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Paulo Roberto Gallo

Diretor Presidente da Authomathika

Op-AA-15

Geração de energia elétrica: a próxima fronteira do setor sucroalcooleiro

O Brasil tem sede de energia elétrica. De acordo com dados recentemente divulgados pela Empresa de Pesquisa Energética - EPE, vinculada ao Ministério de Minas e Energia, o consumo global de energia elétrica no Brasil cresceu, em 2007, cerca de 5,4%, quando comparado ao consumo registrado ao longo do ano de 2006.

Estes números estão próximos à expectativa de crescimento econômico do país em 2007, e refletem, certamente, a íntima relação entre crescimento econômico e aumento das demandas por energia elétrica. Muito tem sido dito a respeito da necessidade urgente do Brasil realizar amplos investimentos energéticos, de modo que a crescente demanda de energia possa ser devidamente suprida.

São freqüentes os “sustos”, quando surge a ameaça de uma diminuição no regime de chuvas e, conseqüentemente, a redução do nível de água nos reservatórios das principais usinas hidrelétricas do país, trazendo, de volta, a sombra do apagão energético. Com uma matriz energética fortemente embasada em energia hídrica, é natural que este tipo de preocupação ocorra.

A falta de chuvas no período úmido do ano compromete nossa capacidade de geração de energia elétrica e, considerando a falta de alternativas em escala, acendem-se as luzes de alarme. Porém, ao lado da questão da geração da energia elétrica, é necessário considerar que o sistema deve atender a outras duas necessidades fundamentais: a transmissão e a distribuição da energia produzida.

Mesmo que se façam investimentos no aspecto da geração de energia, estes devem, necessariamente, vir acompanhados de sistemas para a transmissão desta energia e, certamente, também de investimentos em distribuição (seja pela construção de subestações de energia, seja nos investimentos na própria rede elétrica, nos pontos de consumo espalhados por todo o país).

Face à necessidade de diversificação dos meios para geração de energia elétrica, bem como da otimização dos meios disponíveis – no presente e no futuro – da infra-estrutura de transmissão e distribuição, a geração desta energia, a partir de pequenas fontes geradoras, torna-se um movimento natural e estratégico, em busca de se mitigarem os problemas existentes.

Dentre as fontes possíveis de geração de energia, vêm se destacando aquelas que produzem eletricidade a partir de pequenas centrais hidrelétricas; termelétricas, a partir de combustíveis fósseis, como o carvão e o gás natural; a energia eólica, produzida através dos ventos; e energia produzida por centrais termelétricas, baseadas em biomassa como combustível.

Independente da forma com que essa energia seja gerada, o fato de sua origem estar pulverizada em vários pontos do território nacional permite, sem dúvidas, um aproveitamento mais racional das linhas de transmissão e dos pontos de distribuição elétrica. Este fato, por si só, já é um ponto muito atraente na busca da disseminação destas formas alternativas de geração de energia elétrica.

Os empresários do setor sucroalcooleiro, certamente, estão sintonizados com as oportunidades de negócios que se abrem, com a perspectiva da geração de energia elétrica a partir do bagaço de cana, como matéria-prima para o processo. Há alguns anos, o setor passa por um boom de investimentos em novas unidades produtoras, especialmente de álcool, e nossa experiência tem demonstrado que a imensa maioria das novas plantas está surgindo, orientada para a geração de energia elétrica.

Ao discutirmos com investidores a capacidade das novas plantas, estamos acrescentando às perguntas tradicionais, o questionamento sobre a capacidade de geração de energia elétrica e qual a potência planejada para exportação às redes elétricas de transmissão. Estes aspectos estão, efetivamente, se tornando cada vez mais comuns no setor, e trazem outros benefícios colaterais.

A tendência da geração tem propiciado um forte desenvolvimento tecnológico nas plantas produtivas, bem como na cadeia produtiva que atende ao setor. Um dos grandes destaques é o da fabricação de enormes caldeiras, de alta pressão e capacidade de produção de volumes de vapor, em altas temperaturas, consistindo em projetos impensáveis para aplicação no setor, apenas poucos anos atrás.

A pressão de trabalho destas caldeiras saltou dos 21 Kgf/cm2, uma década atrás, para 42, 63 e, recentemente, estão rompendo a barreira dos 100 Kgf/cm2! Esta progressão acarreta novos desafios, devido aos requisitos de materiais, segurança de projeto, design e fatores operacionais, que estão levando a indústria nacional de produção de caldeiras, alimentadas por bagaço de cana, a patamares elevadíssimos.

Os sistemas de auto-mação e controle também vêm se sofisticando significativamente, para poderem ser compatíveis com estas novas necessidades, tanto para o controle das caldeiras em si, quanto para os controles das casas de força; sistemas com redundância de processamento, intertravamentos sofisticados de segurança e interligações a sistemas GPS, para monitoramento das condições de operação e de qualidade da energia gerada, são cada vez mais comuns.

Além disto, a tecnologia e a qualidade dos sistemas de geração, que compreendem turbinas cada vez maiores e mais eficientes, além de geradores cada vez mais potentes e confiáveis, são outro aspecto importante no desenvolvimento tecnológico, que a geração de energia vem impondo ao setor. A intenção dos empresários em investir no tema é clara.

A indústria nacional vem se mostrando à altura das novas necessidades. O grande entrave ora existente, quanto à ampliação na oferta em grande escala desta energia limpa e renovável, talvez seja a questão da política de preços. Embora exista uma forte discussão entre agentes governamentais e a iniciativa privada, não há um consenso sobre quais deveriam ser os níveis de remuneração, pelo MW/hora gerado.

A produção de energia elétrica em escala comercial, por parte das usinas, demanda fortes investimentos, não apenas na geração em si, mas também na ampliação de capacidades de moagem (e conseqüente aumento da oferta de bagaço), além de investimentos em infra-estrutura para a transmissão da energia gerada até as linhas de transmissão disponíveis e, em certos casos, das subestações para a distribuição desta energia.

A expectativa agora é que, para deslanchar definitivamente este tipo de negócio, surja um consenso entre as partes e que, finalmente, uma política de preços de longo prazo possa ser estabelecida, permitindo que os investimentos possam ser efetuados com as devidas possibilidades de retornos, avaliadas de forma consistente pelos possíveis investidores – fazendo com que o Brasil assuma mais uma vez a vanguarda, quando o assunto é bioenergia.