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Miguel Rubens Tranin

Presidente da Alcopar - Paraná

Op-AA-25

Indústria da bioenergia: um cenário promissor

Como todos os demais setores econômicos, a indústria de bioenergia do Brasil foi bastante afetada pela crise mundial, ocorrida a partir do último trimestre de 2008, e que se estendeu ao longo de 2009, abalando mercados e criando um cenário sombrio que, acreditava-se, poderia perdurar por muito mais tempo. Felizmente, o mundo conseguiu superar essa fase difícil, ainda que muitos países continuem a registrar crescimento econômico inexpressivo, mas na expectativa pela chegada de tempos melhores.

Para o setor, o impacto da crise foi sentido, principalmente, no adiamento de projetos de expansão, desacelerando-se investimentos como a construção de novas unidades produtoras em vários estados ou mesmo a modernização de estruturas. E se por um lado o mercado internacional de etanol esbarrou na crise, deixando de acontecer da forma como se esperava, no plano interno, a demanda continuou aquecida.

Claro que o momento de depressão mundial também atingiu o Brasil – e a própria queda do PIB, em 2009, revela que a pancada foi forte, obrigando a realização de fusões ou incorporações no setor. Mas reagimos mais rapidamente do que outros países, retomando uma escalada de crescimento que pode ser vigorosa em 2010, a se considerar pelo que já se viu no primeiro semestre.

De qualquer forma, podemos dizer que, a exemplo do que ocorre em outros segmentos, o atual  cenário é promissor para a indústria de bioenergia, levando-se em conta, nesse contexto, ingredientes do âmbito internacional. A quebra da produção açucareira na Índia em 2008/2009 fez do Brasil o principal fornecedor mundial, criando uma excelente oportunidade para a recuperação das unidades produtoras.

A esse fator juntou-se, mais recentemente, o problema de grandes proporções sob o ponto de vista ambiental, ocorrido com a exploração de petróleo no Golfo do México.
Tal fato, levando-se em conta que as fontes de petróleo encontram-se cada vez mais em camadas profundas, estando sujeitas a acidentes como o citado, acabou fazendo com que o etanol voltasse para a vitrine.

Combustível renovável, extraído de fonte limpa, o etanol foi revestido, outra vez, do status de alternativa viável e merecedora da atenção por parte da opinião pública internacional, o que coloca os produtores brasileiros em situação privilegiada. Com isso, podemos dizer que hoje as diferentes etapas da cadeia produtiva da atividade canavieira no país estão sendo remuneradas.

Não se pode afirmar que seja, ainda, uma remuneração que estimula a retomada de investimentos, mas é um incentivo para quem atua nessa área há décadas e está sempre à mercê de altos e baixos. Sabemos que as dificuldades vão existir sempre. Contudo a preocupação em buscar competitividade e trabalhar com o máximo de profissionalismo leva-nos a pensar que estamos diante do início de uma nova fase para o setor. Se em 2010 já respiramos com algum alívio, acreditamos que o ano de 2011 será muito melhor para os produtores brasileiros.

Importante frisar que ainda perduram elevadas taxas para financiamentos e dificuldades de créditos devido à inexistência de garantias. E sobre a cogeração de energia, entendemos que isso deverá ocorrer de forma gradativa, não só pela necessidade de novas fontes de energia, mas, principalmente, como alternativa para a queima da cana, pois o aproveitamento da palha no processo de cogeração otimiza as indústrias e cria uma nova fonte de remuneração.

No Paraná, um dos nossos principais desafios para os próximos anos é a construção de um poliduto ligando Maringá, na região norte do estado, ao município de Araucária (centro de distribuição para o mercado interno) e o porto de Paranaguá. Para isso, foi formalizada recentemente uma parceria entre o setor, o governo do Estado, a Copel (companhia de energia elétrica) e a Compagas. Com esse poliduto, cujo estudo de viabilidade encontra-se em andamento, esperamos tornar ainda mais competitivo o etanol paranaense – e a previsão é que fique pronto em 2014, com cerca de 500 quilômetros de extensão e investimentos da ordem de R$ 1 bilhão.

Numa segunda etapa, o setor de bioenergia do estado do Mato Grosso do Sul deverá participar do projeto. Com suas 30 unidades produtoras, sem contar as que atuam com biodiesel, o Paraná avança firmemente, contando com fatores que contribuem para o seu desenvolvimento. A atividade canavieira está presente em mais de 130 municípios, sendo um dos pilares da economia estadual, gerando 85 mil postos de trabalho e cerca de 500 mil indiretos. No mais, resta-nos saber extrair lições da crise e prosseguir adiante. O futuro reserva-nos um papel especial nesse cenário.