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Moacyr Castro

Jornalista especializado em agronegócio

Op-AA-10

Contra o capital externo, o governo será menos , digamos, restritivo...

Abril de 1998: O embaixador brasileiro, Paulo Tarso Flecha de Lima, negocia com o governo da Califórnia a exportação, pelo Brasil, de dois bilhões de litros de álcool por ano, para o estado mais rico, do país mais rico do mundo, começando com 500 milhões de litros anuais.

Os californianos tentavam, ao mesmo tempo e desesperadamente, oxigenar sua gasolina, economizar petróleo, cumprir a Lei do Ar Limpo e tranqüilizar pais de alunos de uma escola de Los Angeles, cujos poços artesianos foram contaminados, pelo vazamento de MTBE, Metil Tercio Butil Éter, o aditivo venenoso, que eles usavam para atender àquelas exigências.

A notícia das peripécias desse diplomata, legítimo herdeiro da melhor estirpe da Casa de Rio Branco, chegou a Ribeirão Preto na mesma madrugada das negociações. No dia seguinte, estava no jornal O Estado de São Paulo. No fim da tarde, senadores dos estados produtores de cereais e de álcool de milho exigiam esclarecimentos da Casa Branca.

Coube ao então vice-presidente, Al Gore, ex-senador pelo estado do Tennessee, enviar carta ao Estadão, desmentindo as negociações. “Al” estava sendo pressionado. O álcool brasileiro continuou entrando nos EUA com carimbo de países do Caribe. Eles não tinham alternativa. Não era a primeira vez que nosso álcool incomodava interesses americanos - a ponto de, em 1989, a Petrobrás ser justamente acusada de dumping, por vender o combustível limpo a baixo preço (leia-se preço justo).

Resultado: bloquearam a entrada e taxaram-no por desestimulantes US$ 0,54 o barril. O que não impede até a Shell de entrar com ele lá - pagando a taxa.  

Solução encontrada pelos empresários americanos: comprar, construir ou investir em usinas brasileiras e produzir maciçamente álcool de milho lá, a um custo que só eles podem pagar. Em oito anos, igualaram a produção brasileira; ano que vem, já serão auto-suficientes.

Diria que são auto-eficazes, de uma eficácia que só o capitalismo, a livre iniciativa, a competição pela maior produtividade, a pesquisa, o patriotismo, o trabalho e a justa distribuição do recolhimento de impostos, podem proporcionar. (Aqui, usa-se dos impostos o equivalente a dezenas de salários mínimos para pagar, todo mês, cada deputado estadual, federal e senador - até ministro é acusado! - e, em troca muitos ainda produzem mensalões, propinodutos, sanguessugas...?)

Agora, oito anos depois daquele ridículo desmentido, ora vemos na Veja, o que diz sobre o álcool o mesmo Al Gore, que teve de perder a eleição presidencial para o Bush filho: “Uma coisa que os EUA podem fazer para ajudar o Brasil é remover as altas taxas sobre a cana e o álcool combustível.”

“O álcool é o substituto mais importante que temos hoje para os combustíveis fósseis. Acredito que seja uma solução concreta para a ameaça de aquecimento da Terra. Já desenvolvem tecnologias que, no futuro, poderão produzir álcool, pela metade do preço do petróleo. O mais importante é que permitirão produzir o combustível com raízes, bagaços e folhas de plantas, evitando que alimentos sejam usados para esse fim. Se conseguirmos avançar nesse ponto, não haverá mais a competição comida versus combustível.

Já é possível imaginar um mundo que não dependa do petróleo. O Brasil não só inovou no desenvolvimento desse combustível alternativo, como se tornou líder mundial dessa indústria. O país pode ensinar o resto do mundo a ter um melhor entendimento na solução de problemas relacionados aos combustíveis fósseis. Prova disso é o sucesso dos carros flex. Esses veículos mostram aos demais países, que há alternativas viáveis e que não é necessário mendigar a misericórdia dos países do Oriente Médio e da Venezuela.”

Ele não é uma graça? Esteve no Brasil há pouco. Quase ninguém notou. Assim como quase ninguém se lembra de que essa energia verde, que foi obrigado a repudiar, “Al” hoje defende como poucos brasileiros sabem defender. Nesta terra, descoberta, colonizada, construída e muitas vezes educada por estrangeiros, sempre se valorizou mais o que é estrangeiro.

Tanto que vivemos agora a grande verdade dita a respeito do álcool: “Ele só será reconhecido quando o mundo precisar dele, quando os Estados Unidos passarem a fabricá-lo. Porque todos sabem que não há outro caminho.”. Pedem-me os amigos da Divisão de Açúcar & Álcool desta brava revista Opiniões para escrever sobre a expansão do setor sucroalcooleiro. A perspectiva é promissora, principalmente agora que o capital externo é seu parceiro e os produtores brasileiros podem pegar carona, porque contra o capital externo, o governo do Brasil é menos, digamos, restritivo...