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Luiz Otávio Koblitz

Diretor Presidente da Areva-Koblitz

Op-AA-02

A geração distribuída é uma grande saída para o setor elétrico

Nos últimos 60 anos, o sistema elétrico brasileiro foi todo implementado, tomando-se por base o seu enorme potencial renovável de hidroeletricidade. Trata-se de uma ótima qualidade de energia, porém alguns problemas precisam ser considerados. O primeiro deles deve-se ao fato das usinas serem grandes e estarem quase sempre distantes dos principais centros consumidores.

Infelizmente, hoje, o Brasil amarga cerca de 16% de perdas entre a geração e o consumidor final. Outra dificuldade enfrentada pelo setor é a de que o investimento é realizado durante um espaço de tempo de 8 a 12 anos, sem que se possa retirar, neste período, um único kWh. Não há como se fazer a instalação de forma parcial, pois 80% do custo é a construção civil.

Tudo tem que ficar absolutamente pronto para instalar as primeiras máquinas. Nos anos 90, com a desregula-mentação do setor elétrico e com o início das privatizações, começou a haver espaço para a implantação de pequenas usinas, situadas quase sempre junto aos locais de consumo e com as mais diversas fontes primárias, tais como: eólica, bagaço de cana-de-açúcar, resíduo de madeira, casca de arroz, gás de alto forno e gás natural, entre outras.

Esse tipo de geração passou a ser chamada de Geração Distribuída, GD, por ser de pequeno porte e estar próximo ao lugar de consumo. À GD juntaram-se também as Pequenas Centrais Hidrelétricas, conhecidas por PCHs, com capacidade de geração de até 30 MW. O gás natural utilizado na indústria para produzir calor e em grandes usinas a ciclo combinado para geração exclusiva de energia elétrica, teria que ser priorizado para a cogeração de energia no setor industrial e comercial, onde se produz de forma simultânea energia elétrica e calor, sempre com alta eficiência, e no local certo, em uma indústria, que quase sempre está dentro de um distrito industrial. Isto é a GD evitando custos de transmissão e distribuição, além de postergar investimentos.

Poucos projetos são hoje instalados, pois o retorno do capital não é dos mais interessantes. O preço do gás natural está muito alto com relação ao preço da energia elétrica. O potencial de cogeração com gás natural, no Brasil, é de 20.000 MW. O governo deveria criar um programa de cogeração com gás natural a preços compatíveis e, em troca, receberia em dobro da geração distribuída mais bem posicionada do mundo, através das vantagens paralelas, ocultas apenas para aqueles que não querem ver.

Na cidade de Piratini no RS, existe uma grande floresta de pinus (pinheiros), plantada há cerca de 30 anos, que vem sendo explorada e renovada por diversos madeireiros regionais. Ao extrair as tábuas das toras de pinus, o resíduo produzido é de cerca de 75% do tronco da árvore. Até 2002, toda esta biomassa residual era descartada sem agregar valor à atividade.

Uma parte queimada ao tempo, emitindo monóxido de carbono, que é um gás tóxico, e uma outra parte simplesmente depositada em áreas de sacrifício, se decompondo ao longo de alguns anos, e produzindo de forma espontânea, o gás metano (CH4), através da biodigestão anaeróbica, agravando o efeito estufa da Terra.

Por ser uma região afastada, a operação destas serrarias se fazia de forma precária, pois a energia elétrica na região, devido à distância, era de má qualidade. A Koblitz ao prospectar esta bela oportunidade de aplicação da GD, implantou uma usina de geração de energia elétrica de 10 MW, a partir dos resíduos de madeira das serrarias. A termoelétrica iniciou sua operação em janeiro de 2003, vendendo toda energia produzida a distribuidora local, Cia. Estadual de Energia Elétrica, CEEE.


O empreendimento está tendo um grande sucesso, pois além de atender à premissa básica de retorno do capital investido, está dando destino aos resíduos antes rejeitados, evitando o impacto ambiental antes causado e agregando assim, valor às atividades já existentes das serrarias, resolvendo o problema da qualidade da energia das serrarias e de diversas cidades da região.

A consolidação da GD está acontecendo com o advento do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia, Proinfa, que acaba de contratar 1.100MW de eólica, 1.100 MW de PCH e, com a segunda chamada, contratará mais 1.100 MW de biomassa.

Convém lembrar que o potencial da energia inventariado no Brasil é de 60.000 MW para a eólica, de 12.000 MW para PCH e para a biomassa, considerando o cenário atual, é de 18.000 MW. A geração distribuída deveria ser a prioridade máxima do planejamento da expansão do setor elétrico pelos seguintes motivos:

1. Baixo valor de implantação, com valores de referência de U$500 a U$1000/KW;
2. Todos os equipamentos e instalações são de fabricação nacional, excetuando-se aproximadamente 50% da eólica, que são importados;
3. Gera a possibilidade de venda de Crédito de Carbono, o que contribui com as exportações;
4. Utiliza-se de um combustível nacional;
5. Normalmente agrega valor a uma atividade já existente (biomassa, gás de alto forno, gás natural em cogeração);
6. Tem um curto tempo de implantação. Entre um a dois anos;
7. A geração é geograficamente distribuída, o que evita custos da construção das linhas de transmissão e na perda no transporte da energia;
8. Tem um baixo impacto ambiental ou até elimina impactos que estejam sendo causados;
9. A relação número de empregos por MW instalado é alta durante a construção e operação das usinas.

O Brasil tem instalado, atualmente, cerca de 84.000 MW e se considerarmos um crescimento mínimo médio anual de 3,5% do PIB, a demanda de energia crescerá 5% ao ano. Em 10 anos teremos que implantar cerca de 50.000 MW, ou seja, 60% de toda energia que existe hoje, sendo, portanto, 5.000 MW por ano. Considerando as vantagens acima enumeradas e o potencial da Geração Distribuída, o Brasil poderia estabelecer que as novas necessidades fossem atendidas nestes próximos 10 anos, por pelo menos 2.000 MW/ano de Geração Distribuída, ou seja, 40% do total.

Se esta diretriz for realmente levada a efeito, o setor elétrico brasileiro terá muito a comemorar. Do ponto de vista ambiental terá representativa redução de impactos. Sob a ótica social, será gerado um grande número de empregos na indústria nacional. E, sob a visão econômica, esta opção gerará diminuição dos investimentos necessários e redução das perdas na transmissão.