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Luiz Otávio Koblitz

Diretor Presidente da Areva-Koblitz

Op-AA-15

A cogeração no setor sucroalcooleiro e a infra-estrutura energética brasileira

Para suprir suas necessidades de crescimento médio entre 4% e 5% ao ano, o Brasil precisa incrementar, pelo menos, cerca de 5 mil MW de potência instalada anuais. No passado, quando se falava nesse volume de potência, a energia não ultrapassava os 3 mil MW médios de geração. Isso porque uma hidrelétrica de 1.000 MW instalados tinha, na verdade, reservas para gerar, em média, apenas 60% disso.

Durante muitas décadas, o país viveu assim, exclusivamente de hidrelétricas, que geravam sempre 60% de sua potência máxima. Com a mudança – ambientalmente positiva – de hidrelétricas de grandes reservatórios, como a de Sobradinho e Furnas, para usinas a fio d’água, como as do Rio Madeira, esse potencial de geração diminuiu ainda mais.

Se por um lado os impactos ambientais foram amenizados, no modelo a fio d’água, que não depressiona os reservatórios, apenas 50% da potência instalada é, de fato, gerada em média, já que são colocadas mais máquinas para aproveitar melhor a água. Dependendo da fonte, a energia média gerada pode ser maior ou menor que as hidrelétricas, como a eólica, que consegue apenas 30% de sua potência instalada, já a energia proveniente do bagaço da cana, que é sazonal, resulta em 40% de MW médios, a energia nuclear consegue gerar até 800 MW médios, de 1.000 MW instalados. Exatos 80%.

E, se fugirmos um pouco do mérito do que é bom ou ruim para o meio ambiente, chegaremos à opção da usina a carvão, que facilmente atinge a marca dos 70%. O termo “potência instalada” está caindo em desuso, já que para calcular a necessidade real de energia devem ser levados em consideração os números médios, o quanto, de fato, será gerado para consumo.

A necessidade de energia é sempre crescente. Se hoje o Brasil precisa de 3 mil MW médios, no ano seguinte já precisaria de mais 3.150 MW médios, e assim por diante. Para atender a essa necessidade, muitos fatores devem ser considerados e o primeiro deles, que serve como uma peneira para os seguintes, é a viabilidade econômica.

É óbvio que devemos priorizar medidas de menor impacto ambiental, mas não podemos crescer, no Brasil, com uma energia cara, que inviabilize todos os outros setores. Encarecer o acesso à energia poderia inviabilizar a indústria brasileira. Não podemos construir uma matriz energética que aumente de 50% a 100% o custo da energia. A indústria do aço seria devastada, assim como a do tecido, onde 18% do insumo é energia, e muitas outras atividades.

Depois dessa primeira e indiscutível seleção, que é a viabilidade econômica, o fator seguinte – e não menos importante – é a condição ambiental da geração. Se não tiver viabilidade financeira, não se pode prosseguir, e com o meio ambiente também é assim. Como nenhuma geração existente é livre de impactos, devemos avaliar, com cautela, que técnicas deixam menos rastros no meio ambiente.

A análise desses impactos leva em consideração as emissões globais e locais. Sobre as globais (gases do efeito estufa), temos como resultado da queima de combustível fóssil o gás carbônico - CO2, e da decomposição anaeróbica orgânica, o gás metano - CH4. Analisado esse primeiro impacto, e a melhor forma de diminuir a geração de gases nocivos, as atenções devem ser voltadas para os impactos locais, como a chuva ácida, formada pela caldeira de carvão mineral.

Fauna e flora da região impactada também devem ser resguardadas. Hidrelétricas construídas em locais de migração de peixes deverão ser feitas a fio d’água, e com escada para peixes. Em uma época em que os países desenvolvidos aceleram para desativar suas usinas a carvão – grande vilã de impacto global, já que nenhum outro modelo emite uma quantidade maior de CO2 do que ela – o governo brasileiro acaba de aprovar a construção de novas unidades, que importarão os principais equipamentos para construí-las e o carvão mineral para operá-las.

Embora os Leilões demonstraram que elas conseguem passar no quesito viabilidade econômica (R$ 140,00/MWh), no nosso entendimento seriam reprovadas no quesito balança comercial, e no quesito ambiental receberiam zero, com louvor. Passando pela viabilidade e levando em consideração os impactos globais e locais, deve-se analisar também a independência energética, não criando uma matriz energética dependente de outros países.

O Brasil deverá crescer e continuar crescendo com suas próprias fontes energéticas, entendendo que o licenciamento ambiental é muito sério e precisa ser discutido com a sociedade. Ou seja, precisaremos cada vez mais de planejamento. Os licencia-mentos ambientais não são mais apenas ambientais, agora são socioambientais, já que não se pode mais deixar de considerar os impactos sociais. O indivíduo também precisa de uma condição melhor, já que está se tirando uma riqueza de uma região.

A Geração Distribuída - GD, cujas principais fontes são a biomassa, pequenas centrais hidrelétricas - PCH, eólica, gás pobre de alto forno e cogeração industrial com gás natural, podem atender cerca de 30% das novas necessidades brasileiras, a cada ano. São fontes de pequeno impacto ambiental, muitas vezes agregam valor a atividades existentes, evitam e/ou postergam investimentos em subestações e linhas de transmissão, diminuem perdas, favorecem a balança comercial, socialmente mais distributiva na construção e operação, além de facilitar o planejamento do setor elétrico, devido ao pequeno prazo de construção, cerca de dois anos.

A Geração Distribuída, de tão limpa e boa, chega a ser transparente, e esse deve ser o motivo de muita gente ainda não estar vendo essa evidência. Os 3 mil MW médios necessários, para o nosso crescimento a cada ano, serão obtidos através de diversas fontes. No Brasil, existem 500 milhões de toneladas de cana-de-açúcar e só o bagaço poderia representar 5.000 MW médios, dos 50 mil MW que o país consome anualmente.

Já as pontas e palhas seriam responsáveis por outros 7.000 MW médios, totalizando 12.000 MW médios. Ou seja, a cana-de-açúcar pode gerar, sozinha, 24% da necessidade atual brasileira, isso levando em consideração apenas a cana já plantada. Como as plantações estão na região de maior consumo (50% no estado de SP e 12% no Nordeste), não há necessidade de construção de grandes linhas de transmissão e, por conseqüência, evitam-se custo e perdas.

Se o governo realmente quiser acelerar o resgate dessa energia jogada fora a cada ano, terá que remunerar melhor esse tipo de geração, sem precisar fazer nenhum favor, basta reconhecer os benefícios paralelos obtidos e já acima enumerados. Considerando que essa contribuição seja, em média, de 800 MW médios por ano (2.000 MW instalados), em quinze anos, todo esse potencial estaria produzindo riquezas, além de termos o açúcar e o álcool bem mais competitivos.