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Marcelino Guedes F. M. Gomes

Diretor de Terminais e Oleodutos da Transpetro

Op-AA-10

Uma visão estratégica do etanol brasileiro para o mercado global

Se o nosso país é sempre lembrado pelo futebol alegre, pelo carnaval, pelas belas praias tropicais, agora também o é pelo fantástico programa de etanol. O número de consultas de diferentes tipos de empresas, visitas de delegações de diversos países e convites para apresentações em eventos internacionais comprovam o grande interesse pelo sucesso do etanol brasileiro.

Os recentes aumentos e flutuações no preço do petróleo, a demanda ambiental por combustíveis mais limpos, a busca de alternativas energéticas para veículos nos países dependentes do petróleo e a experiência de sucesso no Brasil de um grande programa de etanol combustível, contribuem para um cenário plenamente favorável para que o etanol venha a ser o grande parceiro da gasolina nos próximos 30 anos.

Na grande maioria dos países onde a atividade agrícola é representativa para sua economia, pode-se afirmar que os níveis de proteção para os competidores internacionais são elevados. É o que vem acontecendo com o etanol brasileiro, ao tentar desenvolver novos mercados em países como os Estados Unidos, Canadá, membros da Comunidade Européia e outros.

A entrada nestes mercados será sempre dificultada, enquanto a demanda real de etanol for menor ou próxima da capacidade local de suprimento. Contudo, existindo uma grande demanda perante a capacidade de produção local, sem alternativas de produtos similares, a flexibilização das barreiras tarifárias é a saída e a solução para estes países.

Desta forma, o desenvolvimento de uma frota mundial de veículos cada vez mais flex é a garantia de um mercado mais aberto, mais amigável e, conseqüentemente, mais dependente do etanol carburante. O sonho de uma verdadeira fidelização ao etanol está totalmente vinculado a uma frota mundial 100% flexivel. Inicialmente, imaginávamos que o mercado mundial estava olhando para o etanol como um simples substituto do MTBE, mas analisando as iniciativas de diversos governos, a inexistência de diferença de preço final do carro flex, em comparação com o carro convencional, e, conseqüentemente, o lançamento de diversos novos modelos de carros flex em vários países, pode-se afirmar que o futuro do etanol poderá ser muito mais promissor.

A grande estratégia para desenvolver, de fato, o mercado global para o etanol é dar a opção de escolha do tipo de combustível para os consumidores, em todas os continentes de nosso planeta. O grande potencial do crescimento agrícola no Brasil, em comparação com outros países produtores, em função da existência de áreas de dimensões continentais, disponíveis para novos plantios, e todos os demais aspectos favoráveis à agricultura no Brasil, em especial para a cana, podem levar a uma direta conclusão de que estaremos vivenciando, nos próximos anos, um novo grande boom na agricultura no Brasil.

Existem ações que são fundamentais para que o nosso país não perca esta oportunidade de garantir uma liderança neste fantástico mercado do etanol combustível. São elas:

a. Garantia de aumento da produção nacional de etanol carburante, através de programas de financiamento especial para novas unidades energéticas, linhas de crédito para a atividade agrícola de cana-de-açúcar e agilidades nos processos de licenciamento ambiental, junto às entidades governamentais;

b. Investimento em logística na cadeia inteira, com a participação dos diversos segmentos do setor, cobrindo, desde a produção, até o mercado internacional, ou seja, dutos exclusivos e dedicados para o etanol, hidrovias, ferrovias, terminais no Brasil, navios para exportação e terminais no exterior, garantindo, assim, preços mais competitivos, em mercados distantes do Brasil;

c. Criação de um estoque, de preferência no exterior, junto aos potenciais consumidores, para garantir, de fato, o suprimento do mercado internacional, reforçando as garantias aos contratos de exportação e minimizando o vínculo existente da produção de etanol brasileiro, para atender, exclusivamente, o mercado interno;

d. Criação de um grande programa de desenvolvimento tecnológico de etanol, similar ao existente no setor de petróleo, CTPETRO, conclamando os centros de desenvolvimento tecnológico no país, as universidades brasileiras, associações e entidades do setor;

e. Criação de um agressivo programa de promoção comercial do nosso etanol para o mercado internacional, com participação em feiras de energia, petróleo & gás, organização de muitas missões ao exterior, para apresentar, a outros potencias países produtores, o sucesso do programa do etanol brasileiro, visitação às principais montadoras mundiais de automóveis e busca de articulação com entidades ambientalistas internacionais. O sucesso de todas estas ações propostas poderá ser alcançado através de uma articulação política governamental nas diversas entidades governamentais, como: ministérios, agências nacionais, entidades financeiras, bancos de desenvolvimento e empresas de economia mista.   

A saída do Governo Federal do controle do segmento de açúcar e etanol e, conseqüentemente, a eliminação de intervenções no setor foram muito importantes para dar agilidade, agressividade empresarial e liberdade de atuação, contudo é importante, neste momento, em função das diversas iniciativas em muitos estados da união, da magnitude e das diversidades de ações do programa de globalização do etanol brasileiro, uma coordenação única destas diversas iniciativas, desenvolvendo-se, assim, uma inteligência estratégica para este importante segmento da economia nacional.