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Toninho Tonielo

Presidente da Copercana e do Sicoob Cocred

Op-AA-31

A luz de alerta acendeu

O cenário para a agroindústria da cana-de-açúcar hoje é bem diferente de alguns anos atrás. A euforia em torno do potencial de mercado, principalmente para o etanol, fez o setor crescer.

Para se ter uma ideia, na safra 2009/2010, o Brasil colocou diversas novas unidades industriais em operação e ampliou a capacidade de produção de algumas já existentes. Na época, o horizonte que se enxergava era muito promissor, e ninguém imaginava que problemas climáticos, aliados à crise econômica mundial que teve início em meados de 2008 e se expandiu em 2009, freassem os investimentos em novos projetos no setor sucroenergético.

É certo que, atualmente, o grande desafio do setor é outro. A falta de segurança econômica não incentiva greenfields a investirem em novas unidades, tornando os números do setor, em 2011, menores dos que os obtidos em outras safras. O que pode mudar esse cenário? O governo decidir se quer realmente incentivar a produção de combustíveis renováveis.

Vou explicar: nenhum grupo nacional ou internacional vai investir em novas unidades industriais se continuar a existir essa instabilidade de preços para os produtos da cana-de-açúcar, mais especificamente para o etanol. Para que haja investimentos, é preciso a criação de mecanismos que assegurem preços regulares, independente dos fatores externos que possam aumentar ou diminuir a produção.

Antigamente, as usinas vendiam o etanol por R$ 0,40 o litro e ganhavam dinheiro. Hoje, o etanol é vendido a R$ 1,00 o litro e não remunera adequadamente os produtores, porque houve um aumento nos custos de produção, principalmente por agregação de tributos e leis trabalhistas e socioambientais que foram inseridas no cotidiano das indústrias. Os custos triplicaram, e os preços praticados não sofreram a mesma alteração.

Os produtores não podem continuar sendo onerados dessa forma, o governo precisa enxergar o valor do etanol e criar, por exemplo, uma CIDE - Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico, como é feito com a gasolina e o óleo diesel.

No caso desses dois combustíveis, o governo altera a CIDE toda vez que é necessário amenizar as flutuações dos preços internacionais do petróleo para garantir a manutenção da estabilidade dos preços dos combustíveis de origem fóssil. Dessa forma, as distribuidoras não perdem dinheiro e também não há aumento de preços para os consumidores finais.

É importante lembrar que, no mercado interno, temos uma demanda forte de etanol hidratado para fazer frente ao carro flex e de etanol anidro para mistura com a gasolina. Porém, é preciso que o etanol tenha preço. Nenhum industrial produz aquilo que não remunera. E nenhum empresário investe em produtos que não lhe assegurem retorno financeiro.

O governo sabe disso, mas precisa colocar as mãos à obra, viabilizando urgentemente políticas públicas para dar competitividade ao etanol.
Afinal, estamos falando de um combustível limpo e renovável, com resposta positiva ao apelo mundial na redução de emissão dos gases causadores do efeito estufa.

O Brasil detém hoje a mais competitiva tecnologia para a produção de biocombustíveis e é, também, um dos maiores players no mercado internacional de produtos do agronegócio. Pela sua disponibilidade de recursos naturais, não terá de derrubar florestas ou reduzir a produção de alimentos para ampliar a produção de etanol. O crescimento se dará com uso da tecnologia, melhoramento genético, tratos culturais e ganho de eficiência na indústria, como sempre ocorreu.

Podemos e devemos dobrar a produção de cana até 2020, chegando a uma produção de 1,2 bilhão de toneladas. Isso significa geração de empregos e melhoria de renda para a população, aumento de receitas para o nosso país. Com certeza, surgirão novas escolas, ampliação do comércio e desenvolvimento das regiões em que novas unidades industriais serão instaladas, já que, quando se fala na instalação de usinas, não é somente o industrial que está sendo privilegiado.

Há uma injeção de recursos que se distribuem ao longo da cadeia e que se refletem também no desenvolvimento de outras atividades. Enfim, a luz de alerta acendeu, agora, cabe ao governo estimular os biocombustíveis ou perder uma boa oportunidade de assegurar o desenvolvimento do País de forma sustentável.