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José Alencar Magro

Diretor da Campofértil Consultoria Agronômica

Op-AA-05

Colheita mecanizada da cana-de-açúcar

A base consistente, na qual está fortalecida a certeza da possibilidade de garantir-se a alta produtividade agrícola da cana, está apoiada no conceito de que a planta precisa vegetar em condições favoráveis, que atendam às mínimas exigências da fisiologia da cultura. O solo descompactado e as gemas saudáveis da soqueira são algumas das condições imprescindíveis que proporcionam à cana, brotação e vegetação exuberantes, nos vários cortes do ciclo.

A prática pela vivência agronômica tem demonstrado que quanto maior o vigor vegetativo das plantas, maior será a produtividade agrícola da cultura. A lógica também nos garante que se tenha a certeza de que as gemas da soqueira amassadas pelo tráfego na área de cultivo, também não irão brotar com normalidade, o que leva à ocorrência de falhas no canavial.

Estas situações indesejáveis estão ocorrendo em quase todo o setor canavieiro na atualidade, quando ocorre o tráfego sobre a linha da cana, seja na colheita manual ou na mecanizada. O grau de dano no canavial está diretamente ligado à quantidade de linhas de touceiras sobre as quais ocorre o tráfego, ao teor de umidade do solo, à largura dos pneus e à variedade da cana.

O item mais grave, que é impossível de ser solucionado ou evitado, é o da umidade do solo no momento do trânsito, pois em todo o período da safra, sempre ocorrem chuvas em épocas, que são diferentes de um ano para o outro. Esta situação agrava-se caso esteja colhendo também em área de 1º corte, que pode levar até à perda do canavial precocemente, por danos do pisoteio na soqueira, porque o solo ainda não está compactado e há o afundamento das rodagens.

Tal situação está sendo comprovada por grande parte do setor canavieiro, com a decisão tomada ultimamente, de evitar-se a colheita mecanizada da cana nos primeiros cortes, enquanto a lei da queimada ainda permitir a despalha da cana com fogo para a colheita manual. Este fato é a prova mais consistente que confirma que há um consenso amplo do setor quanto ao dano causado pelo pisoteio do tráfego, na linha da cana.

Fazendo-se uma análise ampla de como se passou a fazer uso da mecanização nas diversas culturas ao longo do tempo, verifica-se que em todas elas foi necessário fazer mudanças, muitas vezes radicais, nos procedimentos técnicos, para poder fazer uso da mecanização em sentido amplo, principalmente, o da colheita. Há até o caso de algumas culturas, que nem existiriam em extensas áreas, como é o caso da soja, porque necessitam serem colhidas mecanicamente.

Na mesma situação está a cana na Austrália, que precisa ser colhida mecanicamente, porque não tem mão de obra disponível para os serviços agrícolas. Com a cultura da cana, de um modo geral, acontece o mesmo fato, pois entre sair do sistema de colheita manual e passar para o sistema mecanizado, faz-se necessário adotar novas práticas para se ajustarem às exigências das operações mecanizadas, desde o preparo do solo até os tratos culturais da soqueira.

Não há dúvida que, na atualidade, do que se sabe sobre a colheita manual, concluiu-se que se deve abandonar muitas técnicas usuais e adotar outras novas para poder colher mecanicamente e, se for de cana crua, as mudanças serão mais radicais ainda. A boa colheita mecanizada exige que haja ampla compatibilidade das técnicas adotadas, que irão influenciar no grau de adensamento do solo, nos danos às gemas da soqueira, no crescimento do sistema radicular, na densidade e no diâmetro dos colmos, no espaçamento e no paralelismo da sulcação e nas necessidades da engenharia dos equipamentos usados nas operações sobre o canavial.

Portanto, é imprescindível que haja uma perfeita combinação das necessidades da cultura e da engenharia dos equipamentos. Quando os procedimentos estiverem todos compatíveis entre si, será possível ter pouco adensamento do solo e ter poucas perdas da produtividade agrícola. Em todo o processo de adoção da colheita mecanizada, deverão ocorrer, com os plantadores da cana, mudanças nos seus paradigmas e conceitos técnicos, nas definições tecnológicas, nos interesses comerciais e, principalmente, no despertamento técnico dos fabricantes e projetistas dos equipamentos.

Este último item refere-se ao fato que mais influiu nos resultados dos estudos para a implantação racional da colheita mecanizada, pois ocorreram irregularidades nos experimentos e nos plantios comerciais, em função de usar-se equipamentos, que não eram apropriados para alcançar o principal objetivo proposto, que era o de não perder produtividade agrícola, ao passar-se da colheita manual para a mecanizada.

De todos estes itens, deve-se dar muita atenção na questão espaçamento da sulcação e seu reflexo na produtividade agrícola, com o uso da motomecanização nas operações agrícolas. Pelos estudos que temos realizado, chegamos a um sistema de exploração da cultura canavieira, incluindo a definição dos melhores espaça-mentos, nos quais a colheita também pode ser mecanizada, o que proporciona ótimos ganhos de rendimentos e de produtividade agrícola.

A escolha do melhor eixo do espaçamento da sulcação no plantio da cana é determinada pela definição que deverá ocorrer por parte do plantador desta cultura, em relação ao nível de satisfação que pretende atingir. Se pretende ter o mínimo de problemas e até promover o aumento da produtividade agrícola, deverá optar por espaçamentos não convencionais, mas já experimentados, e ainda usar equipamentos com poucas ou muitas modificações, que irão viabilizar com muito sucesso a adoção da colheita mecanizada, até de cana crua.