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Helgo Paul Hermann Ackermann

Diretor da Iprosucar Consultoria

Op-AA-43

A necessidade de atualização tecnológica

Cada país, tradicionalmente, se identifica por uma vocação específica. O setor sucroalcooleiro, insere em si, uma forte atividade tradicional tipicamente brasileira que remonta séculos passados. Em vários setores, o Brasil é altamente atuante, porém com pouca expressão. Por exemplo, no setor automobilístico, os veículos fabricados são oriundos de projetos de outros países, apesar de o Brasil ser muito bem colocado no ranking mundial de produção e de consumo.

Isso porque o País ainda não desenvolveu nenhum projeto próprio de expressão nesse setor, e os países estrangeiros têm instalado montadoras aqui por vários fatores atrativos, como o potencial de mercado, disponibilidade de mão de obra e localização estratégica. Em outros setores da indústria brasileira, temos observado condição similar. Nós, brasileiros, possuímos tecnologia e identidade para desenvolver vários setores industriais da economia.

Em muitas áreas, o Brasil também é atuante, mas está exposto a interesses estrangeiros. Com relação à produção de minérios, por exemplo, o País possui um grande potencial, como ferro, alumínio e metais preciosos, que não são exportados como produtos acabados – como ferro-liga, ligas de alumínio, nióbio etc. –, mas sim como minérios que, posteriormente, serão beneficiados nos países importadores. Seríamos muito mais atuantes no cenário internacional se produzíssemos o produto final, com maior valor agregado, se quisermos ser, futuramente, uma democracia de verdade e forte.

Contamos com plenas condições de desenvolvimento. A mineração também é uma vocação genuinamente brasileira. O Brasil é detentor de tecnologia para desenvolver os setores de siderurgia e metalurgia de modo a beneficiar a economia. O que nos falta é autoridade e atuação governamental – por receio, competência ou inércia do povo brasileiro.

No setor sucroalcooleiro, a situação é semelhante. Há séculos, temos nos envolvido com a produção de produtos da cana-de-açúcar – açúcar, bebidas e, recentemente, os biocombustíveis (etanol e biodiesel) e a cogeração de energia. Para a obtenção desses produtos, nos valemos de tecnologia própria, mas que estão estabelecidas há anos.

Não temos tido progressos importantes nessa área. Grande parte das tecnologias utilizadas atualmente, principalmente as mais modernas – como o etanol de segunda geração, biodiesel e álcool a partir de milho –, são desenvolvidas em outros países, embora tenhamos competência técnica e pessoas de boa base tecnológica para desenvolvê-las. Para isso, é de grande importância termos incentivos bem direcionados, sejam do governo ou de grupos empresariais.

Sentimos falta de institutos de pesquisa independentes e de desenvolvimento sustentável por parte dos nossos governos. Não podemos continuar convivendo com intenções, precisamos de ações verdadeiras e exequíveis dos governantes. Destacamos que, se não agirmos de forma atuante, não teremos uma democracia plena e continuaremos sendo o “quintal dos outros”. Não poderemos esperar desenvolvimento sem ações e sem esforços conjuntos, que nos conduzam a um Brasil mais forte, competitivo e sustentável. 

Com relação às tecnologias de melhorias – principalmente em relação às eficiências energéticas disponíveis no setor sucroalcooleiro –, temos muito a oferecer em estudos para o desenvolvimento. Entretanto, na prática, há muita relutância e poucos recursos para a aplicação dessas novas tecnologias, que são viáveis, mas, para que aconteçam, é preciso contar com iniciativas particulares ou governamentais com real vontade de investir. O investimento necessário, resultado desses estudos, poderia ser realizado posteriormente e em épocas após a atual recessão.

Como o setor sucroalcooleiro brasileiro está sendo conduzido pela iniciativa privada, é necessária uma meta com visão futurista dos empresários e grupos de empresários, os quais, em muitos casos, não estão propensos à aplicação de novas tecnologias e priorizam apenas investimentos com maiores rendimentos produtivos, que promovem o retorno rápido do capital investido. Um fato muitas vezes esquecido é que os resultados e os retornos positivos – frutos da aplicação em tecnologias mais modernas – só acontecem a médio e longo prazos.

A fim de nos tornarmos respeitáveis no setor sucroalcooleiro, é de grande importância tomarmos decisões quanto aos investimentos futuros de impacto. Não haverá mais condições, inclusive de sobrevivência, se focarmos somente em projetos de retornos fáceis e de curto prazo. Haverá necessidade de investirmos em novas tecnologias tão logo apareçam as oportunidades, e, sobretudo, retorne a credibilidade internacional pela economia brasileira e sua força.

Há empresários com uma grande visão futurista que estão desenvolvendo estudos possíveis de retornos financeiros razoáveis a curto e médio prazos. Essas ações beneficiam a eles próprios e também ao nosso país. Infelizmente, é de consenso que, se houver continuidade do status quo, estaremos fadados, a curto e médio prazos, a assistir ao desfecho final da produção do etanol.

Outros países já estão pesquisando a utilização de combustíveis alternativos e se preparando para utilizá-los no futuro. A imprensa relata pesquisas realizadas com carros movidos a energia elétrica, hidrogênio, butanol e outros. Outro fator que influencia profundamente o nosso futuro é a falta de desenvolvimento tecnológico e de aperfeiçoamento profissional no nosso setor. Há anos, poderiam ser citadas entidades não governamentais que promoviam cursos para desenvolvimento de técnicos açucareiros e alcooleiros.

Modelos existentes como os do Sesi, Senai e Sesc poderiam ser utilizados para instalar esses cursos. O que, infelizmente, sentimos é a falta de incentivos para realizar esse desenvolvimento tão importante para a sobrevivência do nosso setor. Estamos observando, isoladamente, cursos de desenvolvimento individualizados de tecnologia, com acesso restrito aos profissionais.

Além da fabricação de produtos como o açúcar, o álcool e a cogeração de energia, existem esforços pontuais, mas pouca iniciativa brasileira em desenvolver a viabilidade de produção de outros subprodutos da cana-de-açúcar, como a cera, a vinhaça concentrada e o álcool de segunda geração. Resumindo, ressaltamos a necessidade de desenvolvermos tecnologia em nosso setor para não sermos ultrapassados por outros países com mais recursos financeiros, como europeus e norte-americanos.

Não podemos depender mais de manobras governamentais, principalmente em relação ao controle de preços, de mercado e de impostos. O importante, dessa feita, é desenvolvermos estudos e iniciativas para o progresso do nosso setor e nos tornarmos independentes dos governos – que, ultimamente, estão sendo tão prejudiciais para área sucroalcooleira. O nosso setor não pode mais ser fragilizado por iniciativas falhas dos governantes das esferas federal, estadual e municipal. Precisamos nos fortalecer para não mais entrarmos em crises que corroem o setor e atrasam nosso desenvolvimento. Afinal, outros países já estão nos ultrapassando em vários setores.