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Otávio Lage de Siqueira Filho

Presidente da Jalles Machado

Op-AA-19

Com certeza, o time Brasil ganhará

Após oito anos e meio afastado das atividades empresariais, por estar exercendo o mandato de prefeito de minha cidade, retorno à iniciativa privada no momento em que o setor sucroalcooleiro e a economia - nacional e mundial, passam por uma crise de grandes proporções. Muitas mudanças ocorreram, neste período, no setor sucroalcooleiro.

Impressionante como o Brasil é competitivo no agronegócio, como os empresários investiram e como a tecnologia avançou na agricultura, principalmente na cana-de-açúcar. Exemplo disso é o uso de GPS para plantio, colheita da cana e aplicação de herbicidas com máquinas modernas e de alta produtividade. O uso de tecnologia de informação, como computadores de bordo, telemetria e softwares de gestão tem permitido a otimização dos recursos disponíveis, com ganhos de produtividade e redução de custos.

Na área agrícola, muita pesquisa tem sido feita por instituições públicas de peso, o que vai permitir o crescimento da produção de cana nas áreas existentes e em áreas de pastagens degradadas do cerrado, como as que temos no nosso estado de Goiás. A irrigação pode proporcionar um grande salto de produtividade e as novas variedades pesquisadas são promissoras, pois muitas pesquisas são feitas em locais não tradicionais e em condições diversas de solo e clima do Estado de São Paulo, o grande produtor nacional.

Entidades como o IAC - Instituto Agronômico de Campinas, CTC - Centro de Tecnologia Canavieira,  Ridesa - Rede Interuniversitária de Desenvolvimento do Setor Sucroalcooleiro (sucessora do Planalsucar) e Canavialis, têm investido muitos recursos para o desenvolvimento de variedades que demoram até dez anos para serem viabilizadas economicamente.

Estes programas vão garantir a produtividade, a qualidade e a competitividade do setor sucroalcooleiro por muitos anos, através do desenvolvimento de variedades regionalizadas. Esse trabalho vem sendo conduzido desde 2001 pelo IAC, 2003 pelo CTC e 2004 pela Universidade Federal de Goiás, em nosso estado. Em alguns anos, teremos variedades mais produtivas e adaptadas às condições de cerrado.

A rotação de culturas nas renovações dos canaviais tem trazido, por outro lado, um incremento na produção de grãos nas regiões onde só havia a pecuária extensiva, que gera poucos empregos; além de promover a melhoria do solo e, consequentemente, a produtividade da cana. A adoção da mecanização plena da colheita de cana cria vantagens competitivas, aumenta a renda do trabalhador, permite a redução de custos, a preservação do meio ambiente (por não queimar a cana), a melhoria da qualidade física do solo (pela incorporação da palha da cana), o controle do mato invasor e a preservação da umidade do solo pela ação do colchão de palha da cana, que cobre a área após a colheita.

O uso da cana-de-açúcar, do bagaço de cana cru ou hidrolisado e da levedura como fonte de proteína tem permitido o desenvolvimento da atividade do confinamento bovino com engorda intensiva, substituindo o sistema tradicional de engorda a pasto. Além de produzir açúcar e álcool, o setor pode incrementar muito a oferta de energia elétrica, fundamental para qualquer país que deseja crescer.

Energia elétrica limpa, descentralizada, mas com fácil inclusão no sistema elétrico nacional, aproveitando-se a grande malha de redes de transmissão existentes e interligadas pelo modelo energético brasileiro. Modelo, aliás, que tem recebido bilhões de reais em investimentos de empresas estrangeiras, muitas delas espanholas, que estão acreditando neste potencial. Entre as oportunidades de melhoria na área industrial do setor sucroalcooleiro, pode-se destacar:

• A produção de energia elétrica deverá crescer com novas tecnologias na geração de vapor, com equipamentos de alta pressão, bem mais eficientes.
• O uso de motores elétricos e hidráulicos, em substituição às turbinas a vapor para o acionamento das moendas, igualmente permitirão ganhos de produtividade para gerar mais energia elétrica e ajudar no incremento da receita das empresas.
• O aproveitamento da palha da cana após a colheita mecanizada poderá incrementar mais a geração de energia elétrica.
• A fermentação da vinhaça para aproveitar o biogás (metano) nas caldeiras de vapor tende a ser uma oportunidade de incrementar a produção de energia elétrica.
• A sangria da levedura no processo de fermentação é uma oportunidade para produzir fonte de proteína para alimentação humana e animal.
• A vinhaça gerada na proporção de 13 litros para cada litro de álcool produzido, antes um problema para o meio ambiente, hoje é um importante insumo na adubação da cana, como fonte de potássio, e na ferti-irrigação da cana, aumentando a produtividade nas áreas de clima seco, como o que temos em Goiás.
• A torta de filtro e as cinzas das caldeiras também podem ser utilizadas para reduzir custos de adubação e proporcionar ganhos de produtividade.

O empresário, hoje, tem uma consciência ambiental muito maior. A procura de certificações socioambientais e a exigência de fornecedores também comprometidos com a sustentabilidade do negócio a longo prazo são uma realidade no setor sucroalcooleiro. O setor produz açúcar orgânico e energia elétrica limpa, vende créditos de carbono e ao realizar essas ações, contribui para uma mudança de comportamento das pessoas e das comunidades em que as empresas estão inseridas.

As ações sociais também são características do setor, que investe em capacitação de pessoas, atendimento médico-hospitalar, creches e escolas. Os municípios que possuem usinas detêm um IDH mais elevado, com maior qualidade de vida da sua população. Isso em função da maior arrecadação de tributos e da participação das empresas em muitos projetos da comunidade.

O setor sucroalcooleiro cresceu em volume de produção e, hoje, o Brasil é o grande produtor e exportador de açúcar, ditando as regras de mercado. As perspectivas a médio e longo prazo são promissoras, pois temos condições favoráveis de clima, áreas agricultáveis disponíveis de pastagens degradadas, sem risco de comprometimento da produção de alimentos e das reservas naturais.  

Temos desafios de logística, do custo de capital, do ônus tributário, mas, com diálogo e bom senso, por parte dos governos federal e estaduais, haveremos de transpor esses obstáculos. O setor sucroalcooleiro é competitivo e detém a tecnologia necessária para aumentar a produtividade e baixar os custos. O resultado será a geração de muitos empregos e renda para o Brasil crescer, com sustentabilidade.

A crise pela qual passa o setor é momentânea, e de menor intensidade que a de 1999, quando não tínhamos mercado para o álcool carburante e os preços de venda eram bem abaixo dos custos de produção. As crises acontecem de tempos em tempos e são oportunidades que temos para reciclar, inovar, questionar e tomar medidas que não temos coragem nas épocas de normalidade e que permitem saltos de produtividade e ganhos de eficiência, tornando o setor mais competitivo.

Como se vê, as janelas de oportunidades são inúmeras e o Brasil, com certeza, terá um papel de destaque no cenário mundial, como grande produtor de combustível ecologicamente correto, renovável e limpo, e como grande gerador de empregos, numa época de tantos desempregos. O jogo está começando e o resultado só acontecerá no final do segundo tempo.

Alguns jogadores serão expulsos, outros sairão por falta de preparo, e outros porque vão se machucar. Mas, com certeza, o time Brasil ganhará. Volto para a empresa que ajudei a fundar, crendo no potencial de nossa equipe e na sua força de trabalho. Força essa que é o motor de todo o progresso que conquistamos ao longo dessas 26 safras de nossa existência.