Me chame no WhatsApp Agora!

Eduardo Cunali De Felippe

Diretor de Marketing da Terra Verde - John Deere

Op-AA-05

Mecanização da colheita da cana-de-açúcar

Desde que ocorreu a primeira revolução industrial, que se iniciou na Inglaterra entre 1840 e 1870, quando os teares manuais foram substituídos por máquinas, o homem tem procurado, em todas as suas atividades de pesquisas e empresariais, a busca de melhor eficiência, tanto no campo operacional como econômico. A área de engenharia, incluída aí, a sub-área de máquinas agrícolas, tanto quanto a área de comunicações e medicina vêm apresentando nas últimas décadas avanços consideráveis, o que tem refletido em melhor qualidade de vida de camadas da população mundial.

Infelizmente, decorrente do atual modelo econômico vigente a quantidade de pessoas beneficiadas com estes avanços não é a esperada, mas esta questão foge ao escopo desta matéria. Por sua vez, a despeito de boa parte da sociedade civil, ainda ter, por ignorância factual, restrições à cultura canavieira, esta é hoje uma das mais importantes do país, tanto pelo que produz, como pelo que exporta e pelo que gera de empregos.

De todas as culturas de importância para o país, a canavieira é aquela que mais empregos gera por unidade produzida. É aquele que melhor assiste o operário braçal, tanto enquanto trabalha do campo como em termos de assistência social. A meu juízo, o grande problema deste setor sucroalcooleiro é, sem dúvidas, a questão das queimadas de canaviais, como prática de pré-colheita.

Apesar do prazo para a proibição total desta prática ainda ser longo, pela legislação estadual paulista, o fato é que chegará a hora que tal prática será banida dos canaviais. Vale lembrar que até o início da década de 50, do século passado, os canaviais brasileiros não eram queimados para a sua colheita. Passou a ocorrer tal queima, a fim de aumentar-se o desempenho das operações de corte (manual) e carregamento  (este iniciando-se com carregadoras de cana montadas em trator), que até então eram, também, manuais.

Com a evolução das tecnologias mecânicas, que foram disponibilizadas para a cultura canavieira, a partir do início da década de 70, máquinas colhedoras começaram a ser introduzidas e, também, fabricadas no país, a partir de tecnologia australiana, ainda para operarem em cana queimada. Com a pressão da sociedade civil (contra queimadas), por um lado, e a busca de melhores eficiências nos processos de colheita e obtenção de açúcar e álcool, com redução de custos e aumentos de produtividades, os fabricantes de colhedoras, por meio de novos projetos de fabricação, passaram a oferecer ao mercado máquinas que colhem cana sem queima prévia.

Para o leigo, pode parecer que se tratou de simples adaptações na máquina para cana queimada, mas, em verdade, exigiu-se severos estudos e projetos, incontáveis ensaios de campo, avaliações operacionais etc, para que se chegasse às máquinas atualmente disponíveis. Cabe lembrar que a participação dos próprios usuários das colhedoras deu importantes incrementos no desenvolvimento tecnológico destas. Nos dias atuais, o Brasil é também detentor desta tecnologia, exportando máquinas para dezenas de países canavieiros, concorrendo para a melhoria da balança comercial.

Para o usuário de colhedoras mecânicas, algumas variáveis são buscadas incessantemente: Aumento da capacidade operacional, em termos de quantidade de matéria-prima colhida, por unidade de tempo; redução de custo operacional, por unidade de matéria-prima colhida; diminuição das perdas de colmos ou suas frações, por unidade de área e, por fim, a redução da quantidade de matéria estranha vegetal (folhas, palhas, ponteiros, raízes, restos de culturas) e mineral (basicamente terra).

A somatória positiva destas variáveis induz à redução de custos e ao aumento de produção industrial no complexo sucroalcooleiro. Hoje o Brasil possui três consagrados fabricantes de colhedoras autopropelidas (John Deere Cameco, Santal Equipamentos, e Case) e um fabricante de colhedoras montadas em trator, da qual, ainda, aguarda-se resultados de seu comportamento, com base em metodologias padronizadas e/ou decorrentes de significativo trabalho em usinas.

Assim, entende-se que os grandes produtores canavieiros, apesar de, ainda, pressionarem os fabricantes por melhorias que confiram maior otimização dos sistemas de colheita; a meu juízo, eles estão bem servidos. O problema é o pequeno e o médio fornecedor de cana. Estas colhedoras, pelos seus valores de aquisição e de suas altas capacidades de colheita, principalmente, tornam-se inviáveis o acesso deles a esta tecnologia mecanizada.

E vai chegar o momento em que tornar-se-á difícil e, porque não dizer, antieconômico para esta classe de produtores, não ter a possibilidade de mecanização da colheita. Os cortadores braçais estão se escasseando nas regiões produtoras paulistas e os custos, somados aos encargos sociais, já estão maiores que os de colheita mecanizada.

Inúmeras tentativas já foram disponibilizadas no mercado, no período de 1970 a 1990, com cortadoras (na forma de cana inteira para carregamento e não picada como as colhedoras) montadas em tratores, de baixo e médio desempenho operacional. Tentativas estas que esbarraram em limitações técnicas e operacionais. Todavia, é chegado o momento de se voltar a pensar em máquinas acessíveis aos pequenos e médios produtores de cana.