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José Vicente Caixeta Filho

Coordenador do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística

Op-AA-16

Logística no segmento sucroalcooleiro

Um dos mais marcantes fenômenos observados na economia agrícola brasileira nas últimas décadas, e de forma acelerada nos anos mais recentes, é a verdadeira revolução no seu arranjo espacial. Os negócios agropecuários foram ocupando áreas de fronteiras, como o Norte e o Centro-Oeste, além de vastas áreas do Nordeste, em geral, através de atividades que incorporam modernas tecnologias de produção.

Paralelamente, fornecedores de insumos, armazenadores e indústrias de processamento vão se aglomerando ao redor das zonas de produção, visando, principalmente, a minimização dos custos de transporte envolvidos, atendendo, assim, ao princípio de racionalidade econômica. Ressalte-se que a motivação fundamental para a busca dessa otimização é a necessidade de incrementar a competitividade dos produtos nacionais, face à concorrência externa resultante da abertura econômica, o que implicará não somente na redução de custos referentes às operações de exportação, mas também na diminuição de espaços para as tentativas de avanço dos produtos importados.

Nesse sentido, são muitas as inquietações relacionadas ao “futuro logístico” que nos aguarda. Segundo a literatura especializada, a logística está relacionada ao planejamento e operação dos sistemas físicos, informacionais e gerenciais, necessários para que insumos e produtos vençam condicionantes espaciais e temporais, de forma econômica.


A logística envolve estratégias, táticas e operações voltadas à movimentação integrada de bens, de forma racional e econômica, a um determinado nível de serviço, que venha a ser estabelecido. Observa-se que dificuldades logísticas de naturezas diversas têm sido enfrentadas (e já em muitos casos, bem administradas) pelo segmento sucroalcooleiro, que claramente vem delimitando uma nova fronteira agrícola no Centro-Oeste brasileiro, ocupando espaços, até então dedicados à atividade pecuária.

Dados recentemente divulgados pela Conab - Companhia Nacional de Abastecimento, apontam para uma produção de 528 milhões de toneladas de cana-de-açúcar na safra 2007/2008, com um aumento de mais de 11% em relação à safra anterior, decorrentes do aumento da área plantada em Goiás - mais de 19%, Mato Grosso do Sul - 18%, e Mato Grosso - 10%. Percebe-se que as logísticas bem-sucedidas no segmento sucroalcooleiro têm se pautado por uma série de práticas permeadas, basicamente, por economias de escala, baixa ociosidade na utilização de ativos e, conseqüentemente, maior eficiência de processos, capacidade organizacional diferenciada e integração efetiva entre as atividades desenvolvidas.

No que diz respeito à logística da cana-de-açúcar, a mecanização da colheita e o próprio aumento da capacidade de movimentação dos veículos canavieiros têm demonstrado as oportunidades de reduções de custos, baseadas na diluição de componentes de custos físicos importantes das chamadas atividades de Corte, Carregamento e Transporte.

Por outro lado, ainda não se visualiza um conjunto de soluções de caráter mais permanente, voltadas para a minimização de filas nos pátios das usinas. Já para a movimentação do açúcar, se por um lado são também observados incre-mentos expressivos nas capacidades dos veículos rodoviários, especializados para o transporte desse tipo de produto, outras modalidades de transporte – ferrovia e hidrovia, principalmente – já começam a disputar, de forma mais agressiva, esse nicho de mercado.

O álcool, talvez, represente o elemento motivador de mudanças logísticas significativas mais impactantes. Ao atrair investidores dos mais diversos segmentos (que apostam tanto no crescimento das exportações do etanol brasileiro para mercados asiáticos e para o próprio mercado americano, como na manutenção do sucesso dos carros bicombustíveis no mercado interno brasileiro), o mercado acompanha, com atenção, a discussão sobre alternativas especializadas de movimentação terrestre de álcool. Por exemplo, uma série de projetos de alcooldutos tem sido anunciada.

Muito também tem sido investido no aumento da capacidade de tancagem de álcool, notadamente no entorno das usinas e, de forma mais modesta, em áreas retroportuárias. Destaque também para as próprias ferrovias, que têm demonstrado grande interesse na sua maior participação na movimentação do álcool, no sentido dos portos do sul e sudeste brasileiros.

Assim sendo, de maneira geral, infere-se que uma logística competitiva e eficiente será de fundamental importância para o crescimento sustentado do segmento sucroalcooleiro. Para tal, soluções integradas, envolvendo atividades de transporte e de armazenamento, principalmente, serão referências vitais para a consolidação e reconhecimento do paradigma agroindustrial brasileiro.