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Leila Luci Dinardo-Miranda

Diretora do Núcleo de P&D do IAC

Op-AA-24

Pragas e nematóides em cana-de-acúcar

Entre as pragas da cana-de-açúcar mais importantes no Brasil, estão a broca Diatraea saccharalis, a cigarrinha-das-raízes Mahanarva fimbriolata e as pragas de solo Migdolus fryanus, Sphenophorus levis. O manejo da broca da cana está baseado na liberação de parasitóides, especialmente da vespinha Cotesia flavipes. Nos últimos anos, entretanto, devido a vários fatores, as populações da broca se elevaram e muitas unidades passaram a utilizar inseticidas. A grande preocupação de muitos é que, por ser de fácil adoção, o controle químico vá, paulatinamente, ganhando espaço e, aos poucos, torne-se a principal ferramenta de controle da broca.

Se isso ocorrer, será de fato lamentável, pois o controle da broca, por meio de liberações de C. flavipes, tem sido adotado no Brasil há anos, com sucesso, e é em exemplo mundial de eficiência de controle biológico. Embora o controle químico seja imprescindível em certas situações, seu uso generalizado no controle da broca é contestável.

A cigarrinha-das-raízes é praga importante no Centro-sul do Brasil e em alguns estados do Nordeste, onde pode reduzir a produtividade em 40-50%, especialmente em canaviais colhidos em final de safra, além de prejudicar  a qualidade da matéria-prima.  Tais prejuízos, entretanto, podem ser reduzidos se o manejo for feito corretamente.

Muitas unidades iniciam o controle com aplicações do fungo Metarhizium anisopliae e, quando estas não são eficientes, empregam inseticidas químicos, que têm muito bom desempenho, mesmo quando as populações são elevadas. Alguns técnicos, entretanto, ainda não perceberam que a praga causa danos econômicos significativos mesmo em populações consideradas baixas (o nível de dano econômico é 3 a 5 insetos/m em canaviais colhidos a partir de setembro), e, por causa disso, adotam medidas de controle mais tardiamente do que o recomendado, com prejuízos nos canaviais afetados.

Entre as pragas de solo, os cupins já tiveram papel mais relevante. O uso de fipronil no plantio, por 3 ou 4 ciclos, por ser muito eficiente, reduziu drasticamente as populações destes insetos. Atualmente, cupins causam danos em áreas bem menores do que as registradas há 20 anos. Apesar disso, muitos produtores usam inseticidas em toda área de plantio, visando unicamente a populações de cupins; muitas destas áreas, com certeza, estão recebendo inseticida sem necessidade.

É urgente que se tome consciência de que as áreas de plantio (socas velhas e áreas de expansão) devem ser amostradas, e inseticidas, aplicados somente onde as populações da praga são suficientes para causar prejuízos econômicos. As larvas de M. fryanus causam sérios danos aos canaviais, por destruírem as raízes e as demais partes subterrâneas da planta.

Em função disso, a produtividade e a longevidade de todo o canavial ficam comprometidos. O manejo envolve várias medidas de controle (destruição mecânica da soqueira infestada, aplicação de inseticidas em profundidade, usando arados de aivecas ou subsolador), todas não muito eficientes, razão pela qual precisam ser utilizadas conjuntamente.

É importante que as reboleiras da praga sejam identificadas e marcadas em mapa, para que as medidas de controle possam ser adotadas por ocasião do plantio na área.  O custo de produção nas áreas infestadas é elevado, mas, sem medidas de controle, é comum a perda da lavoura logo após os primeiros cortes. Até a década de 1980, S. levis estava restrita à região de Piracicaba (SP), mas  espalhou-se por todo estado de São Paulo, norte do Paraná e Minas Gerais, por meio de mudas retiradas de locais infestados.

A praga ainda não foi registrada em Goiás e Mato Grosso, mas é provável que já esteja por lá também, porém, em populações ainda baixas, não suficientes para que o inseto seja observado durante as amostragens. Esta praga é fonte de grande preocupação, porque causa muitos danos e é de difícil controle. Os danos causados pelas larvas, que broqueiam os rizomas, são enormes; sob infestações severas, as touceiras morrem e são observadas muitas falhas no canavial. 

O manejo envolve a destruição mecânica da soqueira infestada e a aplicação de inseticidas no sulco de plantio e/ou nas soqueiras. Apesar de não serem muito eficientes (reduzem as populações em cerca de 70%), os inseticidas tem sido importantes ferramentas no manejo da praga. Os problemas com S. levis tendem a se agravar, pois a praga é  beneficiada pela colheita de cana crua.

Dois fatores contribuem para isso: a ausência do fogo, que poderia matar os adultos, que perambulam pelo solo, e a cobertura de palha, que serve de abrigo a esses adultos que, têm então, sua longevidade ampliada. Em relação aos nematóides, são quatro as espécies importantes no Brasil: Meloidogyne javanica, M. incognita, Pratylenchus zeae e P. brachyurus.

Em áreas de populações elevadas e cultivadas com variedades suscetíveis (quase todas), os nematóides reduzem em até 50% a produtividade, na cana planta e nas soqueiras. Apesar dos danos que causam, de estarem presentes em altas populações em todos os tipos de solo e do retorno econômico que o controle, especialmente com nematicidas, propicia, nematóides são desconsiderados por muitos produtores.

É comum encontrar produtores que aplicam inseticidas em áreas de baixas populações de pragas, mas não usam nematicidas em áreas severamente infestadas por nematóides. Assim, é importante esclarecer os produtores sobre nematóides. Uma abordagem mais bem feita sobre o assunto contribuiria para elevar a produtividade em muitas regiões, sem, entretanto, colocar em risco o ambiente.