Me chame no WhatsApp Agora!

André Luiz Baptista Lins Rocha

Presidente do Sifaeg e do Sifaçúcar – Goiás

Op-AA-25

Os desafios e a competência para vencê-los

Espero que o setor sucroenergético tenha aprendido algumas lições no ano de 2009.  O setor não tem um planejamento do total do que precisa ou deva produzir. O produtor, um otimista convicto, aposta que sempre haverá comprador, não obstante as dificuldades para transformar o etanol em uma commodity. A aposta é feita basicamente no mercado interno, diante da crescente demanda da ampliação da frota  flex.

A produção, este ano, será superior a de 2009, apesar das perdas com a estiagem, devido à entrada em operação de novas unidades e ampliação da produção de outras, havendo um incremento na produção de açúcar e de etanol. Alguns investimentos estão sendo adiados em função da falta de capital de giro do produtor que teve prejuízos com os preços praticados no ano passado.

O problema da remuneração deve acelerar a fusão de alguns grupos, levando à concentração do setor, em virtude do cenário econômico que deve inibir o mercado de bolsa de valores e onerar o crédito, fazendo os produtores mais alavancados se aliarem ou venderem suas empresas.

E como não bastassem todos esses problemas e desafios, o setor ainda tem que lidar com uma questão extremamente importante e por que não dizer estratégica: a falta de mão de obra qualificada e a dificuldade de fornecedores de máquinas e equipamentos. O setor tem feito parcerias com o Senai e  Senar para treinar profissionais, mas enfrenta o “canibalismo” do aparecimento de vários projetos ao mesmo tempo.

O cenário, contudo, tende a se estabilizar. Ao mesmo tempo, o setor industrial, que viveu períodos de estagnação no crescimento, não estava preparado para a demanda crescente de encomendas e agora busca ampliar sua produção para atender o crescimento do país. A luz no fim do túnel é a perspectiva do governo federal de se  resolverem os problemas da conexão das usinas à rede e, com isso, viabilizar os investimentos em  cogeração de energia a partir da queima da palha e do bagaço de cana.

Assim, poderemos, somente aqui em Goiás, ofertar até 2013 mais de 1.700 MW de energia (equivalente ao consumo de energia do estado), suficientes para espantarmos o fantasma do racionamento e, com isso, viabilizar os projetos das usinas. Goiás é hoje o segundo estado produtor de energia através da biomassa e a expectativa é que, até 2020, estejamos produzindo cerca de 3.000 MW (2.000 MW para venda).

Antes disso, em 2015, cerca de 15% da eletricidade gerada no país deverá ser proveniente de biomassa. Podemos dizer que a agroenergia é, literalmente, a salvação da lavoura, pois, além de gerar a energia de que o país precisa, com ela, o empresário consegue viabilizar seus empreendimentos.

Hoje, Goiás tem 34 unidades em produção, sendo o quarto maior produtor de cana-de-açúcar do Brasil (podendo tornar-se o terceiro este ano), o quinto de açúcar e o segundo de etanol. A nossa produção de etanol em 2009, cerca de 2,2 bilhões de litros, foi maior que toda a produção do nordeste brasileiro. Em 2008, nosso setor tInha 92 mil colaboradores diretos. Goiás mais do que triplicou seu PIB, vem gerando empregos acima da média nacional.

E o setor sucroenergético é um dos principais agentes desse desenvolvimento. Nas pesquisas do IBGE e nos indicadores do CAGED, sempre os municípios que possuem usinas aparecem como campeões em geração de emprego. Além disso, os investimentos do setor fizeram com que as terras goianas se valorizassem e com que novas oportunidades aparecessem em todo o interior do estado.

O setor agora procura investir em eficiência, melhorando sua produtividade no campo (mais toneladas por hectare e mais litros de álcool ou quilos de açúcar por hectare), graças aos investimentos em pesquisa em parcerias com as nossas universidades (destacando-se a UFG - Rede Ridesa), Embrapa e empresas particulares (CTC e Canaviallis), estando agora próximo de obter as primeiras variedades de plantas concebidas para as particularidades de nossa região. As empresas do setor investem, também, para diminuir seus resíduos, aproveitando-os, como a vinhaça e a torta de filtro (utilizados na fertilização), consumindo cada vez menos água.

Vale ressaltar que a empresa goiana Jalles Machado recentemente ganhou prêmio da ANA - Agência Nacional de Águas- pelo uso racional de seus recursos hídricos. Neste momento, abre-se uma nova e promissora fronteira para nossas unidades com a utilização da  cana-de-açúcar para fabricação de plásticos “verdes” (como nas novas garrafas da coca-cola) e a produção de hidrocarbonetos (produção de gasolina e diesel a partir da cana), viabilizando uma forte indústria alcoolquímica.

Devemos ter uma safra recorde este ano: 48 milhões de toneladas de cana (aumento de 20%), 1,8 milhões de toneladas de açúcar (32% de crescimento) e 2,8 bilhões de litros de etanol (aumento de 33%). Tudo isso com um aumento de consumo de 30%. Toda essa produção acontece com a ocupação de pouco mais de 1% das terras de nosso estado (a pecuária ocupa 35% e a soja 8%).

A importância do setor torna-se, assim, mais evidente. Temos um grande problema de mercado, pois  mais da metade de nossa produção é vendida para fora do estado (principalmente DF, TO e nordeste brasileiro). O tão sonhado alcoolduto tem previsão de ir de Paulínia até Uberaba (não antes de 2012, e esperamos que chegue em breve a Itumbiara, GO).

O setor tem feito inúmeros esforços para que esse importante modal de transporte da produção alcooleira chegue pelo menos até Itumbiara. Os dutos, além de mais baratos, são mais eficientes pois reduzem a emissão de CO2 (dos caminhões), além de diminuir o tráfego e, consequentemente, os gastos em conservação de nossas rodovias.

Além do alcoolduto, a hidrovia – Tietê-Paraná (a partir de São Simão-GO) e a ferrovia Norte-Sul (com previsão de término até 2011), minimizariam o problema, restando as dificuldades de armazenamento e dos custos portuários.  Os desafios são muitos. Maiores do que eles só a certeza que o setor sucroenergético tem da vontade e da competência para superá-los.