Me chame no WhatsApp Agora!

Manoel Vicente Fernandes Bertone

Secretário de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura

Op-AA-25

Parcerias estratégicas

A indústria sucroenergética está diante de um momento especial. Tudo indica que superamos as principais consequências da crise econômica mundial, que nos levou a uma intensificação do processo de consolidação de empresas e trouxe mais equilíbrio às decisões sobre investimentos. O clima de euforia desmedida foi amenizado – embora tenhamos enormes razões para mantermos nosso otimismo sobre as perspectivas do setor –, dado ao potencial dos mercados de açúcar, etanol, cogeração de energia e indústria química.

Podemos dizer que, “da porteira da usina para dentro”, alcançamos níveis de produtividade e eficiência notáveis, com elevado grau de sustentabilidade social, ambiental e econômica, e que permanece em constante e positiva evolução. É também indiscutível a aceitação mundial do produto como um verdadeiro bem ambiental, embora, por razões puramente comerciais, ainda enfrentemos obstáculos a seu consumo nas principais regiões desenvolvidas do planeta.

Esse cenário extremamente promissor, no entanto, não indica a menor possibilidade de nos acomodarmos no cumprimento de nossos objetivos estratégicos. Aumentar a produção e abrir novos mercados gerando melhores oportunidades de desenvolvimento econômico, geração de renda e emprego, com lucratividade empresarial compatível com os riscos assumidos, é um desafio a ser perseguido com empenho.

As unidades produtoras têm alcançado excelente nível de eficiência, mas alguns aspectos devem ser considerados para aprimoramento da cadeia produtiva e o aumento de sua competitividade. Fundamentalmente, as questões de logística e acesso a mercados devem ser consideradas prioritárias. Embora o governo possa, e tem procurado, desempenhar um importante papel nesses pontos, cabe à iniciativa privada a maioria das ações concretas para alcançar seus objetivos nessas questões.

E podemos observar muitas iniciativas promissoras nesse sentido. Associações de empresas que atuam em diferentes segmentos da cadeia produtiva parecem apropriadas e podem ser ampliadas, como a parceria concreta, via participação acionária de empresas do ramo petrolífero em unidades produtoras, que lhes proporciona melhor acesso ao sistema de distribuição, assim como a participação do capital estrangeiro, que pode proporcionar, no futuro, maior facilidade de acesso a potenciais mercados externos.

Da mesma forma, tradicionais empresas de comércio exterior podem participar diretamente da produção e proporcionar melhores condições de comercialização interna e externa, devido à sua experiência em logística e modernos instrumentos de proteção de preços, assim como acesso diferenciado a fontes de financiamento de comércio exterior com taxas de juros hoje mais adequadas ao setor.

A redução de custos das transações comerciais obtidas a partir dessas parcerias proporcionará enorme diferencial competitivo aos grupos assim constituídos. Parcerias estratégicas no sistema de logística de armazenagem, transporte e terminais portuários já estão em andamento e podem ser ampliadas com o apoio de financiamentos a juros compatíveis.

O transporte por meio rodoviário mostra-se insuficiente e caro, exigindo-se a concretização de um adequado sistema de dutos e a melhor utilização do transporte fluvial. Na verdade, nada disso é novidade para o setor, pois ações concretas nesse sentido já se observam com muita nitidez. Mas se torna necessário ampliar essas ações mediante a concretização de bons projetos, para os quais, certamente, haverá o financiamento adequado, pois esses se viabilizam dada sua importância na alteração da estrutura de mercado que hoje ainda prevalece.

Parcerias estratégicas podem ser também o caminho para a questão da cogeração de energia elétrica a partir do bagaço da cana, assim como da pesquisa agrícola e industrial, que nos proporcionará variedades mais adequadas a circunstâncias especiais, novos produtos como o “diesel” de cana, o plástico verde, e novas tecnologias industriais e agrícolas, aí incluído o etanol celulósico.

Na verdade, é impressionante o potencial de novidades na produção de derivados da cana de açúcar, um produto centenário, cujo mercado e cadeia produtiva não param de evoluir, se aprimorar e criar novas oportunidades de negócios e desenvolvimento sustentável. Muitas das ações acima comentadas diminuem a volatilidade dos preços do etanol e do açúcar, um problema que ainda vai preocupar os investidores enquanto não se consolidem instrumentos de comercialização que se encontram em pleno desenvolvimento, como as companhias de comercialização e os contratos da BM&F.

Uma maior flexibilidade na alternância do mix de produção entre açúcar e etanol é também considerada bem vinda, pois os mercados dos dois produtos são igualmente importantes e devem ser adequadamente abastecidos. Assim, é pouco compreensível, embora aceitável para um início de operações, que uma unidade produtora se dedique exclusivamente à produção de etanol e perca eventuais oportunidades no mercado de açúcar.

Evidentemente, temos ainda a questão das ações de políticas públicas, imprescindíveis no estratégico mercado de energia, que se caracteriza como um tema de segurança e soberania nacional. Também aí devemos considerar a importância da aliança estratégica entre iniciativa privada e governo, uma parceria imprescindível para que alcancemos nossos objetivos, o que, felizmente, temos observado nos últimos anos. Temos trilhado o caminho correto. O futuro é absolutamente promissor.