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Pedro Robério de Melo Nogueira

Presidente do Sindaçúcar-AL

Op-AA-29

Um cenário muito bem definido

A evolução do setor sucroenergético nacional nas últimas três décadas esteve alternada por motivações ou impulsionamentos diferentes. Na largada, uma indução governamental com vistas a aparelhar o País para melhor enfrentar a necessária redução das importações de petróleo que passaram a consumir parcela muito significativa do nosso fluxo de pagamentos ao exterior no início dos anos 70.

Na sequência, dos anos 90  até o final do século passado, a evolução foi empurrada pela necessidade de aumento do mercado consumidor, que permanecia atrás da oferta, gerando excedentes de produção que provocavam redução de preços e desestímulo à atividade.

Saindo desse retrovisor e fixando-se no para-brisa sinalizador para o médio e longo prazos, constata-se, pela primeira vez, um cenário promissor decorrente da existência de um mercado, para os próximos dez anos, que absorverá um volume de etanol duplamente superior ao atual mercado.

Isso significa dizer que poderemos crescer, a partir de agora, puxados por uma demanda já existente e com sinais de crescimento concreto pela sustentada curva de oferta de veículos flexíveis, pelo aumento da demanda pelo etanol verde na indústria química e pelos sinais de abertura de mercado externo representado pela acelerada discussão no parlamento norte-americano sobre a redução das barreiras para a importação de etanol.

Fazer crescer a oferta puxada pelo mercado, ou mesmo produzir com destino certo, é a máxima de qualquer negócio empresarial. Para o setor sucroenergético nacional, verificar que, em 2020, estará inserido num mercado duas vezes maior que o atual é a sinfonia acabada, cuja partitura empresários e investidores gostarão de elaborar. Entretanto, se é fato que o mercado está visível a nossa frente, não é verdade que as condições para esse vigoroso e necessário aumento de oferta estão postas e disponíveis.

O crescimento avassalador verificado até 2007, contraído a partir de 2008 e estagnado em novos projetos neste momento, requererá ações e reflexões mais condizentes com a realidade atual, tanto no que se refere à disponibilidade de recursos em condições viáveis para esse incremento, como na avaliação da rentabilidade do negócio vis-à-vis aos investimentos necessários.

A franca disponibilidade de recursos externos de que se dispunha no primeiro quinquênio dos anos 2000 permitiu a quase duplicação da nossa produção de cana a partir de projetos novos e da ampliação de plantas existentes. O arrefecimento do fluxo de recursos comandado pela crise financeira de 2007/2008 nos permite concluir que novos fluxos estarão intimamente associados a uma análise de viabilidade de retorno na produção e na comercialização de etanol no Brasil.

Assim posto, o fluxo de inversão de recursos necessários para que cheguemos a 2020 com uma oferta equilibrada com o mercado que se apresenta, necessariamente, exigirá reflexões e considerarem-se alguns aspectos relevantes:

 

  • Para alcançarmos a produção ao redor de 1,2 bilhão de toneladas de canas, deve-se começar por uma pujante renovação dos canaviais atuais, com expressivas áreas envelhecidas e baixa produtividade, aliás, esse é um trato que deve ser constante para manutenção de uma produtividade adequada.

Um programa de financiamento para renovação de canaviais e implantação de novos não apresentará a mesma velocidade obtida até 2007, dadas as novas áreas remotas a serem exploradas, a baixa celeridade nos licenciamentos, as dificuldades interpretativas nas fiscalizações das relações de trabalho, o adequado fluxo de liberação dos recursos nos empréstimos e o viável custo desses empréstimos quando confrontados com os preços a serem auferidos;
 

  • O ambiente de investimento deve deixar clara para o empresário ou investidor a estabilidade na remuneração e retorno, levando-se em conta a característica do etanol como combustível de origem agrícola, produção sazonal e sensível às não gerenciais adversidades climáticas;
  • Como produto sujeito aos custos de fatores de mercado, dispor de mecanismos de sustentação quando o seu preço limitar-se à imposição exógena ao preço da gasolina, que, por vezes, apresenta tolerância prolongada à prática de preços compatíveis aos preços de mercado do petróleo;
  • Compreensão de que a política de abastecimento interno deve ser decorrente da adequada remuneração, inclusive considerando o necessário carregamento dos estoques sazonais, ainda que ponderando alguns aspectos de compromisso empresarial decorrentes de políticas públicas permanentes e estáveis ao setor;
  • Exata compreensão de que a receita oriunda das exportações de açúcar, nas unidades industriais que produzem açúcar e etanol, é fator de formação da poupança empresarial,  importante para a complementação do fluxo de capital de giro à produção de etanol;
  • Avaliar a capacidade de produção do setor de bens de capital, com vistas a ofertar equipamentos industriais e máquinas e equipamentos agrícolas necessários a essa expansão.

Depreende-se, pois, que, neste momento, existe, de fato, um cenário de médio e longo prazos para o etanol e o setor sucroenergético nacional. Talvez, nunca tão bem delineado quando confrontado com os cenários que antecederam as expansões passadas. Contudo, não será factível um crescimento de oferta na cadência do verificado nos cinco anos que antecederam 2008.

Por outro lado, não é demais considerar a expertise brasileira na implantação e operação de projetos de bioetanol que, se associada à superação dos aspectos mencionados, consolidaremos em definitivo a produção brasileira de etanol para participação em todos os mercados.