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J.K.Tripathi

Cônsul-geral da Índia em São Paulo

Op-AA-26

O etanol na Índia

Desejo fazer, inicialmente, uma comparação entre o desenvolvimento da produção do açúcar e do álcool na Índia e no Brasil, para depois comentar, sob a nossa visão, as ações que podemos vir a tomar.  Os números da atividade mundial demonstram que o Brasil controla 20% das atividades com açúcar e 35% com etanol, enquanto a Índia controla 10% com açúcar e 4% com etanol. Isso ocorre devido à escassez de terras.

Como a China, a Índia também sofre com a falta de terras e com a explosão populacional, de modo que todas as terras cultiváveis já estão sendo utilizadas. Esse é, então, um dos problemas que enfrentamos quando comparamos esses valores. Vejam que começamos a fazer o que o Japão já fez. Implantamos o E5 – adição de 5% de etanol à gasolina.

O governo já decidiu que, até o fim do ano ou o começo do ano que vem, será implantado esse programa. Até 2020, aumentaremos gradativamente para 10, 15 e depois 20%. Essa é uma questão de política. O Brasil começou à frente. Nós ficamos para trás. Começamos a pensar sobre a introdução do etanol em 2000, mas tínhamos diferentes pensamentos entre os estados da união e havia discordância sobre impostos e sobre como usar o etanol.

Assim, somente pudemos tomar a decisão este ano. O governo estabeleceu o preço mínimo do litro de etanol em 27 rúpias, o equivalente, aproximadamente, a R$ 1,00. No que se refere à disponibilidade de terras na Índia, observa-se que todos os 169 milhões de acres disponíveis estão sendo utilizados. Não há nenhuma disponibilidade adicional para uso exclusivo para etanol, de modo que, se alguma reserva for feita, será à custa de alguma atividade agrícola que deverá ser suprimida.

Essa decisão seria muito complicada, pois representa uma opção entre o necessário e o supérfluo. Não podemos contar com etanol produzido a partir de milho. O único modo é produzi-lo a partir de cana-de-açúcar. Mas quase não conseguimos produzir da cana o açúcar em quantidade suficiente para atender à nossa população de 1,14 bilhão de pessoas.

O debate, portanto, persiste e continuamos confrontados com a questão do que fazer para implantar a nossa política de etanol, como iniciar a sua produção e como obter terra. Não é uma tarefa fácil.  A cultivo da cana-de-açúcar é restrito a onde há água em abundância e pequeno risco de variação do fator pluviométrico. A disponibilidade de água está mais difícil em razão do aquecimento global e da inconstância na ocorrência das monções.

Estamos empenhados em controlar a energia hídrica. Estamos construindo mais represas para que possamos usar a água em tempos de necessidade, mas isso levará algum tempo. Com relação ao custo de produção do açúcar, embora tenha maior intensidade de mão de obra, a Índia tem quase uma vez e meia os custos do Brasil.

Não obstante, dado o custo mais alto da energia, há relativa escassez dessa energia, de modo que o custo da produção acaba sendo mais alto. Comparando as áreas dedicadas para o cultivo da cana-de-açúcar entre Brasil e Índia, em 1992, elas eram quase equivalentes. Sem contar os investimentos desses anos recentes, o Brasil saiu de 4,2 milhões de hectares para 6,2, enquanto a Índia, nesse mesmo período, saiu de 3,8 milhões de hectares para 4,2.

Isso aconteceu, simplesmente, porque não temos terras disponíveis. A produtividade de plantações também variou em favor do Brasil. Em 1992, ela, na Índia, era levemente superior à do Brasil. A Índia saiu de 66 para, 14 anos depois, atingir 67 toneladas por hectare, enquanto o Brasil saltou de 65 para 74 toneladas por hectare.

Com relação ao desenvolvimento do índice de dias de moagem anuais, nos últimos 5 anos, enquanto o Brasil deu um grande salto, de 125 para 181 dias, a Índia ficou praticamente estática, indo de 139 para 140 dias. A infraestrutura disponível afeta seriamente esse índice. Atualmente, estamos produzindo etanol a partir do melaço em algumas usinas, porém o governo está iniciando um programa para o processamento com a mesma base, em grande escala.

Até agora, temos produzido bebidas alcoólicas, como o uísque, por exemplo. Porém, os planos do governo preveem, gradativamente, aumentar o foco do melaço para a produção de etanol. No que diz respeito à produção anual de cana, em 1992 o Brasil e a Índia estavam próximos. Entretanto, o Brasil saiu de 272 milhões de toneladas para 455 em 2006 e já tem, hoje, números muito mais expressivos que esse.

A Índia, em 14 anos, saiu de 254 para 281 milhões de toneladas. Aqui, de novo, vemos a produção como função da disponibilidade de área e sua expressão como produtividade. Novos métodos poderão aumentar a produção de etanol na Índia. Processos químicos ao invés dos processos nas usinas já foram testados no Brasil, mas na Índia isso ainda está por acontecer, precisa ser conceituado.

A produção de etanol na Índia era obtida principalmente a partir de melaço, mas, à medida que os indianos consumirem menos açúcar, poderemos produzir mais etanol. Gostaria de comentar algo ligado à escassez de terra: a Índia está experimentando diferentes alternativas para produzir combustível – como jatropha em terras áridas; energia eólica – somos muito bons em energia eólica e até atuamos no Brasil nessa área; energia solar - pois a Índia tem muito sol.

Estamos tentando alternativas também com biomassa e detritos humanos e de animais e operando usinas de geração de energia usando lixo caseiro. Estamos, inclusive,  usando gás natural comprimido, em veículos do transporte público, e hidrogênio.

Um comentário final: o Sr. Tarcisio Mascarim, em sua palestra, disse que o Brasil deveria vender fábricas e equipamentos com o respectivo financiamento. É uma boa ideia, contanto que se compartilhe também a tecnologia, para que não se formem parcerias coloniais. Penso que os países do BRIC e outros países em desenvolvimento devem compartilhar tecnologias e experiências, uma vez que enfrentamos os mesmos problemas.