Me chame no WhatsApp Agora!

Jairo Menesis Balbo

Diretor Industrial das usinas Santo Antônio e São Francisco

Op-AA-45

(Sem) perspectivas
“As crises, e entre elas principalmente as da economia, espalham aflição e a aflição produz perguntas. A questão recorrente da hora é: até quando vai o sufoco? Para uns, a fonte de aflição é o desemprego; para outros, o orçamento que encurtou com a inflação e com as dívidas; para todos, a sensação um tanto vaga de que as coisas não vão bem e parecem piorar. Não dá para enxergar o fim do túnel, até porque o túnel também varia de pessoa para pessoa.” (Celso Ming,  O Estado de S. Paulo)
    
“Por que o Estado não abre mão de suas taxas, seu olhar, suas regras, suas licenças? Por que somos uma economia que funciona através de concessões e agências reguladoras? Por que o Estado crê que precisamos da intervenção do Estado? Precisamos da máquina burocrática impiedosa em todas as atividades? Para o Estado, somos todos criminosos, sonegadores, fraudadores? Para o Estado, é melhor o monopólio da incompetência?” (Marcelo Rubens Paiva)
 
“Enquanto a nascente indústria brasileira de etanol de segunda geração estimula o debate sobre possíveis medidas governamentais de apoio à competitividade, os norte-americanos, que já possuem um mandato obrigatório para esse biocombustível, estão a um passo de renovar a extensão do crédito tributário ao etanol celulósico e ao biodiesel.” (N.Cana)
 
“Dilma está no volume morto, o PT está abaixo do volume morto, e eu estou no volume morto. Todos estão numa situação muito ruim. O governo parece um governo de mudos. E olha que o PT ainda é o melhor partido. Estamos perdendo para nós mesmos. Acabamos de fazer uma pesquisa em Santo André e São Bernardo, e a nossa rejeição chega a 75%. Entreguei a pesquisa para Dilma, em que nós só temos 7% de bom e ótimo.” (Lula, em conferência a religiosos em seu instituto. Jornal, O Globo)
 
“... falta uma política efetiva de renda que tenha seguro rural digno do nome. Também são necessários a modernização do crédito rural e mecanismos de comercialização mais próximos ao mercado e mais independentes do governo. Há mais problemas que continuam a perturbar o setor, como as leis trabalhista e ambiental, que precisam ser revistas. Faltam recursos para pesquisa, extensão e defesa sanitária. Também é necessária maior agressividade no comércio internacional, com acordos bilaterais.” (Roberto Rodrigues, Folha de S. Paulo)
 
“Hora de mudar o rumo, antes que seja tarde.” (José Dirceu, em seu blog.)
 
Reproduzir tantos argumentos não revela preguiça de escrever, mas esforço para selecionar, num mundo de argumentos, os mais leves, na busca daquele que reflete a situação do País. Quem chegar hoje ao Brasil, após mais de quinze anos, concluirá que o governo realiza o que nenhum conseguiu em tempos democráticos: a unanimidade. E ficará apreensivo, acreditando que o País está sem perspectivas, à beira do abismo, na iminência de dar um passo à frente. 

Não há otimismo em segmento algum da economia, dos setores produtivos às instituições e aos serviços públicos. A criatividade não se manifesta sem desenvolvimento e educação. Ao contrário do que se pensa, sem conhecimento, nada se cria, tudo se perde e tudo se transforma e se traduz na perda de qualidade. 

 
Exemplo cruel: entre a visita do ex-presidente George W. Bush ao Brasil, para conhecer nosso setor sucroalcooleiro e sua empolgação com o que viu e alardeou para o mundo, bastaram pouco mais de dois anos para que o Brasil perdesse para os Estados Unidos a liderança, da produção ao consumo. E perdesse a conquista do mercado externo desse combustível que era só nosso, como alternativa ao petróleo, que era quase todo só deles. Autoridades mais antenadas perceberiam que Bush não veio passear nem se divertir ou aplaudir. Veio para competir – e ganhar.

Uma perda que jamais deve ser creditada às empresas sucroenergéticas ou à esperteza dos americanos, mas à política devastadora, enganosa e fracassada de conter a tarifa da gasolina em detrimento do etanol, para segurar a inflação. 
Conquistou-se a proeza de iludir a sociedade com uma medida que nenhuma cartilha de aritmética ousaria ensinar. Como fazer um produto da livre iniciativa e com preço de mercado concorrer com outro, com tarifas determinadas pelo Poder?

É exibir, sem rodeios, a (má) intenção de fazer este asfixiar o outro. Durou até perceberem que este levaria seus centros de produção à falência, e a inflação não seria domada. O setor produtivo do petróleo tem sua estrutura estatal se esfarelando, enquanto a inflação está de volta. O álcool perdeu seu poder de competição por falta de investimentos, mas, se nada mais nocivo acontecer para atrapalhar, ele renasce, porque é um produto natural, genuinamente brasileiro, à espera de governantes genuinamente brasileiros e competentes.

 
O que acontece com o setor do qual eu participo não é diferente nos demais segmentos produtivos da economia. O peso do Estado impede qualquer perspectiva, qualquer incentivo ao trabalho. Imagine esta aberração, que não vem deste governo, mas desde a primeira metade do século passado: de cada R$ 100,00 que uma usina paga para seu trabalhador rural, ela recolhe cerca de R$ 100,00 em tributos. Quem deixa de ganhar é o lado mais fraco e menos qualificado do mercado de trabalho! 
 
Imagine, de novo, esse dinheiro entregue ao trabalhador. Qual o efeito multiplicador do poder de compra, principalmente no comércio e na indústria, das cidades pequenas e médias? Mas cuidado para não se indignar: qual a situação da nossa Previdência Social e da Saúde Pública que recebe (ou deveria receber) esse dinheiro repassado pelo governo? Por que entidades sindicais e políticos não questionam essa iniquidade?  (A propósito, de quanto é o reajuste dos aposentados neste ano?) 
 
Oportuna a preocupação da Revista Opiniões, quando assinala que “estamos vivendo um momento propício para amadurecer e desenvolver”. E oportuno também é seu desafio: “Mas como?”. O governo precisa saber que ainda estamos vivos, mas graças ao que ainda resta da produtividade e da tecnologia. Sem a educação, não há como modernizá-la e aprimorá-la, o que não se consegue de uma hora para outra. Sem esses dois pilares, como planejar e implantar uma política energética sustentável, com a certeza de que não haverá mudança na regra do jogo no meio do caminho, para atender a interesses alheios à economia? O governo deve intervir o menos possível nas etapas da cadeia produtiva de todos os setores da economia e estimular primordialmente os princípios e os fins: educação e produção. As perspectivas, hoje perdidas, só renascem com a liberdade da iniciativa.