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Rogério Roberto Gollo

Sócio da PricewaterhouseCoopers

Op-AA-13

Sustentabilidade econômica no setor de açúcar e álcool

A obtenção de energia renovável é o grande desafio contemporâneo. A utilização dos biocombustíveis em escala global depende não somente da inovação tecnológica, mas também do surgimento de uma cadeia de produção sustentável, que possa garantir a perenidade do suprimento. Desafio ainda maior é demonstrar a sustentabilidade econômica do setor, tanto na questão do álcool, quanto do açúcar, para captar investimentos de longo prazo.

A PricewaterhouseCoopers acaba de publicar os resultados dos seus estudos sobre setor energético mundial, onde constatamos que o álcool combustível produzido no Brasil torna-se competitivo e economicamente viável, quando o preço do barril de petróleo ultrapassa US$ 40. Em meados de 2004, o barril de petróleo ultrapassou essa barreira e há poucas expectativas de que retroceda, portanto a oportunidade está lançada ao setor sucroalcooleiro brasileiro.

Às empresas, resta demonstrarem que estão capacitadas para serem os receptores desses investimentos (tanto em termos de transparência, de relações sociais e trabalhistas, quanto em termos de confiabilidade, no longo prazo). Além das necessidades energéticas nacionais, fatores globais influenciaram a visibilidade da tecnologia brasileira de produção de combustíveis renováveis, com grande ênfase ao álcool combustível.

A instabilidade geopolítica que afeta, principalmente, o Oriente Médio, e o aquecimento global, são, hoje, assuntos predominantes na agenda política mundial e o álcool combustível oferece algumas saídas para esses problemas. Com os biocombustíveis tornando-se uma saída razoável às pressões globais, o Brasil virou foco das atenções, por possuir tecnologia e estrutura diferenciada (terras disponíveis). Esse novo ciclo de expansão do setor e essa nova visão mundial, pró-combustíveis limpos, são uma grande oportunidade para o desenvolvimento do Brasil, que começa a despontar como uma futura potência energética.

As entradas de capital externo e a definição de padrões para o álcool combustível trazem, ao setor e ao país, benefícios que precisam ser aproveitados, em prol do desenvolvimento sustentável e do aperfeiçoamento dos modelos vigentes. Uma das primeiras ações necessárias, nesse sentido, é a de modernizar as relações empregatícias e trazer o modelo de trabalho rural à atualidade.

Empresários de vanguarda já enxergaram a oportunidade de se adiantar no desenvolvimento de indicadores e certificações socioambientais, que englobem o processo produtivo do álcool e sejam capazes de demonstrar, de forma transparente e adequada, elevados patamares de sustentabilidade e, com isso, superar barreiras não-tarifárias.

A gestão dos riscos e o acompanhamento desses indicadores nos segmentos da cadeia produtiva demandarão investimentos e forte trabalho de comunicação, dirigido aos investidores, ao mercado externo e aos principais agentes de controle social e ambiental. Governos em países desenvolvidos, como o Japão, buscam novos padrões de misturas na gasolina, utilizando o etanol como fonte renovável e de menor emissão de poluentes.

Para garantir o suprimento de etanol para estes países, o mercado está se configurando ao redor de contratos de longo prazo, estabelecidos em torno de 10 a 20 anos. Contrato de longo prazo é uma modalidade complexa no âmbito de relações bilaterais entre países, especialmente em se tratando de energia. Neste sentido, a exigência de um modelo sustentável é indispensável e, para isso, o mercado brasileiro precisa estar preparado e, mais do que isso, demonstrar maturidade.

Um modelo sustentável é um modelo que possui uma estrutura de gestão adaptável às novas exigências mundiais. Com a crescente conscientização socioambiental, é praticamente garantido que os modelos de gestão atuais não são aplicáveis aos desafios futuros. A própria legislação ambiental deverá ser aprimorada.

Neste sentido, o exportador, o produtor e os demais participantes do mercado de etanol deverão adotar sistemas de gestão socioambientais, que permitam a visualização integrada de sua cadeia produtiva. Uma visão integrada permitirá antecipar mudanças que possam prejudicar as suas operações, quer por uma nova legislação ambiental ou mesmo a escassez de um recurso natural hoje abundante.

A cadeia produtiva do setor sucroalcooleiro é extremamente complexa e possui relações socioambientais frágeis, como, por exemplo, a questão da monocultura e a dependência socioeconômica das comunidades ao redor das usinas e das áreas de plantio. É, portanto, indispensável que a gestão da sustentabilidade seja suportada pela utilização de ferramentas, que considerem esses fatores, como é o caso da Análise do Ciclo de Vida.

Maximizar o aproveitamento energético da cana-de-açúcar é um caminho que também deve ser perseguido pelas empresas sucroalcooleiras, ou seja, transformar usinas de açúcar e álcool, em centrais energéticas. Outro fator importante para o setor é a constante inovação, uma vez que o ciclo de produção, atrelado à cana-de-açúcar, ainda tem importantes avanços a alcançar, como o desenvolvimento de produtos químicos e farmacêuticos, que agregam valores substanciais à cadeia de produção.

É relevante citarmos o advento dos carros bicombustíveis - nosso flex, que permitem uma mobilidade estratégica comercial, tanto pela mescla de energia (álcool) e alimento (açúcar), quanto pelo melhor balanço em relação aos combustíveis fósseis (efeito demanda, versus preço). Nesse contexto, diferente de ocasiões anteriores, o papel do governo é o de desenvolver uma política de agroenergia, que apóie os investidores e que crie regras claras e sustentáveis, a fim de prevenir excessos, e evitar que o país crie um ciclo de monocultura e exportação de commodities.

O Brasil tem um grande desafio nesse novo mercado de biocombustíveis, que é consolidar uma indústria moderna, que agregue cada vez mais valor à sua cadeia produtiva e seja capaz de apoiar o desenvolvimento sustentável (econômico, social e ambiental) do país, atendendo à demanda crescente do mercado internacional.