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Robert Carlos Lyra

Vice-presidente Executivo do Grupo Carlos Lyra

Op-AA-08

Estruturação do estoque estratégico de álcool

Inúmeros foram os acontecimentos, circunstâncias e atitudes tomadas, ao longo dos últimos anos, por diferentes grupos econômicos, nas diferentes regiões do país, envolvendo todos os elos da cadeia produtiva do setor sucroalcooleiro, que embora respondendo a interesses individuais e independentes, como que fazendo parte de um sincronizado plano, foi transformando, de uma forma segura, contínua, orquestrada e profissional, o complexo no qual se transformou o mercado brasileiro de álcool, preparando, estrategicamente, o setor para se expor, e resolvidas poucas e definidas questões, definir e assumir responsabilidades maiores para com o abastecimento nacional e o promissor mercado mundial.

No Brasil existem dois mercados distintos e bem definidos para os dois tipos de álcool carburante produzidos: o hidratado e o anidro. A estruturação dos estoques estratégicos de ambos os tipos de álcool tem que considerar as novas condições mercadológicas, a que foram submetidos estes dois produtos.

No caso do álcool hidratado, a produção dos veículos flexíveis surpreendeu os mais otimistas planos, aniquilando todas as projeções de longo, médio e de curto prazo. A surpreendente aceitação do consumidor brasileiro provocou alterações de planos em quase todas as montadoras em operação no Brasil, tamanha a velocidade com que o novo conceito foi consolidado.

A produção de 2004 foi de aproximadas 380.000 unidades, representando 24% do total de veículos leves produzidos no país. Em 2005, este número pulou para 900.000 veículos, já representando 52% do total de veículos produzidos por toda a indústria automobilística brasileira. Para 2006, o mercado, agora já considerando a veloz aceitabilidade acontecida, projeta que serão produzidas cerca de 1.340.000 unidades equipadas para a versão bicombustível, já representando quase 80% do total da produção de veículos leves.

Neste novo cenário de mercado, a opção entre o consumo do álcool hidratado e a gasolina está nas mãos do motorista, que na frente da bomba de abastecimento, de posse dos cálculos dos custos e do performance de cada um dos produtos à disposição, decidirá pela utilização de um ou de outro.

Assim, o estoque estratégico terá muito mais sentido na forma de álcool anidro, uma vez que a demanda desse produto é gerada pelo consumo da gasolina, através da adição obrigatória atual de 20% de álcool anidro na mesma. Os números de consumo, em âmbito nacional, serão mais estáveis, visto que a demanda deverá crescer na direção do álcool hidratado.

Existe também outro participante importante e decisivo no mercado interno brasileiro: as distribuidoras. Seria recomendável que elas passassem a participar de maneira mais freqüente nas compras de álcool, através da Bolsa de Mercadorias e Futuros, trazendo maior liquidez para o mercado. Isto certamente dará mais conforto aos produtores e consumidores.

De forma natural, as instituições financeiras passarão, automaticamente, por variante natural de mercado, a dedicar maior interesse e apoio ao setor, através de linhas de crédito mais condizentes. Devemos nos manter atentos à possibilidade do boom do mercado global, sinalizados pelas, cada vez mais freqüentes, declarações do presidente norte-americano, lastreando a questão de segurança nacional, à adoção de combustíveis alternativos ao petróleo, por razões econômicas e ecológicas.

Não somente os Estados Unidos estão focados na busca por soluções alternativas para sua matriz energética, quer pelas razões ambientais, quer pelas econômicas, mas também: Índia, Canadá, Japão, Nigéria, Venezuela, dentre diversos países da Comunidade Européia. Estudiosos do setor afirmam que o Brasil precisa manter um crescimento anual estável, de aproximadamente 9% na produção de álcool, para viabilizar o atendimento da promissora demanda.

Entretanto, vale sempre lembrar que o álcool é uma commodity agrícola, e, como tal, dependeremos de muitas variáveis para assegurarmos este crescimento, dentre as quais, estão as questões climáticas. O setor, através de suas entidades representativas, em conjunto com o governo brasileiro, tem buscado consolidar ferramentas para a viabilização deste crescimento. De seu lado, tem feito pesados investimentos no crescimento da capacidade produtiva e na busca de soluções logísticas para esta nova realidade.

Nesta linha, nosso grupo está implantando, em uma das unidades em Minas Gerais, uma das maiores colunas de destilação de álcool do mundo, em capacidade de produção. Com o apoio do BNDES, foram investidos US$ 50 milhões no projeto. Ele conta com a aquisição de uma destilaria, com capacidade para produzir 700 mil litros/dia de álcool anidro, cerca de 130 milhões de litros por safra.

Para viabilizar esta produção, foi elevada a capacidade de esmagamento em mais 1,5 milhão de toneladas de cana-de-açúcar e acréscimo de 150.000 MW na capacidade de cogeração de energia, saindo de 70.000 MW, para 220.000 MW, já na safra de 2006/07. Ainda consolidando nosso apoio ao crescimento do mercado brasileiro, pretendemos instalar, no triângulo mineiro, três novas unidades, quase que dobrando a capacidade de esmagamento, atualmente com 7,5 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por safra.