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Marcos Sawaya Jank e Carlos Roberto Silvestrin

Presidente da Unica e Vice-Presidente Executivo da Cogen-SP, respectivamente

Op-AA-15

A indústria da cogeração e a bioeletricidade na infra-estrutura energética brasileira

A cogeração de energia - produção simultânea de duas ou mais fontes de energia, a partir de um único combustível - é uma das principais formas de geração distribuída que vem alcançando crescente nível de interesse e viabilidade em todo mundo. Os principais fatores indutores do avanço da indústria da cogeração estão relacionados com as vantagens que oferecem na melhoria da eficiência energética, qualidade e confiabilidade, redução de riscos operacionais de fornecimento e de abastecimento e na minimização dos impactos ao meio ambiente.

No Brasil, a cogeração, ao lado de outras formas de geração distribuída (empreendimentos de produção de energia conectados na rede de distribuição), continuará tendo caráter complementar à infra-estrutura do sistema elétrico interligado, mas deverá ter papel crescente e cada vez mais importante no suprimento de energia. Contribuem para isso a possibilidade e as vantagens da implantação de centrais de cogeração junto ao centro de carga e/ou de disponibilidade de combustível primário, evitando e reduzindo custos de uso das redes elétricas.

Além disso, oferecerem menores riscos de vulnerabilidade operacional e de desabastecimento, considerando a elevada participação hidrelétrica no sistema interligado nacional, que fica dependente das condições hidrológicas nos períodos mais desfavoráveis, provocando maior volatilidade das tarifas reguladas de energia elétrica. A perspectiva para o desenvolvimento da indústria da cogeração de energia, particularmente, no estado de São Paulo, destinada à produção de bioeletricidade, é muito promissora.

A principal razão é a possibilidade real de expansão sustentada e da produtividade crescente da indústria canavieira, para atendimento das demandas de açúcar e do etanol, nos mercados nacional e internacional, podendo admitir que a produção anual de cana possa atingir o patamar de um bilhão de toneladas no ano 2020. Contribuirá também para o avanço da bioeletricidade as condições de comercialização, que estão sendo desenvolvidas pelo Ministério de Minas e Energia, tanto para o mercado regulado de leilões de energia, quanto para o mercado livre.

Além disso, a bioeletricidade é uma importante fonte geradora de créditos de carbono (CO2), cujo interesse para comercialização é crescente em todo o mundo. Devemos destacar ainda que a eliminação do fogo na colheita da cana proporcionará importante desenvolvimento tecnológico na utilização da palha e das pontas, nas centrais de cogeração de energia.

Levantamentos recentes da Unica - União da Indústria da Cana-de-açúcar, e da Cogen-SP - Associação Paulista de Cogeração de Energia, indicam que o potencial de bioeletricidade no estado de São Paulo, apenas com a utilização do bagaço destinado à comercialização, deverá superar 4.000 MW médios até 2015, podendo dobrar, caso haja aproveitamento da palha/pontas da cana.

No entanto, é importante destacar que a cogeração a partir da biomassa (bioeletricidade) da cana foi, durante muito tempo, considerada em segundo plano, tanto no setor sucroalcooleiro, quanto no setor elétrico. No setor elétrico, a bioeletricidade era percebida como uma energia sazonal e de baixa confiabilidade, para ser interligada na rede. Na indústria da cana, era vista apenas como energia necessária para o processamento da safra.

Hoje, entretanto, esse quadro vem sendo alterado com a regulamentação da bioeletricidade “como energia de mercado”, regulamentada para ser ofertada nos leilões de energia e no mercado livre e, com o avanço da produção de cana, principalmente, no Centro Sul. Mais do que isso, foi fundamental o avanço tecnológico na fabricação das caldeiras de vapor de maior pressão e temperatura, o que logo gerou um efeito cascata: fabricantes de turbinas e de geradores também passaram a produzir equipamentos capazes de colocar a bioeletricidade no mesmo patamar de negócios do açúcar e do etanol, entre os subprodutos da cana.

É fato que no Brasil já eram produzidas caldeiras de alta pressão, para setores que demandavam grandes quantidades de vapor em seus processos, como a indústria de celulose e papel. No entanto, a indústria da cana, até 2005, demandava apenas caldeiras de baixa pressão (21 bars), pois o conceito para utilização do bagaço era “que não falte e que não sobre”.

Com a regulamentação da comercialização da bioeletricidade, os produtores adotaram conceitos de eficiência energética na utilização da biomassa, visando maximizar o aproveitamento da biomassa disponível (bagaço, palha e pontas), para ofertar bioeletricidade como terceiro e, futuramente, como segundo negócio de interesse dos produtores.

Adotando conceitos de eficiência energética, visando liberar mais vapor para ampliar a oferta de bioeletricidade, os produtores passaram, então, a demandar caldeiras de alta pressão (92 a 100 kg/cm²), que operam com temperaturas na casa dos 500ºC. Com maior eficiência e maior disponibilidade de vapor nas caldeiras de alta pressão, as turbinas e os geradores também estão sendo produzidos em módulos de maior capacidade de geração, podendo chegar a 60 MW.

Além de ganharem potência, esses equipamentos também ganharam mais eficiência. É importante ressaltar que hoje existe possibilidade real de se obter resultados empresariais crescentes na produção e na comercialização da bioeletricidade. Devemos ressaltar que, ao mesmo tempo, existe um cenário previsível de desequilíbrio de oferta de energia elétrica, que o setor hidrelétrico cada vez mais é dependente das chuvas, e que o déficit de gás natural, para atender aos mercados industriais e termelétricos, não deverá ser resolvido antes de 2012.

Como podemos observar, existe disponibilidade de biomassa, tecnologia e know-how nacional para a expansão da indústria da cogeração. Os produtores e os agentes do setor energético também estão motivados para ofertar maior produção de bioeletricidade, visando assegurar o equilíbrio necessário na oferta de energia elétrica, com qualidade para atender ao crescimento sustentado que estamos vivendo, depois de um longo período de turbulência econômica no país.

Finalmente, podemos admitir que as indústrias da cana-de-açúcar e da cogeração de energia estão preparadas para avançar na oferta de maior produção de energia elétrica, que assegure condições de desenvolvimento da infra-estrutura energética, com maior participação de fontes renováveis e limpas na matriz elétrica. Portanto, podemos afirmar que a cogeração e a bioeletricidade compõem o melhor “mapa do caminho”, para a infra-estrutura energética do país.