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Celso Procknor

Presidente da Procknor

Op-AA-43

Comunicação com a sociedade é a energia que nos falta

Habituado que estou à elaboração de textos de natureza técnica, fui surpreendido pelo amável convite da Revista Opiniões para escrever sobre um tema de natureza institucional. Como sou movido por desafios, vou tentar dar conta do recado. Para o atendimento de uma proposta dessa natureza, é sempre bom contar com a colaboração de expoentes nas suas respectivas atividades.

Li, recentemente, duas matérias muito interessantes, uma do biólogo Fernando Reinach e outra do professor José Goldemberg, aliás, meu professor na Poli e que nos pagou um jantar “pendura” algumas décadas atrás. Ambos os textos foram publicados no jornal O Estado de São Paulo, vale a pena conferir.  O Dr. Reinach discorre sobre os “Sinais vitais da humanosfera”. Ele começa lembrando os sinais vitais que, normalmente, utilizamos para monitorar o adequado funcionamento do nosso organismo, como a temperatura do corpo, a pressão arterial, a frequência cardíaca, a composição do sangue, além de vários outros.

E, depois, ele informa que, de maneira análoga aos sinais vitais da vida humana, os cientistas já iniciaram a definição de quais seriam os sinais que deveriam ser monitorados em relação ao nosso planeta, com a finalidade de garantir a sobrevivência das nossas sociedades. Os cientistas selecionaram oito grandes processos que precisam ser monitorados: as mudanças climáticas, a integridade da biosfera, a composição da estratosfera, a acidificação dos oceanos, os fluxos biogeoquímicos, a cobertura dos solos, o uso de água doce e a quantidade de aerossóis na atmosfera.

Por exemplo, o intervalo adequado da concentração de gás carbônico na atmosfera estaria entre 350 e 450 ppm, sendo o valor atual de 398,5 ppm. O Professor Goldemberg discorre sobre “O fim da era do petróleo”. Ele começa mencionando que a pergunta que se faz atualmente em todo o mundo: “Como o preço do petróleo pode ter recuado mais de 50% em tão pouco tempo?”, não é a pergunta correta. A pergunta correta seria: “Por que o preço do petróleo atingiu o valor absurdo de US$ 140/barril, sabendo-se que o seu custo de produção é muito mais baixo?”.

E, depois, ele informa que o consumo de petróleo nos países industrializados caiu de 50,1 milhões de barris por dia, em 2005, para 45,5 milhões de barris por dia, em 2013, tendência esta que se iniciou antes da crise financeira de 2008. Basicamente, o preço do petróleo está caindo por causa de questões estruturais. Cada vez mais, se extrai petróleo com maior eficiência e em várias partes do mundo, o que provoca menor necessidade de importações dos grandes produtores.

Cada vez mais, veículos mais eficientes, híbridos ou elétricos, reduzem o consumo específico de gasolina e de diesel. E a China, o mais importante consumidor de energia no mundo em desenvolvimento, anunciou que as suas emissões de carbono atingirão o máximo no ano de 2030 e devem declinar daí em diante. Se essas tendências se confirmarem no longo prazo, quem vai quebrar não são os produtores americanos de gás e de óleo de xisto, mas sim os produtores de petróleo com alto custo de extração.

Será que alguma empresa brasileira estaria correndo esse risco se não fosse estatal? Esses dois excelentes artigos têm tudo a ver com os desafios que enfrentamos no campo da produção de energia renovável. O primeiro texto mostra como será importante para a preservação da humanidade monitorar e controlar, na medida do possível, os sinais vitais do nosso planeta, usando, de forma responsável, os recursos naturais disponíveis para a preservação do meio ambiente.

Naturalmente, pode ser uma questão de mais ou menos tempo, mas a sociedade vai se convencer de que deve reduzir as emissões de carbono. O segundo texto mostra que, por sua própria natureza, as energias renováveis e as medidas para aumento de eficiência energética são atividades descentralizadas e, portanto, menos suscetíveis de terem seus preços controlados por cartéis, os quais só funcionam quando existem poucos produtores.

Posso, agora, voltar ao tema desta edição para dizer que, na minha opinião, a energia que nos falta (e que nos tem faltado) é a energia para explicarmos esses conceitos à nossa sociedade. Necessitamos de energia para desenvolvermos uma comunicação eficaz com a sociedade e com aqueles que tomam decisões por ela. Nossa sociedade deve ser esclarecida para dizer ao Sr. Lula que, se o petróleo fosse um fator determinante para a prosperidade de um país, o Japão seria pobre, e o Irã seria rico.

Aqui, na nossa malfadada América Latina, vale a mesma comparação com o Chile, com a Venezuela. Obrigar a Petrobras a correr 30% dos riscos de exploração do pré-sal é um contrassenso. Nossa sociedade deve ser esclarecida para lembrar à Sra. Dilma que a decisão de zerar a Cide e passar a subsidiar um combustível fóssil em detrimento de um renovável foi um típico jogo “perde-perde”. Perdemos os investidores na produção de etanol, perdeu o caixa da Petrobras e perdeu o pagador de impostos de baixa renda que, sem saber, subsidiou a gasolina de gente que tinha renda para pagar um preço justo.

Nossa sociedade deve ser esclarecida para informar ao Sr. Stedile que, nos países desenvolvidos, cada vez menos gente trabalhando no campo está produzindo cada vez mais alimento para gente vivendo nos médios e grandes centros urbanos. A urbanização das sociedades humanas mais desenvolvidas é uma tendência irreversível. Só não enxerga essa tendência quem é míope ou mal-intencionado. O combate ao agronegócio é puramente ideológico; a minha experiência profissional mostrou claramente como a renda das comunidades no interior aumenta de forma significativa quando um empreendimento agroindustrial é implantado em regiões remotas.

Precisamos explicar aos moradores desses centros urbanos que eles necessitam de energia renovável e não poluente, não só para garantir a saúde do planeta, como já mencionado, mas, principalmente, para garantir a sua própria saúde. São inúmeras e incontroversas as evidências dos prejuízos à saúde pela poluição causada pelo uso de combustíveis fósseis.

Precisamos informar ao nosso governo que estamos indignados pelo fato de o Brasil ter ficado a reboque nos últimos eventos internacionais sobre as mudanças climáticas. Perdemos nosso protagonismo nessa área, o que é lamentável para um país com as nossas potencialidades. Até a China, o grande poluidor do planeta, ganhou mais protagonismo pelo acordo firmado com os Estados Unidos no final do ano passado. Precisamos esclarecer para a nossa sociedade que energia renovável, seja de qual fonte for, tem tudo a ver com produção descentralizada de energia.

Petróleo tem tudo a ver com produção centralizada e, por consequência, com cartéis. Cartéis são tudo o que os políticos querem. Podem controlá-los com mais facilidade, em favor dos seus interesses. E, se for um cartel estatal, melhor ainda! Precisamos convencer os nossos jovens de que não existe almoço de graça. O Brasil é um país muito desigual, e políticas de distribuição de renda são indispensáveis. Mas, antes de ser distribuída, a renda precisa ser produzida. Para produzir renda, necessitamos de crescimento econômico, pois a renda sempre é distribuída a partir dos impostos pagos por toda a sociedade.

É preciso lembrar que é muito mais fácil distribuir renda do que produzir renda. Hoje, o que não falta no Brasil é gente querendo distribuir renda sem produzir nenhuma. Precisamos de jovens que queiram produzir a renda a ser distribuída depois! Resumindo, a energia que nos falta é uma comunicação corporativa adequada com a sociedade proporcionada pelas entidades do nosso setor. E uma comunicação boca a boca com a nossa juventude, tarefa esta que deve ficar a cargo de todos nós. Haja comunicação! E haja energia!