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Gilson Christofoli Junior

Diretor Agrícola da Renuka - Unidade Equipav

Op-AA-28

Um caminho sem volta

Até pouco tempo, a boa gestão da mão de obra rural era de fundamental importância para a otimização da produção da cana-de-açúcar. Isso ocorria porque as atividades de colheita e plantio sempre foram predominantemente realizadas de forma manual. Nos últimos anos, fatores como a pressão ambiental pelo fim da queima, problemas trabalhistas e crescimento do setor para regiões com baixa densidade populacional, entre outros, levaram o setor sucroalcooleiro a passar por um rápido processo de mecanização de suas atividades, primeiro com a colheita e, mais recentemente, com o plantio.

Com isso, a gestão da mão de obra rural perdeu importância relativa, e hoje estamos buscando eficiência e qualidade nas atividades mecanizadas. A expansão da mecanização da colheita e do plantio, principalmente nos últimos cinco ou seis anos, foi muito maior que a nossa capacidade de formar mão de obra, tanto operacional quanto de manutenção.

Hoje, o nosso primeiro e maior desafio é formar operadores de colhedora, mecânicos, eletricistas e lideranças para gerenciar todo o processo mecanizado. A solução são as usinas investirem pesadamente em treinamento e na formação desses profissionais. Porém, como a mecanização ainda está em crescimento e com a entrada de novas unidades produtoras, acredito que essa situação ainda levará muitos anos para se estabilizar.

A eficiência nas operações mecanizadas passa, obrigatoriamente, pela integração entre as áreas responsáveis pelas operações agrícolas e pela manutenção automotiva. É muito comum acontecer nas usinas um desgaste no relacionamento entre essas áreas.

Somente com a perfeita sinergia entre elas é possível desenvolver procedimentos eficientes de manutenções preditivas e preventivas, combater as quebras operacionais e, consequentemente, reduzir a manutenção corretiva. Assim, poderemos trabalhar com custos baixos e realizar as atividades agrícolas no momento correto.

Entrando mais especificamente no plantio mecanizado, tema deste artigo, o que podemos observar é que, ao longo dos últimos anos, ele tem tido uma evolução muito significativa em sua qualidade. Essa evolução se deve, em menor escala, à melhoria tecnológica nas plantadoras e colhedoras de muda e, principalmente, ao aprendizado e ao desenvolvimento contínuo das melhores técnicas agronômicas aplicadas ao plantio mecanizado.

Embora existam Unidades onde a qualidade do plantio mecanizado e a do manual estejam muito próximas, ainda temos muito que evoluir. Basta lembrar que a quantidade de muda utilizada no plantio mecanizado é significativamente maior que no manual e, mesmo assim, muitas vezes, sem obter o mesmo resultado em qualidade.

Portanto entendo que nosso maior objetivo no plantio mecanizado é o de melhorar, cada vez mais, a qualidade em relação ao plantio manual e, em paralelo, conseguir reduzir a quantidade de muda utilizada.

Trata-se realmente de um grande desafio, já que a redução na quantidade de mudas trabalha na direção oposta ao da qualidade do plantio. Não existe solução fácil para atingir esse objetivo, mas muito trabalho, estudo e aprimoramento. Temos que trabalhar com todas as variáveis que interferem na qualidade do plantio mecanizado.

As duas principais variáveis a serem trabalhadas são: a redução dos danos nas mudas, tanto nas gemas quanto nos rebolos, e a melhoria no sistema de distribuição das mudas pelas plantadoras. Essas duas variáveis terão influência direta na redução da quantidade de muda utilizada e na redução das falhas de plantio.

Para isso, precisamos trabalhar em conjunto com os fabricantes de colhedoras e plantadoras de cana, para que possamos evoluir na tecnologia dos equipamentos e na qualidade das operações. O apoio de uma equipe de controle de qualidade atuante e bem treinada denuncia rapidamente qualquer não conformidade, possibilitando a correção imediata dos problemas.

As questões agronômicas têm também grande importância nesse processo, já que a variedade de cana, a sua qualidade e porte no momento da colheita são fundamentais para o sucesso do plantio mecanizado. O sistema de plantio manual se caracteriza pela boa qualidade de distribuição das mudas no sulco de plantio, e, quanto mais o plantio mecanizado se aproximar dessa realidade, maior a chance de sucesso.

Existem diversos outros fatores que influenciam na qualidade do plantio e que não podem ser esquecidos, como a qualidade do preparo de solo, a sistematização do terreno, a profundidade do sulco, a qualidade e profundidade da cobrição, a umidade do solo no momento do plantio, entre outros.

A importância do treinamento, qualificação e formação da mão de obra já foi citada, porém cabe destacar que o trabalho dos operadores de plantadora é determinante para a qualidade do plantio. Em relação ao paralelismo entre os sulcos, hoje já existe bom avanço tecnológico, através do uso do GPS. É também importante que todos conheçam bem as suas características de solo e clima, bem como as variedades de cana cultivadas e as máquinas utilizadas, para que a tecnologia possa ser corretamente adequada a cada realidade.

Uma grande vantagem do plantio mecanizado é que as operações de sulcação e cobrição são simultâneas, não ocorrendo perda de umidade, o que nos permite aumentar o período útil de plantio. Evoluindo-se na qualidade e na redução da quantidade de muda utilizada no plantio mecanizado, este se torna inquestionável, já que tem um custo operacional menor que o manual. Portanto o plantio mecanizado de cana-de-açúcar é um caminho sem volta.