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Antonio Carlos Porto Araujo

Consultor da Trevisan Consultoria

Op-AA-20

Mercado aberto a novos players no setor sucroalcooleiro

A indústria sucroalcooleira no Brasil mostra um dinamismo positivo, com progresso expressivo em termos de responsabilidade social, ambiental e governança. O enfrentamento das mudanças climáticas impôs uma descarbonização da energia, tanto para transportes, quanto para eletricidade, abrindo uma janela de oportunidades para a inovação tecnológica e para o aumento de produtividade no setor.

O país que, há dez anos, produzia cerca de 15,4 bilhões de litros de etanol, em 2008 atingiu uma produção de cerca de 24,3 bilhões de litros, demonstrando mais do que o aumento da área explorada: o ganho em produtividade. Se a evolução tecnológica e gerencial fez com que os custos de produção de açúcar e etanol fossem sensivelmente reduzidos em todo o mundo, o Brasil é uma das nações mais competitivas e nossos custos podem ser reduzidos ainda mais.

Além disso, a parcela na pauta de exportações poderá ser beneficiada, via câmbio/preço. Outra vantagem é que 50% da frota nacional é integrada por veículos que poderiam substituir a gasolina por etanol de cana. E para gerar tal volume de etanol, apenas 1% das terras agricultáveis do país seriam ocupadas. Esse quadro próspero envolveu empreendedores que se interessaram na construção de usinas no Brasil.

Dessa forma, verificou-se um ritmo de produção que atingiu um pico cíclico, causando um descasamento entre a oferta e a demanda. Em diversas usinas, as expectativas dos agentes e produtores de combustíveis eram a previsibilidade da safra e a estabilidade nas regras de mercado e preços. Porém, esse rápido crescimento na produção não foi totalmente acompanhado de mecanismos de eficiência administrativa.

Esta é uma das principais preocupações. Percebe-se que o setor não está estruturado para enfrentar este e os demais reflexos de mudanças no mercado. Como resposta de equacionamento desses gargalos, abre-se a possibilidade de consolidação no setor com fusões e aquisições. Num mercado globalizado, e agora abalado por uma expressiva crise mundial, há preocupação com queda de demanda, deflação de preço do concorrente petróleo e o represamento na captação de recursos financeiros para investimento e/ou rolagem de dívidas.

Os reflexos do ambiente macroeconômico no setor sucroalcooleiro mostram-se de várias formas, inclusive com margens em declínio. Esses impactos são mais sentidos nesse setor, em razão de algumas usinas terem seu modelo de gestão ultrapassado. A maioria delas mantêm administração familiar e tem seu foco no gerenciamento do caixa e não do lucro. Soma-se a isso uma falta de financiamento de longo prazo.

É importante ter cautela e flexibilidade no cumprimento de acordos de financiamento, mas sempre existe a possibilidade de rever antigos contratos. Mais do que nunca, é necessária a percepção do momento econômico e dos limites reais de capacidade de pagamento, para que seja possível cumprir as obrigações dos contratos.

Entretanto, com a entrada de recursos decorrentes do início da safra, espera-se o equilíbrio entre quitação de dívidas e reinvestimento. Outras alternativas para quitar dívidas, consideradas por boa parte dos produtores, são a busca por sócios investidores, a abertura do capital ou até mesmo a alienação do empreendimento.

O empresário rural percebeu que seu sucesso depende, cada vez mais, do conhecimento e da aplicação de princípios de administração estratégica aos negócios. Por isso, um planejamento cuidadoso faz a diferença, principalmente quando a decisão é abrir o capital. Fatores como ampliar a visibilidade e melhorar a imagem institucional são motivos relevantes, quando uma organização decide participar do mercado de ações.

Assiste-se, atualmente, a um mercado disponível para a entrada de novos atores e suscetível às fusões e/ou aquisições. Esse interesse advém, ainda, da cogeração de energia, que alcança destaque cada vez maior nas políticas energéticas. Essa conjuntura fortalece a formação de um oligopólio, dotado de uma série de vantagens em relação às demais nações, o que atrai o interesse de competidores externos.

A consolidação, bem como a profissionalização do setor sucroalcooleiro no país, envolverá negociações, principalmente, com grandes empresas transnacionais; grupos de investidores estrangeiros e brasileiros; empresas nacionais de capital aberto, que receberam aporte financeiro ou mesmo sócios estrangeiros; e fundos de investimentos em capital produtivo.

Essa tendência acarretará a disseminação da administração baseada em valor e risco, bem como o uso de ferramentas de suporte automatizadas para sua gestão. Os principais playersconcluíram que a verticalização e/ou concentração do setor não deverá suscitar preocupação sob o ponto de vista concorrencial, já que não existem altas barreiras à entrada no mercado, tendo o Brasil enorme quantidade de terras aptas para a agroenergia e sendo fácil o acesso à tecnologia da produção.