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Jaime Finguerut

Gerente de Desenvolvimento Estratégico do CTC

Op-AA-27

O estado da arte da tecnologia

O processamento de cana-de-açúcar no País é uma atividade madura, que tornou possível ao Brasil ser o segundo maior produtor de etanol e o maior exportador de açúcar e etanol . Essa importante atividade econômica representa hoje quase 2% do PIB, da mesma ordem de grandeza de negócios como a produção de plásticos.

O setor é um grande empregador, com alto grau de formalização, levando oportunidades de emprego e renda ao interior do País. O processo industrial da cana tem crescido em tamanho (quantidade moída por safra e por dia) sem, no entanto, perder eficiência e sem aumentar sua “pegada” ambiental.

Diversas análises do nosso modo de produção feitas tanto pela academia como por órgãos governamentais de outros países atestam a sustentabilidade do nosso negócio, em particular, quando comparado a outros produtos convencionais, como os de origem fóssil. O açúcar brasileiro é a fonte de calorias que ocupa a menor área, usa a menor quantidade de água e gera mais empregos entre os alimentos disponíveis.

Como foi possível chegar a essa situação? Tivemos razões históricas: desde o início, dirigimos esforços à produção de cana-de-açúcar e à exportação da sacarose sob diversas formas. Logo cedo, fomos expostos à concorrência com outras colônias, algumas delas com vantagens econômicas e logísticas e, mesmo assim, nunca fomos responsáveis por menos de 15% do mercado mundial de adoçantes.

Nesses muitos anos, tivemos centenas de crises, catástrofes, novas doenças e pragas e até guerras, e nada disso impediu que continuássemos produzindo de forma competitiva. Aliás, desde o início, a produção foi privada, com variáveis níveis de proteção governamental.

Além das razões históricas, nosso acoplamento ao mercado (externo e interno) nos fez configurar o processo para que ele fosse sempre viável. Por exemplo: temos um dos maiores custos de capital do mundo, o que nos levou à necessidade de aumentar a produção, principalmente através de ganhos de produtividade, ou seja, fazendo cada vez mais com menos.

A mesma moenda, hoje, mói mais do que o dobro de cana – por unidade de peso de equipamento e de energia gasta para sua movimentação – do que no início do Proálcool. O mesmo se passou com a fermentação, os ganhos de produtividade (ganhos de eficiência – mais etanol produzido com o mesmo açúcar – e redução do tempo de fermentação) foram de mais de 100%.

Portanto, frente a uma conjuntura interna desfavorável, a nossa capacidade de atender aos mercados nos fez usar a inovação para evoluir. Nesse sentido, a existência de órgãos de pesquisa e desenvolvimento nacionais, a engenharia nacional – empresas de equipamentos –, e as políticas e incentivos foram fatores de sucesso.

No geral, o resultado é o processo maduro que já citei. Mas o que é um processo maduro? É aquele no qual o custo da matéria-prima é o maior, ou seja, os problemas foram sendo resolvidos, como por exemplo, os gastos com produtos químicos e outros insumos (incluído água), com energia, com manutenção, com disposição de resíduos, com capital (investimentos), sobrando apenas a matéria-prima.

Compare a nossa produção de etanol de cana com a de etanol de milho. A energia (comprada - gás natural - EUA) custa muito caro, utiliza mais enzimas e leveduras, equipamentos enormes de aço inoxidável e tem a necessidade de níveis elevados de limpeza e esterilização, o que nos leva a ver que a produção a partir do milho ainda não está madura.

É exatamente a maturidade de um processo, no qual os ganhos incrementais são cada vez menos atrativos, que permite que inovações radicais sejam necessárias e tenham maior probabilidade de sucesso. Essas inovações radicais, como, por exemplo, o etanol da biomassa celulósica da cana, serão construídas em bases sólidas, instaladas e otimizadas por gente que sabe o que e como fazer, já na escala industrial.

Mais uma vez, compare a possível instalação dessa inovação radical (etanol de frações celulósicas) no Brasil e nos EUA. Guardadas as diferenças de capacidade de investimento em ciência e tecnologia e de suporte à inovação, mas considerando o grau de maturidade e de acoplamento a mercados, onde teremos a maior probabilidade de sucesso? Aqui, com certeza, desde que consigamos instalar a primeira planta em escala industrial. E, a partir dela, “ligaremos” a curva de aprendizado e faremos exatamente o que já sabemos fazer desde o Proálcool. Onde estamos hoje e o que precisamos fazer?

Primeiro, continuar melhorando os nossos processos. Ter robustez (capacidade de atender rápido e bem ao mercado), flexibilidade (produzir mais ou menos de certo produto, dentro de uma “cesta” viável de diferentes produtos) e eficiência (não desperdiçar, pois qualquer perda aqui significa custo e impacto ambiental). Para esses requisitos, pessoas são essenciais.

Precisamos de excelentes operadores, supervisores e gerentes, bem como de assessores, pesquisadores e cientistas, todos “olhando” o processo de perto e com as “mãos na massa”. O processo atual tem de ser absolutamente confiável, controlado de forma antecipatória em função das grandes variações que ocorrerão cada vez mais intensas, devido ao uso de diferentes variedades de cana e da “volatilidade” do clima e da economia.

Segundo, é necessário procurar novos mercados e oportunidades. Podemos substituir o diesel? Sim. Produzir combustível de aviação? Sim. Fazer muitos produtos hoje feitos na petroquímica? Sim. Agregar valor ao nosso adoçante? Sim. E tudo isso ligado à usina atual de forma sinérgica, um processo ajudando o outro, como num organismo. Terceiro, é necessário inovar, procurar soluções radicais, pois, sem riscos, não há avanço real. Para isso, são necessários investidores e um ambiente socioeconômico que permita investimentos. Tudo isso está ao nosso alcance hoje. Façamos, pois, é o que tem de ser feito.