaria a se pensar que os rios iriam secar e reservatórios apontariam seu nível  ao mínimo histórico? Ao mesmo tempo, quem imaginou que o preço “administrado” de energia para agradar ao consumidor acabaria por sucatear nossa infraestrutura de geração e distribuição e que, em prol do povo, os preços mais uma vez “administrados” da gasolina acabariam por colocar na beira do precipício, numa só tacada, as duas maiores indústrias energéticas do País: a sucroenergética e a Petrobras?

A tempestade descrita traz consigo consequências importantes: nunca se viu tanto raio cair em pontos estratégicos de distribuição de energia elétrica causando panes temporárias. Problemas técnicos são observados frequentemente, provavelmente por causa das descargas elétricas, resultando em “apagões seletivos”. Por fim, outro fenômeno “natural” é o excessivo consumo de energia por parte das indústrias, fazendo com que exista uma sobrecarga no sistema. Afinal, nosso Produto Interno Bruto nunca esteve mais pujante. Estamos a poucos passos do final da tempestade. A solução é conhecida e está ao nosso alcance.

O único problema citado neste artigo que, por enquanto, não temos como melhorar é o regime descontrolado das chuvas. Todo o resto é muito simples. A solução da produção de combustível e de caixa da Petrobras passa, necessariamente, pelo setor sucroenergético. Sem dúvida nenhuma, quanto mais investimento ocorrer na indústria de etanol, mais rápida será a recuperação operacional e financeira da Petrobras. Negar a existência de uma correlação entre ambas é um pecado empresarial.

Entre as várias inter-relações possíveis, uma radical parece-me mais atraente: assim como hoje, teríamos dois tipos de combustível para os automóveis: um seria a gasolina misturada com etanol (E25), que já conhecemos, para ser usado nos carros não flex, cujo preço seria acima de R$ 6 por litro; o outro combustível seria uma mistura, administrada pela ANP ou outro órgão regulador, de todo o volume de gasolina misturado com todo o volume de etanol produzido num determinado período de tempo. Todos os carros flex usariam essa mistura, cujo preço flutuaria de acordo com o percentual de etanol e gasolina de cada período.

Assim, quanto maior o volume de etanol usado nesse novo combustível, menor seria o de gasolina a ser importado pela Petrobras. Essa redução da importação funcionaria de imediato, ainda mais com nossas refinarias nos seus limites produtivos. O preço desse novo combustível promoveria a maior produção de etanol, reduzindo a importação de gasolina. Entraríamos num círculo virtuoso cujo equilíbrio seria encontrado no limite de produção de gasolina e etanol. Os 3 milhões de veículos que entram no mercado por ano impulsionariam a construção de uma usina de etanol por mês e uma nova refinaria num tempo mais longo, por causa das dinâmicas de cada mercado e de escala de cada unidade.

O brasileiro é criativo e lutador; os problemas terão soluções. Mas, como nem tudo é perfeito, sofremos de um apagão com poucas chances de mudar no curto prazo. Trata-se de outra área estratégica, largada ao sabor do vento e com muito menos apelo econômico se comparado ao de energia: a educação. Sem ela, cresce o coeficiente de ignorância entre nós, brasileiros. Esse crescimento acelerado, infeliz e inversamente proporcional, faz com que nos falte a energia de querer mudar.