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Jacyr da Silva Costa Filho

Diretor Geral da Açúcar Guarani

Op-AA-11

EUA: Brasil pode colaborar na redução da dependência do petróleo

A perspectiva do etanol tornar-se uma commodity energética, de aceitação mundial, é cada vez mais sólida. Sob a premissa de que esse combustível renovável possa ser misturado na gasolina, em escala global, à proporção de 10%, representaria um consumo potencial de 20 bilhões de litros ao ano, em regiões como Europa e Ásia, até 2010. No entanto, os Estados Unidos já possuem, atualmente, o maior mercado mundial de etanol, com um consumo potencial de 65 bilhões de litros, até 2010.

Quando o presidente George W. Bush afirmou que os Estados Unidos eram viciados em petróleo, em janeiro de 2006, acendeu os holofotes sobre o etanol – visto como exemplo de substituto da gasolina, à mão. A sede dos Estados Unidos por energia é notável. O país consome 40% da gasolina do mundo, o equivalente a 580 bilhões de litros – só para ficarmos no campo do abastecimento dos veículos leves.

Desde então, o Brasil passou a ser citado como exemplo de um país que soube aproveitar os choques do petróleo dos anos 1970 e avançar na produção e distribuição de energias alternativas. O vício dos Estados Unidos em petróleo é facilmente demonstrado por dados do próprio governo. De acordo com informações da Energy Information Administration, órgão federal que acompanha questões energéticas, a dependência do petróleo importado, que era inferior a 20%, em 1970, passou para a casa dos 50%, desde 1994.


Em 2005, fechou a 66%. Não é uma boa estratégia basear a maior parte de sua matriz energética em fornecedores externos. Mas, o problema não termina aí: em 2005, 34% das importações norte-americanas de petróleo vieram de regiões consideradas hostis, ou que não mantêm relações muito amistosas com os EUA, como países do Oriente Médio e Venezuela – esta, sozinha, representou 12% das importações do período.

Esta posição é paradoxal, uma vez que as importações norte-americanas de petróleo, vindas ou não de países hostis, são isentas de impostos, ao passo que qualquer compra externa de etanol, que não seja por meio da Caribbean Basin Iniciative (CBI – importação de anidro do Caribe, que não ultrapasse 7% do consumo), recebe taxa de 54 centavos de dólar o galão (14 centavos de dólar o litro), mais tarifa ad valorem de 2,5%.

Esse intenso consumo de combustíveis acabou, ao longo dos anos, estimulando a indústria norte-americana de etanol, produzido, principalmente, a partir do milho. A produção de 662 mil litros, em 1980, chegou a 1991 a 3,6 bilhões de litros, passando por aumentos sucessivos, até encerrar 2005 a 14,8 bilhões de litros. Esse movimento deve-se a novos investimentos embalados, em grande parte, pela alta dos preços do petróleo, a partir de 2003.

No entanto, o preço do petróleo não foi o único vetor desse crescimento acelerado da produção. A necessidade de mudar o aditivo oxigenante da gasolina foi outro fator a pesar na balança. O MTBE (metil-tércio-butil-éter), derivado do petróleo, que cumpria esse papel, tornou-se um problema sério, à medida que começaram os vazamentos em seus estoques subterrâneos, contaminando o lençol freático.

Essa contaminação virou caso de saúde pública, até porque o produto é cancerígeno. Em Dallas, Texas, por exemplo, a contaminação fez com que fosse necessário captar água a 300 quilômetros, para abastecer a cidade. A substituição do MTBE pelo etanol ganhou força nos Estados Unidos no ano passado, o que levou à importação maior do álcool brasileiro, apesar das barreiras.

Boa parte da exportação brasileira de etanol, para o mercado norte-americano, é indireta – o Brasil exporta álcool hidratado para o Caribe, onde o produto é transformado em anidro, e embarcado para os EUA, dentro da CBI. No entanto, a demanda foi tal em 2006, que o país se tornou o maior cliente do produto brasileiro, com 1,75 bilhão de litros embarcados diretamente, em comparação com 260 milhões de litros do ano anterior, diante da competitividade do preço do nosso álcool combustível.

Embora tenha assinado o Protocolo de Kyoto, que reduz as emissões de gases causadores do efeito estufa aos padrões verificados no início dos anos 1990, o presidente norte-americano citou a necessidade de tratar de problemas ambientais, em seu Discurso do Estado da União, proferido este ano. Mais: propôs o consumo de 20% de combustíveis alternativos e renováveis em dez anos. Também previu que a demanda por etanol, em 2017, chegue a 132 bilhões de litros. Apesar da previsão de crescimento da oferta americana, o potencial de mercado dos Estados Unidos é muito maior.

É uma meta ambiciosa e que demandará grandes investimentos internos, bem como mais importações. E uma ambição cabível, uma vez que a tecnologia flex, com a mistura de 85% de álcool anidro, na gasolina, nasceu nos Estados Unidos. Nesse ponto, o Brasil pode ser um grande fornecedor, uma vez que encontra condições favoráveis para ampliar a produção com competitividade. Também pode ser um alavancador do mercado norte-americano, ao complementar a produção local.