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Arthur Padovani Neto

Diretor da Aliança Engenheiros Associados

Op-AA-06

Abordagem técnica sobre a geração de excedentes de energia elétrica

O direcionamento das usinas de açúcar para a geração de excedentes de energia elétrica requer plantas operando com caldeiras de alta pressão e turbinas de múltiplos estágios, tanto de contrapressão, como de condensação com elevada eficiência de conversão termomecânica. Vários estudos mostram que a viabilidade destes projetos apresenta extrema sensibilidade com relação à capacidade instalada - ao montante da energia gerada – sobretudo, porque são bastante intensivos em capital, que, evidentemente, não variava de forma linear à capacidade dos equipamentos.

Assim, plantas contemplando caldeiras e turbogeradores de grande capacidade, apesar do elevado capital inicial, geralmente apresentavam viabilidade melhor que as de menor porte, evidenciando claramente a importância do fator de escala nestes projetos. Observou-se, através destes estudos, quase uma fronteira delimitando a viabilidade aceitável para plantas de geração associadas a Usinas, com moagem acima de 350 tCh.

Entretanto, as estimativas do potencial de cogeração do setor da agroindústria da cana-de-açúcar são, na grande maioria, calcadas em estudos desenvolvidos, considerando uma planta com capacidade de moagem da ordem de 500 ton de cana por hora. Esta metodologia coloca em controvérsia uma série de previsões sobre o potencial de geração de excedentes, visto que, na safra que se encerrou neste ano foram processadas cerca de 386 milhões de ton de cana, por cerca de 320 Usinas.

Assim, se utopicamente considerássemos que dentro deste universo, cerca de 100 plantas enquadram-se dentro das premissas consideradas naqueles estudos, desenvolvidos por entidades do setor privado e público, concluímos que estas usinas processariam por volta de 220 milhões de ton na safra, ou seja, as 220 restantes processariam cerca de 166 milhões de ton, que resultaria numa moagem média de 750 mil ton por usina, que, por usa vez, resultaria numa moagem média horária inferior a 180 ton para cada unidade, plantas não viáveis na condição atual do mercado de energia.

Neste contexto, fica evidente que se não houver, por parte dos Órgãos Governamentais, uma revisão dos vários conceitos utilizados, sobretudo no Proinfa, para avaliação das características da energia elétrica, associada a fonte primária bagaço, abordando também os seu aspectos estratégicos, e também se dedique a esta fonte atenção idêntica à concedida a Eólica, o aproveitamento de todo potencial energético da biomassa estará comprometido.

Esta conclusão decorre do fato de que se a cogeração tem a viabilidade fortemente sinalizada para plantas de geração de energia, associadas a usinas com moagem horária da ordem de 500 ton de cana, estaríamos, de pronto, desprezando o potencial associado a cerca de 40% da cana moída, o que, pode ser tomado como um despautério.

O eventual aproveitamento global da energia da cana – sem uma revisão completa de conceitos de política governamental, implica em expandir a produção de forma direcionada, para que as pequenas unidades atinjam o fator de escala requerido para a viabilidade, ou ainda a junção das pequenas usinas em grandes grupos ou aos grandes grupos.

Isto posto fica lançada a provocação baseada nos seguintes argumentos: Na área de empregos, para produção de álcool (parte agrícola e industrial) são necessários investimentos da ordem de 10 mil dólares para um emprego permanente, em relação aos 220 mil ou 145 mil dólares investidos na petroquímica e na metalurgia, respectivamente. (Parra – ESALQ)

Ao mesmo tempo, lembramos que a geração de excedentes pelas usinas é feita através de equipamentos com tecnologia totalmente nacionalizada, ao contrário do que ocorre com as outras fontes alternativas como a eólica, altamente dependente de tecnologia externa, cuja energia produzida, o Proinfa remunerou em cerca de 150% a mais, em relação a produzida pela biomassa.

Paradoxalmente, o programa do biodiesel está contemplando a agricultura familiar, sem analise do fator de escala, viabilidade, TIR, entre outros, objetivando o redirecionamento deste programa para oligopólios. Assim, indagamos qual a razão para o tratamento dado a biomassa no Proinfa? Será que parte da culpa não cabe as próprias entidades do setor, que difundem números espetaculares, porém decorrentes de projeções estruturadas sobre modelos baseados numa realidade diferente da atual.

É propalado um potencial de geração de energia equivalente a usina Itaipu que, seria atingido se todas as usinas do setor tivessem suas características operacionais otimizadas. Assim, são gerados parâmetros que não condizem com a realidade do setor e sempre são feitas projeções sobre o total da cana processada, considerando custos de implantação, de uma planta, na faixa de 600 US$/kWh, sem qualquer alusão ao fator de escala.

Sobre estes parâmetros, são desenvolvidos outros estudos governamentais para determinação dos valores de compra da energia – em programas incentivados – e, por conseqüência, surge uma série de distorções que comprometem o êxito destes programas fazendo recair sobre o setor a imagem de despreparo para envolvimento em projetos que não sejam de lucro fácil.

Por outro lado, não existe nada que justifique o tratamento diferenciado no Proinfa, para duas fontes de energia como a eólica e a biomassa. O produto final é exatamente o mesmo, e a biomassa têm um potencial para descentralização e distribuição da geração significativamente maior que o da eólica, o que, evidentemente, lhe confere vantagens estratégias dentro de um conceito de matriz energética, diversificada e descentralizada, que prevalecerá no futuro.

Estou consciente que, para as considerações feitas acima, haverá uma série de justificativas e contra-argumentos que nos remeteriam, com certeza, às colocações do Dr Hermann Scheer, MP, General Chairman of the World Council for Renewable, Member of Germany’s Bundestag, 2004: “Numerosas desculpas se vêem sobre as mesas: os custos são muito altos; as tecnologias ainda não estão maduras o suficiente; os mercados ainda não aceitam as energias renováveis; os fósseis ainda terão vida longa; falta área disponível; há falta de consenso... No entanto, todas essas desculpas revelam, apenas, que há falta de liderança e falta de coragem para atender a prioridade correta.”