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Martinho Seiiti Ono

Diretor da SCA Etanol do Brasil

Op-AA-20

Fusões e aquisições

O Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar do planeta, o maior produtor e exportador de açúcar, o segundo maior produtor e o maior exportador de etanol. Outro dado impressionante é que essa produção dá-se em apenas 8 milhões de hectares de terras, comparando-se aos aproximadamente 90 milhões de hectares para o uso na agricultura e aos 200 milhões de hectares utilizados em pecuária extensiva, que poderiam ser disponibilizados, em parte, pela substituição do método, como na maior parte dos países, pela pecuária de confinamento.  

A disponibilidade de terras, a aproximação do preço do petróleo dos US$ 150/barril e as crescentes preocupações com as mudanças climáticas, resultaram na, praticamente natural, expansão do setor sucroalcooleiro. Diversos agentes passaram a enxergar o Brasil como foco para investimentos voltados para a produção de etanol, mesmo porque, em seus países, teriam que deslocar a produção de alimentos para a de biocombustíveis, com custos e rendimentos muito aquém dos obtidos com a cana-de-açúcar.

A lei da oferta e demanda, que rege os mercados, anuncia que deslocamentos da oferta, sem movimento da mesma magnitude da demanda, levam à redução do preço. Foi justamente o que resultou da entrada em operação de novos projetos, principalmente no oeste do estado de São Paulo e Centro-Oeste do Brasil.

Este cenário de preços internos próximos da linha de custos e o não desenvolvimento de novos mercados externos, além da não existência de bolsa de futuros, levaram a uma situação insustentável para vários produtores, propiciando que os mais capitalizados passassem a fazer aquisições e fusões, com ganho de escala.

A mesma tendência é observada no segmento de distribuição, no qual apenas cinco participantes detêm mais de 75% do mercado de gasolina e diesel. Além disso, as fronteiras que separam os elos da cadeia do etanol estão se verticalizando, uma vez que produtores passam a controlar distribuidores e postos de combustíveis, e empresas de combustíveis fósseis passam a ser sócias de usinas.

Grandes players internacionais interessaram-se pelo combustível limpo e decidiram investir no país. Grandes investidores gostam de grandes negócios e começaram a investir na compra de grupos nacionais ou mesmo unidades individuais. A SCA estima que investidores e grupos estrangeiros responderam por mais de 11% da produção de etanol da safra 2008/09, parcela significativamente maior que no início da década e em contínua ascensão.

Outra mudança recente no setor foi o início da abertura de capital de alguns produtores na bolsa de valores brasileira e de outros países. Isso aumentou a visibilidade do setor e facilitou o financiamento dessas empresas, além de permitir a maior participação dos estrangeiros na produção.

Podemos citar como fatores que impulsionam as fusões e aquisições, a alta volatilidade dos preços domésticos e internacionais do açúcar e do etanol, o fato de muitas unidades ainda terem estruturas familiares na gestão, mas com grande potencial de profissionalização, a visão dos investidores estrangeiros sobre a disponibilidade de terras, o clima favorável, tecnologia de ponta e menores custos de produção.

Por outro lado, podemos citar como desfavoráveis o fato das decisões em empresas familiares serem lentas, por envolverem muitos acionistas com disputas internas; a lógica dos vendedores desejarem ficar com o controle da gestão e os compradores em permanecer majoritários; e a possibilidade de se montar projetos novos.

Segundo levantamento da KPMG, os processos de fusões e aquisições no setor, apesar de expressivos como contexto de negócios, representaram apenas 2% do volume de cana moída no ano de 2003, mantendo o patamar até o ano de 2006. Porém, enquanto o número de novos projetos anunciados crescia constantemente até o ano passado, a crise econômica faz com que seja mais atrativo adquirir plantas já existentes do que arcar com os custos de uma nova construção, o que favorecerá a continuidade da gradativa consolidação do setor.

Entendemos que esse processo é sadio e continuará a acontecer, porque o ganho de escala será importante no futuro, tornando a comercialização menos abrangente e pulverizada, equilibrando as forças com a concentração dos compradores, assegurando preços compatíveis com o negócio. O setor sucroalcooleiro precisa muito de retorno sustentável, sem viver as bruscas e constantes volatilidades de preços.