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Paulo Roberto Gallo

Diretor Presidente da Authomathika

Op-AA-13

A tecnologia como fator de sustentabilidade

Uma nova revolução pode estar se avizinhando: a transição da matriz energética global, fortemente dependente dos combustíveis fósseis, para as fontes alternativas e renováveis de energia. O panorama global nunca foi tão favorável a esta transição. Alertas recentes, vindos de cientistas e institutos de pesquisa de todo o mundo demonstram, de forma inequívoca, o comprometimento grave da biosfera, devido à emissão desenfreada de CO2 e outros gases causadores não apenas do efeito estufa, mas também de outros problemas ambientais, oriundos de um planeta cada vez mais ávido por energia.

O quadro global é profundamente inquietante. Os efeitos do aquecimento global, pela primeira vez, saem da impessoalidade dos meios acadêmicos, para demonstrações práticas, palpáveis e sentidas pela população leiga em geral, de que algo está muito errado com o clima. Paralelamente à questão climática, a instabilidade geopolítica nas principais regiões produtoras de petróleo do mundo, aliada à clara diminuição da produção dos principais campos petrolíferos, leva a um quadro potencial de redução de disponibilidade e ampliação dos preços do petróleo em todo o mercado mundial.

Assim, pela primeira vez, somam-se, de forma clara, aspectos ambientais e econômicos onde, certamente, os últimos representam o maior vetor propulsor de ações que busquem soluções inadiáveis para os problemas estabelecidos. Neste contexto, de busca por alternativas energéticas viáveis, o álcool - ou etanol, como conhecido internacionalmente, aparece como um importantíssimo componente de um mix de combustíveis, que permite a redução do consumo do petróleo e a conseqüente redução não apenas de gases poluentes, mas também da dependência mundial deste combustível fóssil.

Este mix inclui, ainda, o biodiesel – do qual o etanol também é parte importante do processo de fabricação, por transesterificação. Assim, abrem-se perspectivas econômicas extraordinárias para a cadeia produtiva do etanol e, conseqüente-mente, enormes oportunidades para a indústria brasileira, face à enorme demanda mundial, em potencial, para o produto, cujo ciclo tecnológico é dominado pelo Brasil, como em nenhum outro país, em todo o mundo.

A análise de dados relativos à produtividade brasileira na cadeia produtiva do etanol – bem como do açúcar – não deixa dúvidas quanto ao desenvolvimento de nossas tecnologias, tanto agrícolas, quanto industriais. Em aproximadamente 15 anos, a produção de açúcar e álcool, para uma dada quantidade de cana, praticamente dobrou – seja por avanços industriais, seja por avanços de produtividade da própria cana, obtida através de manejo genético e melhoria de variedades e técnicas agrícolas.

Desta forma, está armado um cenário, no qual o Brasil tem uma destas raras oportunidades de liderar, tecnologicamente, um mercado que tende – ainda que surjam novas alternativas energéticas – a crescer de forma exponencial no futuro próximo, em um horizonte de menos de uma década. A tecnologia brasileira está, no mínimo, outros dez anos à frente da disponível em outros países. Desde a produção de cana, passando pelos equipamentos de processo e sua automação, esta tecnologia certamente gera interesse em diversas partes do mundo.

É impossível, para o Brasil, sozinho, atender à potencial demanda de etanol para todo o planeta, mesmo considerando apenas sua utilização como aditivo à gasolina convencional. Simplesmente a necessidade é muito maior que a capacidade produtiva nacional, mesmo que a produção local seja dramaticamente ampliada nas próximas décadas.

Portanto, é natural imaginarmos a disseminação da produção em outras regiões do planeta, o que abre a oportunidade de disseminarmos nossa tecnologia na mesma proporção. Evidentemente, outros países estão na corrida – tais como Índia, África do Sul e Austrália, para mencionar apenas alguns. É fundamental que o país tenha a necessária visão estratégica, que promova a inserção dos produtos e da tecnologia brasileira no mercado global.

No passado, nós perdemos grandes oportunidades tecnológicas, em temas que provocaram verdadeiras revoluções culturais, sociais e econômicas, por não termos dado a devida atenção e impulso a tecnologias das quais fomos os pioneiros. Pouquíssimas pessoas sabem, por exemplo, que antes de Guglielmo Marconi (1874-1937) inventar e disseminar o que hoje conhecemos como radiodifusão, o Padre e inventor gaúcho Roberto Landell de Moura (1861-1928) já fazia transmissões radiofônicas em São Paulo, e obteve, nos Estados Unidos, o registro de nada menos que três patentes, dentre elas o “Transmissor de Ondas”: um rádio transmissor, antes de Marconi.

Por falta de apoio e visão estratégica, o Brasil perdeu a grande chance de liderar a indústria das comunicações, e o Padre Landell morreu esquecido, sem ter visto sua capacidade reconhecida, em seu próprio país. Mais ou menos à mesma época destes acontecimentos, outro brasileiro conquistava os ares. Alberto Santos Dumont (1873-1932), com seu 14-Bis, fazia o primeiro vôo oficialmente reconhecido e homologado, sobre os céus da Europa, na Paris que era um dos grandes centros culturais do mundo.

Uma vez mais, o Brasil não conseguiu vislumbrar a importância da nascente indústria aeronáutica e todas as conseqüências que ela traria para o país que a possuísse. Foram necessárias muitas décadas para podermos chegar a ter uma Embraer, o que é positivo – mas poderia ser uma Boeing ou uma Airbus: nós havíamos saído na frente.

O que se espera é que, desta vez, possamos corrigir os erros do passado e emergir como a nova liderança energética do mundo, provocando a revolução tecnológica necessária para transformar o Brasil não apenas no grande celeiro mundial, mas, também, no grande agente de redução das agressões à nossa biosfera. Certamente, o planeta e as futuras gerações terão muito a nos agradecer.